Porque é que os polacos continuam a preferir o partido conservador de Kaczynski?
Apesar das críticas da União Europeia e de setores liberais de progressistas da sociedade, o partido Lei e Justiça (PiS) surge como o grande favorito nas eleições deste domingo na Polónia.
Opartido Lei e Justiça e os seus aliados surgem como os grandes favoritos nas eleições legislativas deste domingo na Polónia e a única dúvida, a avaliar pelas sondagens, é se vão conseguir reeditar a maioria absoluta dos 460 deputados que conseguiram em 2015. Trinta milhões de eleitores são chamados a ir às urnas. A formação conservadora e eurocética liderada pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, de 70 anos, tem sido fortemente criticada na União Europeia. A Comissão abriu, em 2017, um procedimento contra a Polónia, à luz do artigo 7.º, por violação do Estado de direito e dos valores da UE, mas dado o apoio que o governo do Lei e Justiça (PiS) recolhe entre outros Estados membros, como os do grupo de Visegrado, o efeito foi quase nulo. Nesta quinta-feira, a quatro dias das eleições na Polónia, a Comissão informou que “decidiu instaurar uma ação contra a Polónia no Tribunal de Justiça da UE, requerendo a tramitação acelerada, em virtude do novo regime polaco aplicável aos juízes”.
Além de criticado na UE, o governo do PiS é também criticado dentro de portas, por alguns setores. No final de setembro, três ex-presidentes polacos, Lech Wa sa, Aleksander Kwa niewski e Bronisaw Komorowski, apelaram a uma união da oposição para impedir que o PiS, além do Parlamento, consiga também eleger a maioria dos cem lugares de senador a jogo no domingo.
Apesar de todas as críticas, as sondagens, como a IBRiS/RFM, realizada nos dias 4 e 5, dão ao PiS e à Direita Unida 45,1% das intenções de voto, enquanto o principal partido da oposição, a Plataforma Cívica (PO) e a sua Coligação de Cidadãos, surge com 24,6%. Em 2015, o PiS de Kaczynski teve 37,6% dos votos, a PO conseguiu 24%. Então qual é o mistério que justifica que, contra todas as críticas, os polacos continuem a apoiar Kaczynski?
A confiança dos eleitores no que toca às questões sócio-económicas
O governo do PiS, que apesar de ter outras figuras no cargo de primeiro-ministro é orientado por Kazcynski, aumentou as recolhas de IVA e a despesa com o Estado social. E, apesar disso, planeia um Orçamento do Estado para 2020 com as contas equilibradas. Algo de que as agências de rating desconfiam. Mas aos conservadores polacos pouco lhes importa. A despesa com as famílias polacas subiu de 1,78% do PIB em 2015 para 4% do PIB agora. “O nosso objetivo é construir uma versão polaca do Estado social”, disse o líder do PiS, num comício na cidade de Lublin, junto à fronteira com a Ucrânia e a Bielorrússia.
Uma das medidas mais populares foi a do pagamento de 500 zlotys (127 euros) por mês por cada filho. Antes das europeias de maio, o governo deu 1100 zlotys a cada pensionista, pagamento que não está incluído no Orçamento do Estado para 2020 mas que o PiS garante que irá estar coberto, segundo a Reuters. O governo polaco, ao contrário do da Hungria, pretende que o país já não seja visto como destino de mão-de-obra barata, que os grandes grupos económicos podem vir explorar. No sentido de melhor redistribuir a riqueza, o PiS quer que quem ganha mais desconte mais para a Segurança Social.
A cruzada da moral e dos bons costumes em nome das famílias
O PiS lidera uma cruzada pela moral e os bons costumes e apresenta-se como o partido que defende a família tradicional, a identidade nacional polaca, os valores cristãos e a cultura. Isso, argumenta, estabiliza a ordem social e promove o bem comum que, segundo ele, está ameaçado. “No início”, refere o professor universitário Aleks Szczerbiak, num artigo que foi replicado no site da London School of Economics, “isso era visível na forte oposição do partido ao programa de recolocação de migrantes da UE, nas eleições de 2015, com o Lei e Justiça a argumentar que os migrantes ameaçavam a segurança da Polónia. Mais recentemente o partido opôs-se ao que chama ideologia LGBT”.