Diário de Notícias

O Padrinho Livro de Mario Puzo celebra 50 anos, mas Ferreira Fernandes conta como foi que aprendeu tanta coisa com os filmes

- TEXTO DE FERREIRA FERNANDES

O razoável romance de Mario Puzo faz 50 anos, mas isso não seria razão para emoção. Acontece que ele e o realizador Francis Ford Coppola, a música de Nino Rota, e Marlon Brando, John Cazale, Al Pacino, De Niro, Robert Duvall, juntos, fizeram um monumento do cinema. O que há para celebrar são as datas esdrúxulas de O Padrinho (1972), O Padrinho II (1974) e O Padrinho III (1990)... Sempre.

Lembro-me...

de Corleone, uma vila siciliana, perto de Palermo, Itália. Todos os lugares do mundo têm uma lista dos filhos da terra mais ou menos célebres. Na lista dos dez de Corleone, só Placido Rizzotto (1914-1948) não foi da Mafia. Sindicalis­ta, foi morto por ela; os outros foram todos gangsters. E alguns deles poderosos, como Salvatore Riina, chefão da Mafia e assassino do juiz Giovanni Falcone. Isso entre as pessoas de carne, osso e pistolas reais, porque o natural de Corleone mais famoso do mundo é uma personagem de ficção. Miúdo,Vito Andolini viu toda a família abatida por um chefe de clã, fugiu da sua Corleone natal e foi para Nova Iorque. Quando lá chegou, trocou o patronímic­o familiar pelo nome da terra. Vito Corleone, que irá tornar-se DonVito Corleone, O Padrinho. Na lista das dez mais famosas personagen­s da história do cinema.

Lembro-me...

da primeira sensação no primeiro O Padrinho, uma música de Nino Rota. O cinema, a arte da imagem em movimento, ali, começou por ser um trompete solitário, longo e lento. O Padrinho era um monumento, soube-o, ainda não havia ainda uma palavra, nem uma imagem. A seguir, surgiu um imigrante italiano, já rico, queixando-se: “Eu acredito na América...” Mas a filha fora vítima de abuso sexual e a justiça de nada serviu. Aquele que o escutava, mas ainda não víamos, diz-lhe: “Foi à polícia, mas não veio a mim primeiro...” Vemos, então, Don Vito Corleone pela primeira vez. Um Marlon Brando que falou de voz partida, em sussurro e suave, de quem tem muita autoridade e firme. O queixoso queria pagar-lhe para fazer por ele a vingança da filha, mas Don Corleone quer mais. Então, o comerciant­e inclinou-se e beijou-lhe a mão. Só seis minutos e eu já sabia que o filme era sobre a família e sobre o poder. Não sabia ainda que haveria quase n horas de tanto prazer, repartidos por três filmes.

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