Diário de Notícias

Porque é que os polacos continuam a preferir o partido conservado­r de Kaczynski?

Apesar das críticas da União Europeia e de setores liberais de progressis­tas da sociedade, o partido Lei e Justiça (PiS) surge como o grande favorito nas eleições deste domingo na Polónia.

- PATRÍCIA VIEGAS

Opartido Lei e Justiça e os seus aliados surgem como os grandes favoritos nas eleições legislativ­as deste domingo na Polónia e a única dúvida, a avaliar pelas sondagens, é se vão conseguir reeditar a maioria absoluta dos 460 deputados que conseguira­m em 2015. Trinta milhões de eleitores são chamados a ir às urnas. A formação conservado­ra e eurocética liderada pelo ex-primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski, de 70 anos, tem sido fortemente criticada na União Europeia. A Comissão abriu, em 2017, um procedimen­to contra a Polónia, à luz do artigo 7.º, por violação do Estado de direito e dos valores da UE, mas dado o apoio que o governo do Lei e Justiça (PiS) recolhe entre outros Estados membros, como os do grupo de Visegrado, o efeito foi quase nulo. Nesta quinta-feira, a quatro dias das eleições na Polónia, a Comissão informou que “decidiu instaurar uma ação contra a Polónia no Tribunal de Justiça da UE, requerendo a tramitação acelerada, em virtude do novo regime polaco aplicável aos juízes”.

Além de criticado na UE, o governo do PiS é também criticado dentro de portas, por alguns setores. No final de setembro, três ex-presidente­s polacos, Lech Wa” sa, Aleksander Kwa niewski e Bronis”aw Komorowski, apelaram a uma união da oposição para impedir que o PiS, além do Parlamento, consiga também eleger a maioria dos cem lugares de senador a jogo no domingo.

Apesar de todas as críticas, as sondagens, como a IBRiS/RFM, realizada nos dias 4 e 5, dão ao PiS e à Direita Unida 45,1% das intenções de voto, enquanto o principal partido da oposição, a Plataforma Cívica (PO) e a sua Coligação de Cidadãos, surge com 24,6%. Em 2015, o PiS de Kaczynski teve 37,6% dos votos, a PO conseguiu 24%. Então qual é o mistério que justifica que, contra todas as críticas, os polacos continuem a apoiar Kaczynski?

A confiança dos eleitores no que toca às questões sócio-económicas

O governo do PiS, que apesar de ter outras figuras no cargo de primeiro-ministro é orientado por Kazcynski, aumentou as recolhas de IVA e a despesa com o Estado social. E, apesar disso, planeia um Orçamento do Estado para 2020 com as contas equilibrad­as. Algo de que as agências de rating desconfiam. Mas aos conservado­res polacos pouco lhes importa. A despesa com as famílias polacas subiu de 1,78% do PIB em 2015 para 4% do PIB agora. “O nosso objetivo é construir uma versão polaca do Estado social”, disse o líder do PiS, num comício na cidade de Lublin, junto à fronteira com a Ucrânia e a Bielorrúss­ia.

Uma das medidas mais populares foi a do pagamento de 500 zlotys (127 euros) por mês por cada filho. Antes das europeias de maio, o governo deu 1100 zlotys a cada pensionist­a, pagamento que não está incluído no Orçamento do Estado para 2020 mas que o PiS garante que irá estar coberto, segundo a Reuters. O governo polaco, ao contrário do da Hungria, pretende que o país já não seja visto como destino de mão-de-obra barata, que os grandes grupos económicos podem vir explorar. No sentido de melhor redistribu­ir a riqueza, o PiS quer que quem ganha mais desconte mais para a Segurança Social.

A cruzada da moral e dos bons costumes em nome das famílias

O PiS lidera uma cruzada pela moral e os bons costumes e apresenta-se como o partido que defende a família tradiciona­l, a identidade nacional polaca, os valores cristãos e a cultura. Isso, argumenta, estabiliza a ordem social e promove o bem comum que, segundo ele, está ameaçado. “No início”, refere o professor universitá­rio Aleks Szczerbiak, num artigo que foi replicado no site da London School of Economics, “isso era visível na forte oposição do partido ao programa de recolocaçã­o de migrantes da UE, nas eleições de 2015, com o Lei e Justiça a argumentar que os migrantes ameaçavam a segurança da Polónia. Mais recentemen­te o partido opôs-se ao que chama ideologia LGBT”.

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