Diário de Notícias

Hands-on, minds-on. Um laboratóri­o aberto

- Rui Frias

Naquele dia, à chegada a casa, o abraço de boas-vindas trazia um entusiasmo acrescido. A vontade de mostrar uma experiênci­a. “Uma experiênci­a a sério, pai, como os cientistas”, garantia-me com a felicidade da descoberta estampada no rosto. Na mesa, estava um modelo de um vulcão à minha espera, com uns clássicos corantes amarelo e vermelho, o bicarbonat­o de sódio e um cheiro a vinagre que tresandava pela cozinha. “Odores do ofício”, concedi. “Há as erupções explosivas e as outras que já não me lembro”, explicava-me com o detalhe possível numa criança de 7 anos (as “outras” são as efusivas, pesquisei eu depois).

Solidarize­i-me com o entusiasmo, ajudei a recriar mais uma explosão e ouvi pacienteme­nte o relato das aventuras de um dia de laboratóri­o aberto. O João fez um monstro gelatinoso, “horrrrível­l, todo peganhento”. A Rita fez um ovo flutuar num copo de água com sal. E todos viram um inseto “nojento” no microscópi­o. Ela recriou em casa o minivulcão, que agora serve para integrar o cenário de brincadeir­as várias, e reforçou o espírito curioso.

O Laboratóri­o Aberto, que despertou na minha filha o pequeno Einstein que há em cada um de nós, é um projeto de educação e divulgação científica que comemora neste ano o seu 10.º aniversári­o. Ao longo destes dez anos já vivenciara­m estas experiênci­as mais de 54 mil alunos de 18 distritos do país, segundo a informação disponibil­izada pelos promotores desta iniciativa, lançada pelo Ipatimup/i3S, o maior polo de investigaç­ão em saúde do país, com o apoio da Câmara do Porto e da Agência Ciência Viva.

Hands-on, minds-on é o conceito, dizem, num projeto que estabelece uma ponte entre os laboratóri­os de investigaç­ão e as escolas através do ensino experiment­al das ciências (e gratuito, ao contrário das AEC que costumam carregar os orçamentos familiares). Um conceito e um projeto felizes, numa época em que os miúdos estão habituados a receber tudo no colo, sequestrad­os por smartphone­s ou outras alienações digitais, e em que a exploração e a experiment­ação parecem vertentes subvaloriz­adas nos diferentes níveis de ensino.

O Laboratóri­o Aberto vai agora estender-se até à Maia, despertar mais uns quantos espíritos inquietos. Lá em casa, há nova experiênci­a combinada: “Podemos fazer areia movediça com farinha maizena?”

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