Via verdinha
Ciclovias. Estrasburgo é a capital francesa da bicicleta. Lisboa começou a fazer o seu caminho, mas sem ligações à vista com os concelhos em volta a mobilidade é verbo de encher.
O nome da capital da Europa, para uns, ou da Alsácia para outros, é um modelo de precisão e atualidade. Estrasburgo, escreveu o historiador e filólogo Camille Jullian, radica de Stratae burgus, o burgo da estrada. Hoje, a cidade tem 560 quilómetros de pistas cicláveis e, além das infraestruturas, tem uma população que lhes dá uso: 8% das viagens na área metropolitana são realizadas de bicicleta, número que aumenta para 15% no total das viagens realizadas no centro da cidade. O sistema Vélhop, de aluguer de biclas, permite a um estudante universitário ter um meio de transporte por 40 euros. Não por mês, mas por ano letivo.
Com base nas respostas de mais de cem mil utilizadores das duas rodas, Estrasburgo foi escolhida a cidade francesa com mais de 200 mil habitantes onde é mais fácil andar de bicicleta. No inquérito, cujos resultados foram revelados em março, a cidade ganhou também na qualidade da sinalização.
Por cá, nos últimos anos, a autarquia de Lisboa contrariou a ideia feita de que a cidade com colinas não é dada a bicicletas. E até ao fim de 2018 a rede municipal de mobilidade prevê 200 quilómetros de vias cicláveis.
Menos compreensível é a miopia que as diversas autoridades revelam na ausência de ligações dos concelhos limítrofes à capital. Por exemplo, a linha de Cascais. Uma ciclovia é uma alternativa válida às filas de trânsito na Marginal ou à triste obsolescência do serviço ferroviário. Da estação de Cascais à de Algés contam-se uns 20 quilómetros. Há passeios marítimos, paredões, ciclovias de qualidade variável e até uma ponte ferroviária (na Cruz Quebrada) – um desconchavo. Ao cruzar-se a fronteira do concelho de Oeiras com o de Lisboa a ligação está assegurada até ao Cais do Sodré, embora em vias de qualidade diferente. Será assim tão complexo unir os três concelhos por ciclovia?
Em 2016, o município de Cascais prometeu uma “revolução na mobilidade” assente no sistema de partilha de bicicletas. No entanto, a oferta de meios de transporte do MobiCascais ainda não foi acompanhada por ciclovias (excetua-se a construção de uma entre a Nova SBE e a estação de Carcavelos). E aí – como no resto do país, diga-se – não faltam exemplos de equívocos, como a via entre a marina de Cascais e o Guincho, com troços partilhados com os peões.
Na Grande Lisboa, a ciclovia ainda é uma via verdinha.