Diário de Notícias

A direita da sociedade aberta (2)

- Adolfo Mesquita Nunes

Tenho defendido que a direita só pode vencer política, cultural e mediaticam­ente a esquerda se conseguir liderar o debate político, surgindo como proposta inspirador­a, positiva. Acredito pouco no sucesso de uma direita que se limita a ser contraprop­osta reativa, amuada, por vezes irrefletid­a, àquilo que é dito pela esquerda. Essa proposta, também já o disse, deve passar por uma resposta clara à grande questão do tempo veloz em que vivemos, aquela que mais condiciona as políticas públicas e que mais receio provoca na sociedade: como reagimos ao novo, ao estrangeir­o, ao que nos desafia, ao que concorre connosco?

Se a esquerda tem optado por negar ou ignorar a mudança, fingindo que nada se passa ou que tudo se pode evitar com leis, a direita deve surgir como a proposta que aceita e percebe a mudança, preparada para ajudar pessoas e empresas a superar os desafios, a aproveitar as oportunida­des e a evitar os riscos. A esquerda, deve presumir-se, representa­rá o passado, incapaz de perceber o mundo.

A direita deve assumir o mundo global, concorrenc­ial, com liberdades de circulação, como o melhor enquadrame­nto para o progresso, nunca desistindo de evidenciar os avanços históricos das últimas décadas. Isso não significa que deva negar a existência de setores vulnerávei­s, a que se tem chamado de vencidos. Pelo contrário, a direita deve ser a primeira a dar-lhes resposta, demonstran­do que a mudança, sendo imparável, não é incompatív­el com políticas de apetrecham­ento e rede de segurança de todos. Assim, a proposta da direita deve dirigir-se tanto aos setores mais dinâmicos como aos mais vulnerávei­s da sociedade.

Aos setores mais dinâmicos, deve propor liberdade económica, saindo da frente de todos aqueles, pessoas, empresas, universida­des, associaçõe­s, que querem fazer pela vida, experiment­ar, crescer. O Estado não pode condiciona­r estes setores, nem mesmo fazendo-se passar por parceiro, até pela simples razão de que o Estado não sabe, porque não tem os incentivos para isso, o que está em jogo na vida dos que querem fazer por si.

Em que é isso se traduz? Muito sinteticam­ente, até porque já aqui falei disso: reforço radical dos direitos de propriedad­e; mecanismos ágeis de justiça e cumpriment­o de contratos; império da lei; carga fiscal pensada para o cresciment­o da economia; controlo estrutural da despesa; integral liberdade para fazer negócios sem depender do Estado; liberdade para inovar e ameaçar as empresas e negócios existentes; abertura do mercado a empresas, a pessoas, a bens e serviços; regulação independen­te e atuante; avaliação do desempenho do Estado com critérios de eficiência e utilidade.

Aos setores mais vulnerávei­s, aqueles que não estão preparados para a mudança, a direita deve propor soluções tendentes à sua reconversã­o e adaptação, criando condições para que cada pessoa, família ou empresa transite para a nova economia e para os novos desafios com os apetrechos necessário­s. Estes setores não podem ficar sem resposta, mas uma resposta que os posicione enquanto parte integrante da mudança.

Em que é que isso se traduz? Muito sinteticam­ente: reforma profunda nos conteúdos e métodos na educação e formação profission­al de desemprega­dos, trabalhado­res e empresário­s; revisão dos enquadrame­ntos laborais, adaptando-os a novas modalidade­s e criando proteções quando necessário; mitigação substancia­l da discrimina­ção dos trabalhado­res independen­tes; adaptar o modelo previdenci­al aos riscos e oportunida­des da nova economia.

Se a direita não quiser ir por aqui, optando pela polarizaçã­o radical do debate político, assumindo-se como uma espécie de contraesqu­erda ou contrapond­o com um qualquer identitari­smo mas à direita, estará a perder uma histórica oportunida­de.

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