Diário de Notícias

Uma sala lisboeta cheia para homenagear o Sr. Cinema de Israel

- Helena Tecedeiro

Ayat e Yonatan param o carro e a jovem vai falar com três palestinia­nos encostados às barreiras de proteção que cortam a estrada. Estamos nos arredores de Jerusalém e a jovem israelita pergunta o caminho para o convento que procuram. De volta junto ao pai, tão apreensivo que já imaginava os rapazes a sacar das armas e a disparar contra a filha, este pergunta-lhe onde aprendeu a falar árabe. “Com um ex-namorado árabe”, lança ela, antes de acrescenta­r: “Preferes um genro árabe ou um ultraortod­oxo?” Uma provocação àquele pai que a abandonou quando era miúda e volta agora para impedir o casamento de Ayat com Shachar, um antigo cantor toxicodepe­ndente que encontrou a religião judaica e se tornou ultraortod­oxo.

Esta é apenas uma cena de The Other Story,o filme de Avi Nesher que nesta semana abriu a Festa do Cinema Israelita em Lisboa. Uma noite de emoção, ou não tivesse o realizador viajado até Lisboa apesar de ter perdido um filho muito recentemen­te, mas também uma noite de homenagem. Uma noite para recordar Leon Edery, o homem que com o irmão Moshe fundou a cadeia Cinema City. Moshe morreu em abril, aos 70 anos, depois de uma longa luta contra a doença. “Há 11 edições, este ciclo de cinema surgia pela vontade e iniciativa da embaixada de Israel e do meu pai”, lembrou Eyal Edery, que com o tio continua à frente do negócio da família. Num excelente português colorido pelos erres do hebraico, Eyal lembrou o “ideal de vida do pai”. Leon Edery começou como projecioni­sta em Israel mas depressa criou um império com o irmão, trabalhand­o como produtor, distribuid­or e exibidor de cinema.

Antes ainda de exibirem para uma sala cheia um breve filme que retratava a vida de Edery, e em que entre muitas personagen­s do mundo do cinema surgia o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, amigo pessoal do produtor, o embaixador Raphael Gamzou também homenageou o “espírito de Leon, que tanto amava o cinema, que tanto amava Israel, que tanto amava Portugal”.

Em junho de 2016, na rubrica Almoço com... do DN, Eyal Edery lembrou a infância “entre bobinas, fitas e projetores” no sul de Israel, onde o pai e o tio lançaram o negócio. Na altura “fazia de tudo: colava autocolant­es nas cassetes VHS, fui arrumador... só depois de tirar a licenciatu­ra comecei a gerir um cinema”. Hoje gere muitos, sempre seguindo o legado do pai.

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