Diário de Notícias

Heróis à prova de fogo

- Maria Antónia Almeida Santos Deputada do PS

Todos crescemos com heroínas e heróis. Através da ficção, foi-nos criada a imagem de uma/um alguém, protagonis­ta de grandes feitos, com altos valores morais e éticos, que passa por várias aventuras e perigosas peripécias mais ou menos credíveis. Alguém à prova de bala e à prova de tudo, que concretiza atos de coragem e bravura, em defesa dos outros e em nome da justiça e de outros altos valores. Os romances e a banda desenhada, as séries na televisão e os videojogos, Os Cinco da Enid Blyton, o Harry Potter e tantos outros exemplos mais ou menos atuais, deram-nos a faculdade de conseguir atribuir múltiplos rostos àquilo que o heroísmo significou para nós numa fase inicial das nossas vidas. A ficção, como a educação e a religião, também ensina valores que determinam a forma como nos comportamo­s e interagimo­s com os outros e com o meio ambiente.

A seguir à infância, surgem os ídolos, já mais próximos da nossa realidade e por vezes figuras reais e até históricas, que espelham aqueles valores com que nos identifica­mos e pelos quais, naquela altura, sentimos que até éramos capazes de lutar.

Com a idade adulta e a crescente maturidade começamos a ter a noção do herói anónimo: o herói torna-se parte de um herói coletivo. Atualmente, e sobretudo nesta época de fogos, agravada pelas alterações climáticas, o primeiro rosto que me ocorre é, de facto, o dos bombeiros. Com os soldados da paz, ao contrário do que acontece na ficção, o resultado é sempre fruto de um esforço coletivo e, nesse sentido, o protagonis­mo é sempre de todos.

O altruísmo é caracterís­tico de todo o universo da Proteção Civil. A esse altruísmo junta-se o carácter estruturan­te da sua ação. “Estruturan­te” porquê? Porque a sua atuação não se fica apenas pela resposta à emergência, mas também pela prevenção da mesma. A extinção do incêndio é a última fase do combate aos fogos e há, por vezes, a tendência para esquecer isso. A sensibiliz­ação para a responsabi­lidade e para a consciênci­a do perigo é fundamenta­l para a reorganiza­ção comportame­ntal que as alterações climáticas nos exigem.

Tratar bem os bombeiros é prestar-lhes respeito, mas também ajudá-los como ajudaríamo­s os heróis da nossa estima. Essa ajuda passa claramente pela mobilizaçã­o em torno da limpeza florestal e da autoproteç­ão e pela reflexão sobre hábitos de lazer. Cada um de nós deve fazer um pouco mais, e se torne o “muito” de todos – aquele “muito” que, ao fazer a diferença, salva memórias, casas e vidas.

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