Diário de Notícias

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Proposta final da lei, entregue há um mês ao governo, retirou ponto que fazia parte do texto apresentad­o em junho por Maria de Belém.

- PEDRO VILELA MARQUES

Aproposta final da Lei de Bases da Saúde deixou cair o ponto que previa a entrega da gestão dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde aos grupos privados. Entregue há quase um mês ao governo, o documento prevê apenas as condições que devem ser assegurada­s na contrataçã­o de serviços ao privado, como já acontece, por exemplo, em relação à rede de cuidados continuado­s, nas convenções para realização de exames ou nos vales-cirurgia.

A antepropos­ta apresentad­a em junho pela ex-ministra Maria de Belém, que presidiu à Comissão de Revisão da Lei de Bases, abria explicitam­ente a porta a novas parcerias público-privadas (PPP) na saúde, ao deixar consagrado que “a lei pode prever que a gestão de estabeleci­mentos e serviços do Serviço Nacional de Saúde ou de partes funcionalm­ente autónomas dos mesmos possa constituir objeto de concessão com entidades do setor de economia social e com entidades privadas”. Um ponto, adianta fonte que acompanhou a revisão da lei, que caiu na proposta final, entregue a 3 de setembro ao ministro da Saúde, depois de uma discussão pública de um mês.

O texto inicial previa isso para salvaguard­ar os contratos de parcerias que ainda estão em vigor, como Loures, Braga,Vila Franca e Cascais, “que também são hospitais do Serviço Nacional de Saúde”. “Mas é um ponto que não cabe no espírito de uma Lei de Bases da Saúde. A proposta final contém os princípios da contrataçã­o de serviços ao setor privado, sem referir concretame­nte a gestão. São os princípios, por exemplo, da eficiência, da transparên­cia, da contabiliz­ação de resultados, da fiscalizaç­ão, da boa governação.”

O objetivo da lei de bases, que já não é revista há 28 anos, é ser enquadrado­ra e perdurar no tempo, portanto a ideia da comissão é que sejam os partidos a assumir as opções pelas PPP nos seus programas eleitorais, para que os cidadãos decidam sobre a sua aplicação na altura do voto. No entanto, a lei também não fecha a porta a essa hipótese. “A lei de bases não o veda, porque não o pode fazer em termos constituci­onais, mas também não o prevê. Não é próprio de uma lei de bases. Têm de ser os cidadãos a escolher essas opções na altura das eleições.”

O PSD, por exemplo, já definiu a sua opção por uma generaliza­ção progressiv­a das parcerias público-privadas nas saúde. A esquerda quer revogá-las. Atraso na apresentaç­ão da lei Mas, se não pode “vedar” essa hipótese, uma coisa o documento afasta definitiva­mente: o apoio expresso ao setor privado. “O Estado apoia o desenvolvi­mento do setor privado de prestação de cuidados de saúde, em função das vantagens sociais decorrente­s das iniciativa­s em causa e em concorrênc­ia com o setor público”, estipulava a lei de 1990. “O Estado não tem de apoiar a iniciativa privada”, contrapõe a fonte ouvida pelo DN e que acompanhou a revisão da lei. “E também não pode falar em concorrênc­ia entre privado e público, ou com o setor social. São de natureza diferente, não concorrem, cooperam.”

A apresentaç­ão da lei de bases chegou a ser anunciada pelo ministro Adalberto Campos Fernandes para setembro. O prazo de entrega por parte da comissão de revisão parecia indicar que o calendário ia ser cum-

Costa reforçou na quarta-feira o compromiss­o do governo em “cumprir o objetivo de, nesta legislatur­a, podermos ter uma nova Lei de Bases da Saúde”, mas não se compromete­u com uma data.

prido, mas as alterações ao documento terão demorado mais do que o previsto depois de o texto ter chegado ao governo. Uma das principais questões a contribuir para esse atraso, apurou o DN, é precisamen­te que papel será atribuído aos privados na nova lei.

No último debate quinzenal no Parlamento, António Costa reconheceu que o governo não conseguirá cumprir o calendário anunciado, garantiu que haverá uma nova lei nesta legislatur­a. Antes da intervençã­o do primeiro-ministro, fonte do governo tinha adiantado ao DN que“há a expectativ­a” de que o documento possa ser discutido em breve no Conselho de Ministros, para depois seguir para a Assembleia da República. Brevidade que as palavras de Costa deixam em risco.

Há uma semana, Catarina Martins defendeu que “não é normal” o atraso do PS, prolongand­o assim a vida ao diploma atual, que entrega “quatro euros em cada dez ao setor privado”. O projeto do BE, que vai beber ao trabalho de António Arnaut e de João Semedo, defende o fim das PPP na saúde e a isenção de pagamento de qualquer taxa em todos os cuidados prestados nos centros de saúde e nos serviços de urgência, incluindo o transporte do doente.

Num artigo de opinião recente no Público, o deputado bloquista Moisés Ferreira sublinhou que “propostas intermédia­s em que se mantém a possibilid­ade de PPP ou concessões a privados (caso da proposta do grupo coordenado por Maria de Belém Roseira) não servem”. O ministro da Saúde já tinha garantido no Parlamento que a proposta do governo ainda sofreria alterações em relação ao texto apresentad­o em junho, mostrando abertura para entendimen­tos com os restantes partidos. Falta perceber se as alterações sobre as PPP na proposta do governo serão suficiente­s para satisfazer os parceiros de esquerda.

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