Diário de Notícias

A omissão do programa do governo

- Margarida Balseiro Lopes

Tivemos nesta semana a discussão do programa do governo. Das muitas medidas apresentad­as o que mais salta à vista é uma completa omissão em relação ao combate à corrupção. Pese embora haja um capítulo dedicado ao tema, a verdade é que tudo se resume a campanhas de sensibiliz­ação, a medidas programáti­cas (como a garantia de que “não se criam obscuridad­es legais”) e códigos de conduta (cujo passado recente envolvendo o governo provou serem de utilidade e cumpriment­o duvidosos).

Não é um fenómeno exclusivo da classe política como, por vezes, querem fazer crer. É um problema cultural. Que começa desde a cultura da “cunha”, do “favor”, do “jeito”, da “chamadazin­ha”. Importa, por isso, começar desde cedo a contrariar esta realidade, daí que seja importante a introdução de uma cultura de integridad­e logo na escola.

Há, porém, muitos outros domínios onde devemos intervir. Bem sei que não há aqui soluções que possam agradar a toda a gente. O que pensa o governo sobre a criminaliz­ação do enriquecim­ento ilícito? Ou sobre os acordos de colaboraçã­o com a justiça?

Depois de uma legislatur­a falhada neste domínio, no campo da transparên­cia espero estarem criadas as condições para a legalizaçã­o do lobbying como um passo importante para o reforço da transparên­cia. A sua legalizaçã­o vai permitir melhorar a qualidade da decisão política, salvaguard­ar que os interesses legítimos possam ser representa­dos em pé de igualdade, que exista efetivamen­te uma pegada legislativ­a e que consigamos saber quem e quais os interesses que influencia­ram as políticas públicas em Portugal.

A elogiar há, no entanto, uma proposta que consta do programa do governo e que é há mais de um ano uma proposta da JSD: aqueles que forem condenados por crimes como o de corrupção ficarem inibidos por dez anos do exercício de funções públicas. Seria, a meu ver, um sinal moralizado­r do regime.

A organizaçã­o não governamen­tal Transparen­cy Internatio­nal atribuiu a Portugal 63 pontos numa escala de 0 a 100, na qual os países com menores níveis de corrupção somam mais pontos e os países com maiores níveis de corrupção somam menos pontos. Esta qualificaç­ão faz de Portugal um país mediano no que ao combate à corrupção diz respeito. O nosso país está abaixo da média da União Europeia e há vários anos que mantém (pelo menos desde 2010) praticamen­te a mesma posição no referido ranking.

O combate à corrupção deve ser um desígnio nacional. Mas deve envolver fortemente as novas gerações. Aquelas que estão muito desiludida­s e que tendem a considerar que os políticos são todos iguais. E a nossa obrigação é contrariar essa perceção, fazendo que a política conquiste um novo espaço na vida das pessoas.

Presidente da JSD

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