A direita da sociedade aberta (2)
Tenho defendido que a direita só pode vencer política, cultural e mediaticamente a esquerda se conseguir liderar o debate político, surgindo como proposta inspiradora, positiva. Acredito pouco no sucesso de uma direita que se limita a ser contraproposta reativa, amuada, por vezes irrefletida, àquilo que é dito pela esquerda. Essa proposta, também já o disse, deve passar por uma resposta clara à grande questão do tempo veloz em que vivemos, aquela que mais condiciona as políticas públicas e que mais receio provoca na sociedade: como reagimos ao novo, ao estrangeiro, ao que nos desafia, ao que concorre connosco?
Se a esquerda tem optado por negar ou ignorar a mudança, fingindo que nada se passa ou que tudo se pode evitar com leis, a direita deve surgir como a proposta que aceita e percebe a mudança, preparada para ajudar pessoas e empresas a superar os desafios, a aproveitar as oportunidades e a evitar os riscos. A esquerda, deve presumir-se, representará o passado, incapaz de perceber o mundo.
A direita deve assumir o mundo global, concorrencial, com liberdades de circulação, como o melhor enquadramento para o progresso, nunca desistindo de evidenciar os avanços históricos das últimas décadas. Isso não significa que deva negar a existência de setores vulneráveis, a que se tem chamado de vencidos. Pelo contrário, a direita deve ser a primeira a dar-lhes resposta, demonstrando que a mudança, sendo imparável, não é incompatível com políticas de apetrechamento e rede de segurança de todos. Assim, a proposta da direita deve dirigir-se tanto aos setores mais dinâmicos como aos mais vulneráveis da sociedade.
Aos setores mais dinâmicos, deve propor liberdade económica, saindo da frente de todos aqueles, pessoas, empresas, universidades, associações, que querem fazer pela vida, experimentar, crescer. O Estado não pode condicionar estes setores, nem mesmo fazendo-se passar por parceiro, até pela simples razão de que o Estado não sabe, porque não tem os incentivos para isso, o que está em jogo na vida dos que querem fazer por si.
Em que é isso se traduz? Muito sinteticamente, até porque já aqui falei disso: reforço radical dos direitos de propriedade; mecanismos ágeis de justiça e cumprimento de contratos; império da lei; carga fiscal pensada para o crescimento da economia; controlo estrutural da despesa; integral liberdade para fazer negócios sem depender do Estado; liberdade para inovar e ameaçar as empresas e negócios existentes; abertura do mercado a empresas, a pessoas, a bens e serviços; regulação independente e atuante; avaliação do desempenho do Estado com critérios de eficiência e utilidade.
Aos setores mais vulneráveis, aqueles que não estão preparados para a mudança, a direita deve propor soluções tendentes à sua reconversão e adaptação, criando condições para que cada pessoa, família ou empresa transite para a nova economia e para os novos desafios com os apetrechos necessários. Estes setores não podem ficar sem resposta, mas uma resposta que os posicione enquanto parte integrante da mudança.
Em que é que isso se traduz? Muito sinteticamente: reforma profunda nos conteúdos e métodos na educação e formação profissional de desempregados, trabalhadores e empresários; revisão dos enquadramentos laborais, adaptando-os a novas modalidades e criando proteções quando necessário; mitigação substancial da discriminação dos trabalhadores independentes; adaptar o modelo previdencial aos riscos e oportunidades da nova economia.
Se a direita não quiser ir por aqui, optando pela polarização radical do debate político, assumindo-se como uma espécie de contraesquerda ou contrapondo com um qualquer identitarismo mas à direita, estará a perder uma histórica oportunidade.