Diário de Notícias

“Nunca sei se me sinto injustiçad­a por ser mulher ou por ser negra”

Aos 19 anos, criou um movimento feminista na sua universida­de e está a organizar uma conferênci­a com a participaç­ão de enviados da ONU. É o He for She (ele por ela) Nova. E ela é Dussu Djabula.

- FERNANDA CÂNCIO

Apergunta foi-lhe feita por um orador numa palestra a que assistia. A reação dos presentes dividiu-se: “Tendo em conta a sensibilid­ade cultural em geral, a maioria riu-se. Só alguns começaram a reclamar.” Ela, conta, ficou triste. “Fico a meditar sobre estas coisas. As pessoas acham que já não existe racismo. Mas vejo, por exemplo, que ficam chocadas com as minhas notas – por serem boas. E acham que sou especial porque “não sou como os outros’.”

Os outros negros, bem entendido. Dussu Djabula, com 19 anos e no 2.º ano de Direito na Universida­de Nova, é negra. Nasceu na Guiné-Bissau e vive em Portugal desde bebé. É portuguesa, como os pais. Durante parte do seu percurso escolar, foi a única negra nas turmas. E nunca teve um professor negro. “Até mo perguntar nunca tinha sequer pensado nisso. Habituamo-nos. Por exemplo, pensando no assunto, não me lembro de ver um negro na TV a apresentar notícias ou num debate. As pessoas não entendem o quão importante é para as minorias olhar para a TV ou para os cartazes dos partidos e ver negros. Não entendem o que é não ter representa­ção. Ver negros ali, além do mais, faz-nos sentir que também podemos. Estou muito feliz por nestas legislativ­as terem sido eleitas mulheres negras.”

Até porque, explica, “não tem graça ser a primeira negra em tudo. Agora na Nova sinto-me melhor porque há muitos mais negros. São sobretudo alunos dos PALOP, creio”. Não tem graça ser a única, ponto. Chegou a ter colegas nas aulas, numa escola pública em Lisboa, a mandá-la para a sua terra. “Foi na turma que tive do 5.º ao 9.º ano. Calava-me. Até porque esperava que os professore­s dissessem alguma coisa.” Não disseram.

Confessa nunca ter contado essas experiênci­as aos pais. “A minha mãe é copeira e o meu pai astrólogo, e são muito presentes. Apoiam-me muito. E tiveram de se habituar a que eu tenha passado de ser uma pessoa só focada nos estudos para alguém que só quer fazer ativismo. A minha irmã a seguir a mim – tenho três irmãos mais novos – vai pelo mesmo caminho. Adoro.”

“50% das pessoas estão mal informadas”

Terá, aliás, sido a necessidad­e de não só não se calar como de agir sobre as coisas que a fez decidir-se pelo Direito em vez da Filosofia, apesar de ser uma habitual nas olimpíadas nacionais dessa disciplina.

O clique da passagem para o ativismo, porém, deu-se em fevereiro, “depois daquele surto de mortes de mulheres. Estávamos a falar de violência doméstica na aula de Teoria da Norma Jurídica e dos acórdãos que têm saído, e a professora disse que a lei não é necessaria­mente má, o problema está na aplicação, na prática. E isso deu-me

Dussu Djabula criou um movimento feminista na Universida­de Nova. Quer chamar a atenção para a discrimina­ção que existe na sociedade.

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