“Há que perceber como usar a tecnologia ao serviço da Humanidade e não o contrário”
Numa entrevista a Rudy de Waele, cofundador da Human Works Design, foi bastante claro que caminhamos para uma Era onde a tecnologia e a saúde são dois mundos inseparáveis. “Atualmente, podemos monitorizar a nossa saúde e hábitos pessoais através de várias
Como é que as tecnologias exponenciais estão a afetar os sistemas de saúde?
Alguns dos maiores avanços e inovações nas tecnologias exponenciais surgirão no setor da saúde nos próximos dez anos. Estamos prestes a entrar num período extremamente empolgante no setor da Saúde e poderemos melhorar e ajudar milhões de pessoas com a deteção precoce de doenças, recorrendo a medicina de precisão e a uma medicina mais personalizada e preventiva.
A Digitalização, a Robótica, a Internet das Coisas, a Genética, a Nanotecnologia, a Blockchain, as Neurociências e a Computação Quântica, incluindo a Inteligência Artificial (IA), a Deep Learning (Aprendizagem Profunda) e a fabricação aditiva (Impressão 3D), são exemplos de tecnologias exponenciais. A impressão 3D, combinada com enormes avanços na ciência de materiais, é um agente de mudança na medicina. Cada vez mais, partes do corpo personalizadas serão imprimíveis. A IA desempenhará um papel muito importante no diagnóstico de doenças em fases muito precoces ou mesmo antes de ocorrerem. A digitalização transformará a medicina de diagnóstico, assim como o desempenho e resultados com base no médico, em resultados mais definidos e previsíveis.
A nanotecnologia já permite detetar se um paciente tem cancro de pulmão através do sopro num nanodispositivo. Brevemente, os testes de urina serão capazes de detetar cancro. Há aplicativos para smartphone, que podem diagnosticar Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Os chatbots já podem prestar cuidados de saúde mental de qualidade. Mas o mais importante nos próximos anos será a prevenção de doenças através de tecnologias, como: a análise genética, a inteligência artificial e ferramentas de monitorização constante – que se encontram disponíveis nos dispositivos quotidianos.
A tecnologia Blockchain vai conseguir resolver o problema da partilha de dados de saúde. As start-ups existentes visam criar uma plataforma, onde os diferentes agentes de saúde, como médicos, hospitais, laboratórios, farmacêuticos e seguradoras, poderão solicitar permissão para aceder e interagir com os registos médicos. Cada interação é auditável, transparente e segura e será registada como uma transação num registo distribuído. O projeto garantirá questões de privacidade, dado ser construído numa arquitetura assente em permissão, com vários níveis de acesso. Portanto, os doentes poderão controlar quem pode ver os seus registos, o nível de acesso e durante quanto tempo. Portugal tem consciência das implicações que a era digital tem na área da saúde? E vai saber tirar partido desta era digital?
Preciso de aprofundar os meus conhecimentos sobre o ecossistema de saúde português para entender melhor a situação de Portugal no que toca à inovação em saúde digital. Na minha perspetiva, a maioria dos países da UE está bastante consciente do atual progresso tecnológico e das inovações nesta área. Alguns países lideram em inovação nos Sistemas de Saúde, basta pensar nos últimos avanços da Philips (Países Baixos) e da Siemens (Alemanha).
O que todas as organizações precisam de entender é como trabalhar com métodos de inovação aberta, visando conectar-se com o mundo exterior para explorar novos modelos e criar um ecossistema mais sólido de potenciais parceiros e colaboradores.
Como é que a tecnologia pode ajudar a sociedade a levar um estilo de vida mais saudável?
“As organizações de saúde e médicos que proporcionem as melhores experiências digitais e físicas terão vantagens.”
Atualmente, podemos monitorizar a nossa saúde e hábitos pessoais através de várias aplicações. Medir os dados significa que podemos melhorar os nossos maus hábitos e acompanhar o nosso progresso nos programas que usamos para melhorar a nossa saúde. Podemos controlar os vários dados e os médicos podem prestar aconselhamento remoto relativamente à medicação e cuidados terapêuticos.
A Ada, por exemplo, é uma assistente de saúde virtual que realiza uma avaliação sofisticada de sintomas para criar uma imagem detalhada da sua saúde. Se optar por partilhar a sua informação com o seu médico, a Ada vai funcionar como uma avaliação pré-médica eficaz, que o médico pode validar antes de dar a conhecer as várias opções de tratamento.
Em Genética, com base na nossa compreensão dos genomas, sabemos que alguns fármacos são mais eficazes para algumas populações do que para outras. Quando subsegmentamos ainda mais essas populações, chegamos eventualmente a um mercado onde se sabe exatamente como tratar uma doença. Poderíamos chegar a um ponto onde podemos prever e prevenir doenças futuras. Os testes genómicos estão rapidamente a tornar-se noutra ferramenta de teste a aplicar em âmbito de ambulatório.
No fundo, todo o setor está focado em tempos de resposta mais rápidos, para que os médicos passem mais tempo a tratar os doentes do que com tarefas administrativas; e, para que exista uma menor sobrecarga dos médicos.
Que inovações nas tecnologias exponenciais afetam o setor de saúde?
Os telemóveis terão capacidades de reconhecimento de voz enquanto a pessoa está a falar ao telefone, permitindo diagnosticar se a pessoa tem algum problema.
A empresa alemã, Audio Profiling, está a recorrer à análise de voz para diagnosticar o Transtorno de Défice de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças, com uma precisão superior a 90% na identificação de crianças previamente diagnosticadas com base apenas no discurso.
A Parkinson’s Voice Initiative (Iniciativa de Voz de Parkinson) está a mudar a dispendiosa análise em clínica, recorrendo à análise de gravações de voz de 30 segundos com software de aprendizagem automática – alcançando uma precisão de 98,6% na deteção da doença nos participantes.
Os hospitais e sistemas de saúde estão a enfrentar uma força inevitável para inovar. Todos os doentes são também clientes e estão a tornar-se muito mais seletivos face: à forma como adquirem os serviços de saúde; onde são tratados; e quem e que locais prestam o melhor serviço. É aqui que os indivíduos também estão, como nunca antes, a definir o negócio de cuidados de saúde. E são estes cuidados de saúde na Era da Internet e das Redes Sociais, que fazem com que os utentes comparem a oferta disponível com as suas necessidades de saúde.
Como é que as tecnologias de saúde estão a mudar? E como é que essas transformações afetam os doentes? E os profissionais de saúde?
A monitorização e o diagnóstico através de smartphones serão complementares aos médicos, tanto em áreas com uma sofisticada infraestrutura de saúde, quanto em áreas de baixos rendimentos e elevado grau de doença. Além disso, os smartphones poderiam levar a tão badalada Era da medicina personalizada a tornar-se uma realidade, através da medição precisa dos nossos indicadores de saúde numa base constante.
Combine esta abundância de dados de saúde (um enorme conjunto de dados que monitorizam o nosso sono, exercício, nutrição, informação genómica e indicadores das funções dos nossos órgãos), com uma poderosa análise de dados e temos uma receita para encontrar conhecimentos que ajudarão doentes e médicos a encontrarem, juntos, melhores soluções.
A experiência do doente tornar-se-á cada vez mais importante para doentes e clientes, já que os mesmos terão acesso a muitos dados. As organizações de saúde e médicos que proporcionem as melhores experiências digitais e físicas terão vantagens.
No seu mais recente livro, 2020 - How Technology Will Impact Our Future (2020 – Qual o impacto da tecnologia no nosso futuro), fala sobre a influência que tecnologias, como IoT, Genética, Robótica e IA, terão na vida quotidiana. E será que a indústria da saúde, em particular, estará preparada?
A capacidade de inovar é importante para todos os interessados na área da saúde. À medida que as tecnologias exponenciais avançam, provavelmente, ou colidirão ou unir-se-ão para criar oportunidades disruptivas tanto para os intervenientes tradicionais como para os recém-chegados.
Todas as indústrias vão precisar de se adaptar às mudanças trazidas por essas novas tecnologias. Não se trata apenas de velocidade, mas também do foco na qualidade das melhorias e inovações.
Muitos líderes empresariais dizem que não têm tempo para se concentrar em desenvolvimentos futuros, mas é essencial saber o que está a acontecer e como é que posicionarão a sua organização/ empresa nessas mudanças, futuramente.
O que simboliza estar “na vanguarda” na área da saúde digital? E como estão as empresas de saúde portuguesas a liderar nesse nível?
É importante ter uma mentalidade aberta e acompanhar os avanços das tecnologias exponenciais no setor da saúde. É também crucial experimentar e concretizar parcerias com start-ups de saúde e/ou trazer empreendedores da área da saúde para a sua organização, bem como, disponibilizar formação aos colaboradores e equipas para que possam manter-se a par dos avanços atuais.
A 3ª edição do HINTT, a ter lugar dia 3 de outubro na Fundação Champalimaud, vai abordar o tema Healthcare: what the
future holds?, baseado no impacto das TI no cidadão e como a transformação digital afeta a saúde em Portugal e no estrangeiro. O que acha que o futuro reserva para os cuidados de saúde em Portugal e quais são os próximos passos para abraçar esse futuro da forma mais positiva?
O principal objetivo é manter os nossos cidadãos e sociedades saudáveis. A prevenção e a manutenção da saúde tornar-se-ão cada vez mais importantes e populares; e todos nós, profissionais e cidadãos, podemos ter um impacto pessoal e positivo nesta área. Não nos podemos esquecer de nos conectar com os nossos valores humanos e com o que é necessário para sonhar, construir e criar uma sociedade e comunidades saudáveis. Há que perceber como usar a tecnologia ao serviço da humanidade e não o contrário.