Diário de Notícias

“Vejo o surf feminino português com muito nível”

A surfista sagrou-se campeã nacional pela primeira vez

- PEDRO MIGUEL NEVES

Conquistou neste ano o seu primeiro título nacional depois de quatro anos como vice-campeã. Qual foi a diferença neste ano?

Foi um passo atrás do outro, sem grandes truques, apenas uma enorme vontade de vencer. Fiz alguns bons resultados no início do ano, em particular o primeiro lugar na Ericeira. Depois, as coisas correram um pouco mal no Porto, mas foi um abrir de olhos que me fez perceber que sim, queria ser campeã e ajudou a que tudo corresse melhor e vencesse o título em Aveiro.

Que balanço faz desta temporada da Liga? Correu como esperava? O que mudaria se estivesse na organizaçã­o?

Temos uma Liga superforte, com um nível cada vez mais alto, uma organizaçã­o sempre mais profission­al e um sistema que nos prepara muito bem para as competiçõe­s internacio­nais, que tem ajudado a ter melhores resultados lá fora. A única melhoria que concebo era, um dia, como já fazem na WSL, termos um prize money igual ou, pelo menos, mais parecido com os dos homens. Penso que o nosso nível já merecia e é um passo importante para crescermos.

E internacio­nalmente cumpriu os objetivos?

O QS ainda não acabou, por isso ainda vou fazer mais duas ou três etapas. Vou ao Japão fazer um QS 3000, uma etapa no Chile e ainda um 6000 na Austrália, etapas importante­s

“A única melhoria era um dia termos um prize money igual ou parecido com os dos homens.”

que podem fazer-me subir no ranking. Penso que cada etapa conta para tentar fazer um resultado bom e, se calhar para o ano, lutar por um lugar no CT.

Neste anojá conseguiu um bom terceironu­m Q S 1500 em Espanha ...

Sim, fiz algumas boas prestações. Estou a cometer menos erros e a encarar as provas passo a passo, como na Liga. Acredito que seja uma questão de ajustar pormenores e um dia [a qualificaç­ão para o CT] há de sair. É uma questão de continuar a trabalhar e um dia há de sair.

Foi campeã mas na última etapa perdeu contra Yolanda Sequeira. Houve alguma descompres­são da sua parte?

Não, vejo cada etapa como um objetivo novo. Estava relaxada e estava mais tranquila, e talvez devesse estar mais focada, mas a Yolanda teve todo o mérito, fez-nos a vida difícil e já merecia uma etapa.

Há dias, em entrevista ao DN, Yolanda Sequeira disse que “poucos países têm uma representa­ção feminina no QS como Portugal”. Sente que isso é um reflexo real da saúde do surf feminino no nosso país? Ou o topo e a base são coisas muito diferentes?

Sinceramen­te, vejo o surf feminino português com muito nível. Temos todas as hipóteses de chegar ao CT e só faltam alguns pormenores para dar o salto que, por exemplo, o Kikas deu. É verdade que podia haver mais surfistas a fazer o circuito, ainda há muito para crescer, comparando com a Austrália, por exemplo. No feminino, ainda temos um grande fosso entre o surf nacional e o internacio­nal.

Acha que o investimen­to por parte das marcas no surf feminino em Portugal é adequado aos vossos objetivos?

Infelizmen­te, ainda há pouco. O que gastamos por ano ainda não é coberto. Toda a gente, federação, patrocinad­ores e outros agentes da modalidade, tem de apostar mais em nós.

O que falta? Os surfistas em Portugal investem pouco no seu próprio marketing?

Acho que toda a gente tem de fazer mais para haver retorno, mas temos toda a base para fazermos isso, com mais resultados, mais viagens. Para ter um surfista no CT e nas capas das revistas precisamos todos de investir.

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