Do skate para a programação, à procura de uma vida melhor
Alexandre saiu do Brasil à procura de um futuro melhor. A paixão pelo skate levou-o a Barcelona, mas os laços de sangue trouxeram-no para Portugal. Um susto de saúde levou a Santa Casa a ajudá-lo. Está na Academia de Código, sediada na Casa do Impacto.
Alexandre Vaz saiu do Brasil há pouco mais de um ano. A sua paixão pelo skate levou-o até Barcelona, onde viveu durante nove meses. A dificuldade em conseguir emprego levou-o até à Holanda, mas três meses depois decidiu rumar a Lisboa, à procura das raízes e da nacionalidade (por via do avô português). Foi também aqui que encontrou uma oportunidade profissional mais promissora.
O jovem de 28 anos frequenta um curso de programação, na Academia de Código, uma das startups de empreendedorismo social integradas na Casa do Impacto, que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa vai inaugurar nesta segunda-feira. Neste espaço, o jovem brasileiro está a aprender a programar. Uma linguagem próxima daquela que aprendeu com as suas formações do nível secundário e superior na área da informática.
E se agora Alexandre vê uma luz ao fundo do túnel e tem a expectativa de conseguir trabalho “numa boa empresa”, nem tudo foi simples no seu percurso. Atrás do sonho do skate “O Brasil está muito perigoso e o custo de vida está muito caro. É muito difícil trabalhar e conquistar as suas coisas.” Foi este diagnóstico do seu país que começou a criar em Alexandre a vontade de sair. Na hora de escolher o destino, o jovem de Belo Horizonte lembrou-se do sonho de criança. “Desde criança, quando comecei a andar de skate, sempre tive o sonho de conhecer Barcelona, que é como uma capital mundial do skate.”
Foram nove meses em que “estava tudo ótimo”, não fosse a dificuldade em conseguir emprego. Apesar de Alexandre ter aprendido rapidamente o castelhano, sentiu sempre que a aceitação “era diferente” e que teria aí uma barreira difícil de transpor.
À procura de conseguir a nacionalidade portuguesa, Alexandre acabou em Lisboa. Veio para buscar a certidão de nascimento do avô, natural de Paço de Sousa (Penafiel), e está a finalizar o processo para ser também ele português.
Mas se em Lisboa até nem teve dificuldade em arranjar emprego – em restaurantes, trabalho que conseguiu ao fim de duas semanas em Portugal –, acabou por ser a saúde a pregar-lhe uma partida.
A 3 de junho sofreu um colapso pulmonar, teve de fazer uma cirurgia que o levou a uma semana de internamento e ficou obrigado a repouso absoluto durante dois meses, sem exposição a ambientes de fumo ou pó. E sem poder andar de avião por causa da pressão. Foi aí que conheceu pela primeira vez o trabalho da Santa Casa.
“Fiquei sem saber o que fazer e pedi ajuda à Santa Casa, através da assistente social do hospital.” Foi nesse apoio que as técnicas ficaram a perceber que Alexandre tinha estudado informática no ensino secundário e frequentado o ensino superior nessa área também. Viram ainda que estava a estudar programação em casa, sozinho, e lembraram-se de que iria começar um curso na Academia de Código. Alexandre é agora um dos participantes no curso intensivo de 14 semanas (três meses) que
a Academia de Código está a levar a cabo, já nas instalações da Casa do Impacto, no Convento de São Pedro de Alcântara. “Não esperava estar a estudar num curso de programação, que é realmente um curso muito bom, que está a mudar a minha vida.”
Os dados das formações anteriores – a Academia de Código já fez um primeiro boot camp e está agora no segundo – apontam para uma taxa de empregabilidade depois do curso de 96%, com um salário médio de 960 euros. Dados que deixam Alexandre, ou o Grilo, como é conhecido pelos amigos, muito animado. Numa primeira fase quer ficar por Lisboa e arranjar emprego, embora não resista a admitir que gostaria ainda de morar noutros países e conhecer muitos mais.
Com colegas de várias nacionalidades na sala – portugueses, mais dois brasileiros, um colombiano, uma holandesa, uma inglesa e um canadiano –, Alexandre aproveita para aprender outras línguas. Conhecimentos que junta ao que aprende no projeto SPEAK, outra startup integrada na Casa do Impacto, e que tem por objetivo juntar pessoas de várias nacionalidades, dispostas a ensinar a sua língua a quem quer aprender. Alexandre aprende inglês, a língua materna da programação, e reconhece estar “bem melhor”. Inovação social sob o mesmo teto A Academia de Código e a SPEAK são apenas duas das startups de empreendedorismo e inovação social que vão integrar a Casa do Impacto, inaugurada nesta segunda-feira pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, em parceria com a Câmara de Lisboa, o Montepio, a Fundação Calouste Gulbenkian, o Portugal Inovação Social e a Fundação Aga Khan. Com uma apresentação jovem e irreverente, a Casa quer também fazer isso nas formações e oportunidades que vai oferecer.
“Queremos dar uma resposta diferente da que normalmente a Santa Casa da Misericórdia dá”, sublinha Nuno Cabaço, da equipa da Casa do Impacto. “Às pessoas desempregadas, [a Santa Casa] por norma daria, além do apoio comunitário e social, uma oferta de cursos na cozinha, bate-chapas, assim umas coisas mais tradicionais. Agora com novos públicos, procuramos dar novas respostas sociais que se adaptem, não substituindo as anteriores, mas apenas alargando o leque de opções”, descreve o responsável.
Foi essa diversidade que Alexandre encontrou quando pediu apoio à Santa Casa depois da cirurgia. E não podia estar mais entusiasmado em relação à formação: “Só escuto recomendações ótimas, de amigos e pessoas que estudaram aqui, parece que o curso é superótimo e que toda a gente está a dar-se bem.”
Uma sorte que Alexandre procura também para si, já que vê os seus colegas a ter “uma aprovação muito boa”, apesar da concorrência.
Fora dos planos, para já, está o regresso ao Brasil. “Penso ir visitar a família, mas não tenho ainda planos e acredito que vai tardar um bom tempo.” Por agora, Alexandre está focado em olhar para um futuro que ainda lhe dê a conhecer muitas culturas diferentes.
Alexandre fez o ensino secundário na área de informática e ainda chegou a frequentar a mesma área no ensino superior, no Brasil. A Academia de Código tem 96% de empregabilidade e os seus alunos recebem em média 960 euros mensais.