Novos partidos: Livre, Iniciativa Liberal e Chega
Nas eleições europeias, o Aliança foi o mais votado no conjunto dos novos partidos, com 1,9% a nível nacional. Contudo, nas legislativas ficou longe de eleger.
O Chega de André Ventura conseguiu 1,30% dos votos, o Iniciativa Liberal, fundado apenas há dois anos por Carlos Guimarães Pinto, arrecadando 1,20% dos votos. O Livre, que já tinha tentado a sua sorte nas legislativas de 2015, conseguiu agora 1,06% dos votos. Fez-se história, por várias razões. Nunca antes três novos partidos tinham entrado em simultâneo para a Assembleia da República. Nunca antes um partido de extrema-direita (Chega), que defende por exemplo a introdução de legislação sobre a castração química como forma de punição de agressores sexuais (p. 37 do programa eleitoral), tinha chegado próximo da casa da democracia.
Para percebermos melhor as dinâmicas destes novos partidos, cruzámos os seus resultados com os obtidos pelos outros partidos. Verificámos que não existe aparentemente um padrão de competição direta com os partidos tradicionais do sistema (à esquerda com a CDU, o BE e o PS e à direita com o PSD e o CDS-PP). O que se observa, acima de tudo, é que o Livre tende a obter resultados eleitorais mais expressivos nos concelhos em que o PAN e o Iniciativa Liberal também foram mais votados (coeficientes de correlação entre 0,63 e 0,78) e vice-versa. Isto sugere que existem círculos eleitorais onde a competição eleitoral está mais cristalizada em torno dos partidos tradicionais. E existem outros, sobretudo nos distritos do litoral, mais urbanos e cosmopolitas, em que estes novos partidos, independentemente da sua ideologia ou natureza, conseguem ganhar maior apoio eleitoral. É também nestes círculos, com maior magnitude eleitoral, que estes partidos apostam durante a campanha eleitoral, como aconteceu em Lisboa, onde o Iniciativa Liberal e o Livre obtiveram a maioria dos seus votos.
Sobre a sobrevivência parlamentar futura destes partidos, pouco se poderá antever para já. Sabemos que características como a moderação política do partido e a participação em coligações governamentais afetam a capacidade de sobrevivência de novos partidos parlamentares. Mas vamos precisar de esperar por mais eleições para sabermos de facto o que se avizinha. De qualquer das formas, estas novas dinâmicas partidárias devem ser entendidas como um claro sinal de vitalidade da cidadania da sociedade portuguesa assim como uma forte mensagem para os partidos instalados e do arco da governação.