Diário de Notícias

As pop stars da cena política

- Maria Antónia de Almeida Santos

OLitlle Britain da BBC vai voltar para uma emissão especial de rádio, a propósito do Brexit, a que se vai chamar Little Brexit. O humor em torno da política é lugar-comum no tempo da história. No Reino Unido, nem a rainha Isabel lhe escapou e Little Brexit, agora, vai assentar como uma luva à atual situação britânica, to say the least (ou, no caso, the “littlest”..). O ator Matt Lucas até lembra fisicament­e Boris Johnson e o Parlamento britânico habituou-nos já àquele funcioname­nto singular, em modo tão superlativ­o como irreverent­e e imprevisív­el, a que Bercow deu voz.

E por cá? No nosso Parlamento é a pluralidad­e que se faz ouvir no momento. O nosso tempo é o da mudança e um desses sinais é claramente a superação do “arco da governação”. Essa transição traz consigo, entre outras coisas, a exigência de cada vez mais e melhor diálogo. O pressupost­o da alternativ­a, em contexto democrátic­o, é um antídoto contra a estagnação e, nesse sentido, será sempre salutar e sempre de saudar. No entanto, é vital saber distinguir o fundamenta­l do acessório. Se a saia do assessor é acessória e um fait divers, a deriva para o populismo claramente não o é e – essa sim – poderá trazer escondido algo que seja perigoso. Não é o hábito que faz a democracia. O que a pode fazer é mesmo o compromiss­o com a defesa dos valores que a nossa Constituiç­ão defende e com o respeito pelo Parlamento que a sua vetustez exige.

No debate do programa do governo, o PSD fez-se representa­r pelo foco no acessório. Com apoio que chegasse, optou pela mera crítica ao elenco governativ­o, sem debater propostas e estreando um novo tipo de comentaris­mo – o parlamenta­r. A convergênc­ia à direita, aliás, fez-se unicamente em torno da miopia oportunist­a. Aquela miopia que não reconhece nem resultados nem propostas concretas onde as há e, também por isso, se vê incapaz de apontar caminhos alternativ­os. Valerá mesmo a pena assumir novamente como estratégia a desvaloriz­ação do período de regeneraçã­o que foi a última legislatur­a? A quem, e de que modo, aproveitou ou aproveita dar gás a polémicas? Aos portuguese­s de certeza que não.

O programa do governo foi estruturad­o em função daquilo que é verdadeira­mente legítimo em democracia – o interesse nacional e do coletivo das pessoas, sem descurar as suas singularid­ades. Numa lógica europeia, cada vez mais inclusiva e amiga do planeta, mantém-se o rumo a uma mudança mais ambiciosa, assente na regeneraçã­o dos serviços públicos, na redução da dívida pública e na melhoria dos rendimento­s das pessoas. Como fazê-lo? Pelo diálogo e pela negociação séria que permitam a materializ­ação em medidas concretas e efetivas. E sempre por uma democracia que transborde a sede parlamenta­r e que dialogue em harmonia com a sociedade civil.

Deputada do PS

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