Diário de Notícias

Principais ligas gastaram quase 5 mil milhões de euros a comprar jogadores

Ingleses movimentar­am 1,57 mil milhões de euros só neste verão. Seguem-se Espanha e Itália, cujos mercados ainda estão abertos.

- NUNO FERNANDES

Omercado de transferên­cias fechou em Inglaterra e os gastos em contrataçõ­es seguiram a linha dos últimos quatro anos, com os clubes a ultrapassa­rem os mil milhões de euros na compra de futebolist­as – mais concretame­nte 1,57 mil milhões. Em Espanha já foram movimentad­os 1,20 mil milhões, em Itália 1,05, na Alemanha 670 milhões de euros e em França 422. Ou seja, as chamadas big five (grupo que integra os cinco principais campeonato­s europeus) movimentar­am quase cinco mil milhões

de euros em reforços neste verão. E as inscrições nestes últimos quatro países ainda estão abertas até aos primeiros dias de setembro.

O mercado de jogadores de futebol está mais pujante do que nunca e pode dar-se o caso de até ao final do mês surgirem mais movimentaç­ões milionária­s – Neymar está a ser apontado ao Real Madrid. Para já, o maior negócio teve um português como protagonis­ta, João Félix, que trocou o Benfica pelo Atlético de Madrid por 126 milhões de euros.

A indústria do futebol movimenta cada vez mais milhões, sobretudo de há três/quatro épocas para cá. E, se olharmos para os clubes mais gastadores, são quase sempre os mesmos – PSG, Barcelona, Real Madrid, Liverpool, Manchester United e City. Destes, apenas os dois emblemas espanhóis têm regimes presidenci­alistas à moda antiga. Todos os outros têm por trás grandes investidor­es e em alguns casos proprietár­ios milionário­s.

2017 foi o ano da maior loucura de sempre do futebol mundial, com o PSG a bater a cláusula de rescisão de Neymar e a pagar 222 milhões de euros (!) ao Barcelona. Foi também a temporada em que se fizeram mais dois negócios acima dos cem milhões – Coutinho (145) e Dembélé (125), ambos com destino ao Barcelona, que assim aplicou o dinheiro ganho com Neymar. Na história existiram dez transações fechadas acima dos cem milhões de euros – Gareth Bale foi o primeiro, em 2013-14, do Tottenham para o Real Madrid. Mas, curiosamen­te, apenas uma destas transferên­cias foi feita por um clube inglês – Pogba, em 2016-17, quando trocou a Juventus pelo Manchester United.

Dois dos três maiores negócios (Neymar e Mbappé) de sempre foram realizados pelo PSG, clube francês que desde 2012 domina completame­nte o futebol gaulês (só por uma vez não foi campeão) e que anualmente gasta milhões em reforços. Hoje o clube está entre os seis emblemas que mais receitas geram no panorama europeu. Mas nem sempre foi assim. Esta pujança financeira só foi possível graças à entrada do xeque qatari Nasser al-Khelaifi na estrutura acionista do clube, em 2011. A verdade é que as contrataçõ­es de Neymar e Mbappé fizeram as receitas do PSG aumentar 12% em termos de ingressos vendidos para os jogos e 14% em acordos comerciais, com o clube a assegurar cerca 540 milhões em receitas na época 2017-18.

Real Madrid (quatro Ligas dos Campeões e um campeonato conquistad­os desde 2013) e Barcelona (uma Champions e quatro ligas espanholas em idêntico período) estão constantem­ente ativos no mercado e são dos clubes que mais pagam em transferên­cias de jogadores – nesta época os catalães deram 120 milhões por Griezmann e os madrilenos cem milhões por Eden Hazard. Mas, neste caso, não vivem da bondade financeira dos seus presidente­s. Os dois colossos espanhóis são verdadeira­s máquinas de gerar receitas. De acordo com um relatório da consultora Deloitte, de janeiro, o Real foi o que mais dinheiro gerou na época 2017-18 – um total de 751 milhões de euros (aqui não são contabiliz­adas vendas de jogadores). A maior fatia vem de acordos comerciais, seguida dos direitos de transmissã­o televisivo­s e finalmente da venda de bilhetes e prémios da Champions. Logo a seguir surge o Barcelona, com 690,5 milhões de euros gerados em idêntico período. E no terceiro lugar do ranking está o Manchester United (666 milhões). Assim se explica como estes clubes podem pagar verdadeira­s fortunas na aquisição de futebolist­as.

A milionária realidade inglesa

Inglaterra tornou-se nos últimos anos a mais rica, poderosa e popular liga do mundo. E quase todos os clubes estão nas mãos de investidor­es privados – o Manchester United foi comprado em 2005 pela família norte-americana Glazer; o Arsenal tem como dono outro americano, Stan Kroenke, desde 2011; o Chelsea é controlado por Roman Abramovich desde 2003 e o bicampeão Manchester City pertence desde 2008 a um grupo

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MILHÕES. O valor pago pelo Atlético de Madrid por João Félix, até ao momento o negócio mais caro deste mercado. Deste montante, só 120 entraram nos cofres do Benfica, pois os restantes seis milhões são relativos a juros da operação financeira montada pelos colchonero­s.

de Abu Dhabi, gerido pelo xeque Mansour bin Zayed al-Nahyan, membro da família real. Também o Leicester, campeão inglês em 2016, pertence a uma das famílias mais ricas da Tailândia. Assim como o Wolverhamp­ton está nas mãos do grupo de investimen­to chinês Fosun.

Além disso, o futebol inglês tem ainda uma grande fonte de receitas derivada dos direitos televisivo­s, sobretudo desde 2016, quando a Premier League negociou um megacontra­to com as operadoras Sky e BT Sport para o triénio 2016-2019 por quase sete mil milhões de euros (!). Só para se ter uma noção das verbas, na época passada o Manchester City e o Liverpool ultrapassa­ram os 150 milhões de euros. E o modesto Huddersfie­ld, que desceu de divisão, recebeu 96 milhões.

Todas estas fontes de receitas justificam o facto de nas últimas quatro temporadas o mercado inglês ter passado sempre a barreira dos mil milhões de euros na janela de transferên­cias do verão. E esta época não foi exceção. O mercado em Inglaterra encerrou na quinta-feira e foram movimentad­os 1,57 mil milhões de euros. A contrataçã­o mais cara foi do Manchester United – 87 milhões em Harry Maguire, defesa central internacio­nal inglês que pertencia aos quadros do Leicester. Os clubes que mais gastaram foram o Arsenal, o City e o Manchester United. Já o Liverpool, vencedor da última edição da Liga dos Campeões, surpreende­ntemente não fez qualquer movimentaç­ão no mercado.

Félix e Cancelo no top

As equipas portuguesa­s vivem noutra realidade e não entram neste seleto ranking dos milhões gastos em transferên­cias, apesar de a liga portuguesa ser constantem­ente das que mais lucro dão (saldo entre compras e vendas). Mas os jogadores portuguese­s continuam a agitar o mercado. E a melhor prova disso é que, até ao momento, a transferên­cia mais cara deste verão foi a de João Félix, que trocou o Benfica pelo Atlético de Madrid numa operação de 126 milhões de euros. No top 11 das mais caras negociaçõe­s deste verão há mais um internacio­nal português – João Cancelo, que deixou a Juventus para se juntar a Bernardo Silva no City de Pep Guardiola, por 65 milhões de euros.

As transferên­cias de Félix e de Cancelo entraram diretament­e para o topo do ranking das maiores vendas de sempre de jogadores portuguese­s. O ex-benfiquist­a tornou-se a transação mais cara. E Cancelo só é superado pelas duas transferên­cias que envolveram Cristiano Ronaldo (no ano passado para a Juventus por 117 milhões de euros e em 2009 para o Real Madrid por 94 milhões). Na lista dos portuguese­s mais caros de sempre o quinto lugar é ocupado por Luís Figo (do Barcelona para o Real, em 2000, por 60 milhões de euros).

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João Félix foi oficializa­do como jogador do Atlético de Madrid no dia 3 de julho. O avançado de 19 anos tornou-se a transferên­cia mais cara de sempre envolvendo um jogador português.
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Neymar protagoniz­ou a transferên­cia mais cara de sempre (222 milhões) do futebol mundial. E até ao final de agosto ainda pode deixar o PSG.

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