Educação anacrónica
De acordo com o relatório “Educação em números 2019”, da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, há dez anos havia um rácio de um aluno por computador no 1.º ciclo, enquanto agora são quase sete alunos por computador. A isto junta-se o facto de os computadores estarem obsoletos, de o acesso à internet nas escolas ser limitado e de as estas não terem sido dotadas nos últimos anos de material informático. A somar a estes dados conhecidos, os diretores alertam que o cenário atual atrasa a aprendizagem dos alunos, desde logo, por serem evidentes os benefícios para os estudantes do auxílio e do recurso à tecnologia.
Recorde-se que depois de lançar o projeto Tablets no Ensino e na Aprendizagem em várias escolas, de 2014 a 2016, a Fundação Calouste Gulbenkian concluiu que os alunos que estudaram com o equipamento registaram um sucesso escolar de quase 100%. A investigação mostrou que os alunos participantes na experiência “foram todos aprovados, à exceção de um, tendo sido calculada uma taxa global, para estes alunos participantes, de sucesso escolar muito próxima dos 100%”.
Mesmo desvinculadas destas iniciativas, há escolas que optaram por modelos de aprendizagem quase inteiramente tecnológicos, trocando os manuais nas mochilas por tablets, através de financiamento local. É exemplo disso a Escola Básica da Ponte, em Santo Tirso, o mais antigo exemplo de autonomia pedagógica na rede pública, onde os livros são vistos apenas como material de consulta.
É inacreditável que a discussão sobre a educação em Portugal feita por este governo seja limitada à oferta de manuais escolares gratuitos para todos os alunos. Sou, por princípio, contra a medida, que considero socialmente injusta. É, aliás, falso que a gratuidade universal dos manuais escolares, para todo o ensino obrigatório, salvaguarde os mais desprotegidos. Pelo contrário, beneficia quem mais recursos tem, aparentando solucionar algo que através de outros mecanismos, mais justos, garantiriam a proteção dos portugueses com menos recursos económicos. A mesma solução aplicada a pessoas com necessidades diferentes é profundamente injusta.
Assegurar o acesso a educação de qualidade a todas as crianças e a todos os jovens comporta um compromisso muito maior com as comunidades escolares que não se alcança com medidas desarticuladas: implica um investimento em melhores equipamentos e recursos, mais qualificação e valorização dos professores, assim como uma proteção das famílias. São estes os fatores que impactam a vida dos cidadãos e que nos últimos quatro anos têm sido esquecidos.
Para trás, tem ficado a agenda reformista da escola, a aposta nas novas tecnologias e em recursos que permitam melhorar e potenciar a aprendizagem dos nossos alunos. A igualdade de oportunidade garante-se com a modernização da escola. É essa a única forma de garantir que ninguém fica para trás.