George Lucas: independente, “ma non troppo”
O criador do universo de Star Wars entrou no cinema pela via da produção independente, estreando-se na realização, em 1971, com uma fábula futurista intitulada THX 1138.
A história dos filmes também tem as suas revoluções. Com muitos desenlaces radiosos e outros tantos episódios trágicos. Um dos mais recentes desses momentos revolucionários – com consequências diretas nas formas de consumo dos espectadores de todo o mundo – ocorreu a 30 de outubro de 2012: os estúdios Disney anunciaram a aquisição da Lucasfilm por 4,05 mil milhões de dólares (contas redondas: 3,6 mil milhões de euros), metade em dinheiro, outra metade em ações de empresas Disney.
Terminava assim o protagonismo de George Lucas (nascido em 1944), fundador da Lucasfilm, como líder industrial e simbólico do universo StarWars (ou A Guerra das Estrelas, tal como foi lançado nas salas portuguesas na quadra natalícia de 1977). Para o melhor ou para o pior, o império do Rato Mickey passou a administrar as histórias de Han Solo & Cª.
Por mais bizarro que isso possa parecer, o envolvimento de Lucas numa das mais rentáveis franchises de toda a história do cinema não estava, de modo algum, inscrito nas suas raízes cinematográficas. É verdade que a sua estreia na realização, em 1971, com THX 1138, aconteceu no domínio da ficção científica, retratando um mundo futurista e ditatorial em que a sobrevivência da humanidade passou a ser assegurada por meios “científicos”, a ponto de as relações sexuais estarem proibidas. Em qualquer caso, tratava-se de uma produção genuinamente independente, prolongando os temas tratados na curta-metragem Electronic Labyrinth: THX 1138 4EB, realizada por Lucas em 1967 enquanto estudante de cinema da Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles.
Criada também em 1971, a Lucasfilm surgiu com o propósito, não de concretizar projetos da dimensão de Star Wars, mas sim filmes independentes, de expressão pessoal, refletindo os valores da geração dos chamados movie brats (qualquer coisa como os “miúdos do cinema”) em que também se incluíam Martin Scorsese, Brian De Palma ou Francis Ford Coppola.
Ainda antes de se lançar nas aventuras galácticas, Lucas assinaria American Graffiti (1973), precisamente um dos filmes mais autobiográficos desse período, evocando memórias da geração que chegou à idade adulta ao longo da década de 70. Lançado entre nós com o subtítulo Nova Geração, nele encontramos um grupo de jovens a viver os rituais de encerramento da sua condição de estudantes de liceu, antes de ingressarem na universidade: os seus símbolos mais queridos são os grandes carros americanos da década de 50 e o rock’n’roll.
Como se costuma dizer, o resto pertence à história. E é, antes do mais, uma vertiginosa história financeira. Mesmo não considerando as muitas derivações comerciais de Star Wars (televisão, brinquedos, jogos de vídeo, etc.), os oito filmes canónicos existentes mais as suas histórias paralelas (os chamados spin-offs) aproximam-se de uma receita global de dez mil milhões de dólares (para um custo de produção de 1450 milhões). Ironicamente, em termos proporcionais, nenhum conseguiu a proeza do independente American Graffiti: tendo em conta o orçamento minimalista de 777 mil dólares, a sua faturação global de 140 milhões multiplica 180 vezes o investimento inicial.