Heróis à prova de fogo
Todos crescemos com heroínas e heróis. Através da ficção, foi-nos criada a imagem de uma/um alguém, protagonista de grandes feitos, com altos valores morais e éticos, que passa por várias aventuras e perigosas peripécias mais ou menos credíveis. Alguém à prova de bala e à prova de tudo, que concretiza atos de coragem e bravura, em defesa dos outros e em nome da justiça e de outros altos valores. Os romances e a banda desenhada, as séries na televisão e os videojogos, Os Cinco da Enid Blyton, o Harry Potter e tantos outros exemplos mais ou menos atuais, deram-nos a faculdade de conseguir atribuir múltiplos rostos àquilo que o heroísmo significou para nós numa fase inicial das nossas vidas. A ficção, como a educação e a religião, também ensina valores que determinam a forma como nos comportamos e interagimos com os outros e com o meio ambiente.
A seguir à infância, surgem os ídolos, já mais próximos da nossa realidade e por vezes figuras reais e até históricas, que espelham aqueles valores com que nos identificamos e pelos quais, naquela altura, sentimos que até éramos capazes de lutar.
Com a idade adulta e a crescente maturidade começamos a ter a noção do herói anónimo: o herói torna-se parte de um herói coletivo. Atualmente, e sobretudo nesta época de fogos, agravada pelas alterações climáticas, o primeiro rosto que me ocorre é, de facto, o dos bombeiros. Com os soldados da paz, ao contrário do que acontece na ficção, o resultado é sempre fruto de um esforço coletivo e, nesse sentido, o protagonismo é sempre de todos.
O altruísmo é característico de todo o universo da Proteção Civil. A esse altruísmo junta-se o carácter estruturante da sua ação. “Estruturante” porquê? Porque a sua atuação não se fica apenas pela resposta à emergência, mas também pela prevenção da mesma. A extinção do incêndio é a última fase do combate aos fogos e há, por vezes, a tendência para esquecer isso. A sensibilização para a responsabilidade e para a consciência do perigo é fundamental para a reorganização comportamental que as alterações climáticas nos exigem.
Tratar bem os bombeiros é prestar-lhes respeito, mas também ajudá-los como ajudaríamos os heróis da nossa estima. Essa ajuda passa claramente pela mobilização em torno da limpeza florestal e da autoproteção e pela reflexão sobre hábitos de lazer. Cada um de nós deve fazer um pouco mais, e se torne o “muito” de todos – aquele “muito” que, ao fazer a diferença, salva memórias, casas e vidas.