Rio vai mais para o terreno a partir de janeiro
Guerra no PSD. A preparação das eleições europeias dão uma folga ao líder do partido na guerra interna à sua liderança. Conselho nacional da semana passada já deu sinal de acalmia, mesmo que temporária.
Ter um partido com 20% nas legislativas e uma derrota pesada nas europeias pode derrubar Rui Rio, mas também é muito mau para o senhor que se seguirá no partido.” A frase é de um destacado militante do PSD que garante ser esse o sentimento de muitos militantes que têm revelado desconforto com o ataque interno permanente à direção do partido. O que, na sua opinião, está a fazer abrandar, mesmo que temporariamente, as investidas contra Rio.
A partir de janeiro, no arranque do ano dos grandes desafios eleitorais – europeias, legislativas e regionais da Madeira –, Rui Rio aproveita a folga na oposição interna e vai intensificar a presença no terreno. Não só no partido, pois até já andou num périplo pelas distritais, mas sobretudo no país, disse ao DN uma fonte da direção do partido. E com um discurso mais incisivo contra a política do governo.
Mudança de estratégia de Rui Rio? Nem tanto. “Rui Rio não é de ir ajustando a sua estratégia ao sabor dos acontecimentos ou do ritmo dos opositores. Ele tem os passos planeados que vai dar até às eleições”, garante a mesma fonte. Mas o próprio líder social-democrata verbalizou no conselho nacional da última quarta-feira que o “tempo é o melhor aliado” da sua estratégia, que passa por apontar os verdadeiros erros do governo e indicar uma alternativa credível. A degradação dos serviços públicos, em particular o que diz respeito ao Serviço Nacional de Saúde, vai ser uma linha de ataque ao executivo liderado por António Costa, apurou o DN. O líder social-democrata vai aguardar mais algum tempo para anunciar o cabeça-de-lista às eleições europeias – que fontes do PSD continuam a garantir ao DN que será o eurodeputado Paulo Rangel, apesar de outros nomes correrem nos bastidores como hipóteses – o que lhe permitirá manter o foco nas iniciativas que promover até mais perto das eleições.
No conselho nacional, que ao contrário dos anteriores foi muito mais tranquilo para a direção do partido, Rio até admitiu que esta estratégia poderá sofrer várias derrotas, mas manifestou-se convicto de que os portugueses acabarão por aderir ao que defende. “Rio teve uma intervenção muito mobilizadora, só lhe faltou ter uma mensagem que saísse do conselho nacional para os jornais”, diz um conselheiro nacional que lhe é próximo.
E depois de Rio ter enfrentado praticamente sozinho os ataques dos críticos, a sua direção concertou posições no sentido de apelar à união do partido, com o aviso à navegação de que de outro modo quem sofrerá a erosão é o próprio PSD.
O vice-presidente Nuno Morais Sarmento, um dos mais discretos nos últimos meses, falou aos jornalistas durante a reunião do CN, que classificou de “manifestação de maturidade e entusiasmo” e em que disse ter sido reconhecida a necessidade de todos remarem na mesma direção. Nota dissonante em relação ao líder foi apenas a de não admitir “várias derrotas” como possíveis. “É para 2019 que estamos a trabalhar e é em 2019 que queremos ganhar”, afirmou o vice-presidente.
Antes dele, ao Público e à Renascença, outro vice-presidente, Manuel Castro Almeida, apelou a tréguas e acenou com o fantasma do “suicídio coletivo” se o PSD persistir em guerras internas.