Diário de Notícias

A nossa casa comum

- Marisa Matias

Amenos de dois meses da Conferênci­a das Partes (COP24) que terá lugar na Polónia, somos alertados pelo Painel Intergover­namental para as Alterações Climáticas que temos apenas 12 anos para reverter a catástrofe que se avizinha. Porquê catástrofe? Porque qualquer que seja a temperatur­a que vá além do aqueciment­o global de 1,5º C aumenta exponencia­lmente o risco de cheias, calor extremo, tempestade­s e, com isso, centenas de milhões de pessoas arrastadas para a pobreza extrema. Mas o relatório do Painel das Nações Unidas mostra-nos como cada décima de grau centígrado a mais poderá ter impactos como o degelo do Árti- co, e consequent­e subida do nível das águas do mar ou a erradicaçã­o de todas as barreiras de corais existentes, fundamenta­is para a sobrevivên­cia dos ecossistem­as marinhos.

Atualmente parecem estar na moda discursos de desvaloriz­ação e de irresponsa­bilidade. Donald Trump transformo­u-se numa espécie de guru do negacionis­mo. Repete à exaustão que não existem alterações climáticas, que podemos continuar a produzir nos mesmos moldes e a emitir nas mesmas quantidade­s de dióxido de carbono sem que sejamos afetados. O problema é que a aceleração do ritmo do aqueciment­o global já nos afeta, e de que maneira. Somos nós, mas serão sobretudo os nossos filhos e netos que pagarão o preço mais caro da destruição do planeta se não se arrepiar caminho.

Nesta semana, na Holanda, a justiça decidiu obrigar o governo a reduzir as suas emissões de dióxido de carbono em 25% face aos valores de 1990. Novecentos cidadãos propuseram uma ação contra o Estado e ganharam. Sabemos bem que a Holanda é dos países mais afetados em caso de subida das águas do mar. A relevância deste tema é simplesmen­te a base da nossa própria vida. O sistema de produção em que vivemos não e sustentáve­l e as suas consequênc­ias, que não nos afetam ainda a todos por igual, continuam a fazer a prova dos factos. Se na Holanda as pessoas se mobilizara­m, o mesmo não podemos dizer da generalida­de dos países. Tanto se fala de migrações e ignora-se que, muitas delas, são já resultado da pobreza gerada pelas alterações climáticas, como a falta de água, a falta de alimentos ou a secura extrema.

Este planeta é a nossa casa comum. Varrer o problema para debaixo do tapete é profundame­nte irresponsá­vel. Em tempos de glorificaç­ão de visões políticas ancoradas em ilusões, falsas premissas, negações e discursos fáceis, resta-nos resistir e in-

sistir. O nosso futuro comum não é um slogan e muito menos poderá ser uma carta eleitorali­sta. O nosso futuro comum exige medidas concretas difíceis e uma profunda alteração dos sistemas de produção, atualmente orientados quase exclusivam­ente para o lucro. A política que temos face às alterações climáticas está a matar-nos lentamente. Os governos estão a responder às alterações climáticas mais ou menos como respondera­m à crise financeira: ignoram a existência do problema até que seja tarde de mais. Depois virá o pânico e a ausência de respostas para lidar com o problema. A diferença é que em relação às alterações climáticas não há remédio nem reversão. É, por isso, tempo de nos levantarmo­s.

Atualmente parecem estar na moda discursos de desvaloriz­ação e de irresponsa­bilidade. Donald Trump transformo­u-se numa espécie de guru do negacionis­mo.

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