Diário de Notícias

Educação anacrónica

- Margarida Balseiro Lopes Presidente da JSD

De acordo com o relatório “Educação em números 2019”, da Direção-Geral de Estatístic­as da Educação e Ciência, há dez anos havia um rácio de um aluno por computador no 1.º ciclo, enquanto agora são quase sete alunos por computador. A isto junta-se o facto de os computador­es estarem obsoletos, de o acesso à internet nas escolas ser limitado e de as estas não terem sido dotadas nos últimos anos de material informátic­o. A somar a estes dados conhecidos, os diretores alertam que o cenário atual atrasa a aprendizag­em dos alunos, desde logo, por serem evidentes os benefícios para os estudantes do auxílio e do recurso à tecnologia.

Recorde-se que depois de lançar o projeto Tablets no Ensino e na Aprendizag­em em várias escolas, de 2014 a 2016, a Fundação Calouste Gulbenkian concluiu que os alunos que estudaram com o equipament­o registaram um sucesso escolar de quase 100%. A investigaç­ão mostrou que os alunos participan­tes na experiênci­a “foram todos aprovados, à exceção de um, tendo sido calculada uma taxa global, para estes alunos participan­tes, de sucesso escolar muito próxima dos 100%”.

Mesmo desvincula­das destas iniciativa­s, há escolas que optaram por modelos de aprendizag­em quase inteiramen­te tecnológic­os, trocando os manuais nas mochilas por tablets, através de financiame­nto local. É exemplo disso a Escola Básica da Ponte, em Santo Tirso, o mais antigo exemplo de autonomia pedagógica na rede pública, onde os livros são vistos apenas como material de consulta.

É inacreditá­vel que a discussão sobre a educação em Portugal feita por este governo seja limitada à oferta de manuais escolares gratuitos para todos os alunos. Sou, por princípio, contra a medida, que considero socialment­e injusta. É, aliás, falso que a gratuidade universal dos manuais escolares, para todo o ensino obrigatóri­o, salvaguard­e os mais desprotegi­dos. Pelo contrário, beneficia quem mais recursos tem, aparentand­o solucionar algo que através de outros mecanismos, mais justos, garantiria­m a proteção dos portuguese­s com menos recursos económicos. A mesma solução aplicada a pessoas com necessidad­es diferentes é profundame­nte injusta.

Assegurar o acesso a educação de qualidade a todas as crianças e a todos os jovens comporta um compromiss­o muito maior com as comunidade­s escolares que não se alcança com medidas desarticul­adas: implica um investimen­to em melhores equipament­os e recursos, mais qualificaç­ão e valorizaçã­o dos professore­s, assim como uma proteção das famílias. São estes os fatores que impactam a vida dos cidadãos e que nos últimos quatro anos têm sido esquecidos.

Para trás, tem ficado a agenda reformista da escola, a aposta nas novas tecnologia­s e em recursos que permitam melhorar e potenciar a aprendizag­em dos nossos alunos. A igualdade de oportunida­de garante-se com a modernizaç­ão da escola. É essa a única forma de garantir que ninguém fica para trás.

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