Diário de Notícias

Um puzzle com cada vez mais peças que teimam em não encaixar

Mais de seis meses depois das eleições de abril e da falta de acordo para formar governo, fruto de um congresso dividido e da intransigê­ncia dos líderes políticos, Espanha volta neste domingo a ir às urnas. As sondagens adivinham uma nova divisão. SUSANA

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Sánchez PSOE atrás de resultado para governar sozinho

O líder socialista, de 47 anos, é favorito a repetir a vitória de 28 de abril, mas a aposta em levar os espanhóis de novo às urnas à espera de melhorar o resultado (como fez Mariano Rajoy em 2016) pode sair gorada. Após ter conquistad­o 123 deputados, arrisca cair para entre 115 e 120, segundo a sondagem Gesop, publicada nesta sexta-feira pelo El Periòdic d’Andorra (a divulgação de sondagens está proibida desde terça-feira em Espanha). Depois de ceder e aceitar dar cargos no governo à aliança Unidas Podemos, que Pablo Iglesias considerou insuficien­te para apoiar a investidur­a, Pedro Sánchez insiste na necessidad­e de um governo apenas socialista, mesmo que minoritári­o. Mas para tal precisa da colaboraçã­o da oposição, nem que seja em forma de abstenção. E Sánchez ficou famoso pelo seu “não é não” a Rajoy, tendo optado por demitir-se para não ter de se abster na investidur­a deste em 2016. “A única opção que não é aceitável é o bloqueio”, tem agora dito, pedindo o voto útil no PSOE por ser a única opção para um governo “estável e progressis­ta”. O lema da campanha foi “Agora Sim. Agora governo. Agora Espanha”. A economia, que não cresce como o previsto, e a situação da Catalunha serão as suas dores de cabeça. Sobre os catalães foi obrigado a recuar depois de dizer que traria o ex-presidente da Generalita­t Carles Puigdemont de volta a Espanha. Criticado por pôr em causa a independên­cia dos tribunais, Sánchez alegou cansaço e o calor do debate.

Casado PP como única alternativ­a viável e sensata

Aos 38 anos, o líder do Partido Popular, Pablo Casado, apresenta-se às eleições como a “única alternativ­a viável e sensata” a Pedro Sánchez. Segundo a sondagem Gesop, deverá recuperar do desaire de abril (quando o PP teve o pior resultado de sempre, elegendo apenas 66 deputados). Surge com entre 84 e 88 deputados e espera ainda poder surpreende­r Sánchez e conseguir uma maioria de direita que lhe permita governar, mesmo que precise do apoio do Ciudadanos e doVox como na Andaluzia ou Madrid. Se a diferença mais visível em relação às eleições de abril é a barba que deixou crescer no verão, a principal alteração desde então pode ser a disponibil­idade para se abster numa eventual investidur­a de Sánchez para lhe permitir formar governo – tal como o PSOE fez com Mariano Rajoy em 2016. O PP já ofereceu vários “pactos de Estado” aos socialista­s, podendo “vender” caro a sua abstenção de última hora, destinada a evitar uma terceira ida às urnas. E sem esquecer que tal abstenção não implica a aprovação do novo orçamento, que será uma nova batalha para Sánchez. A ideia do PP é que o socialista se desgaste e seja pressionad­o a novas eleições dentro em breve, que possam beneficiar Casado. O lema da campanha foi “Por tudo o que nos une”.

Rivera Ciudadanos e o risco de deixar de ser relevante

O partido que nasceu na Catalunha e que ganhou espaço como voz ativa contra os independen­tistas catalães arrisca a ser ultrapassa­do pela direita, pelo Vox. Depois de ter tentado chegar a acordo de governo com os socialista­s em 2016, votou contra o PSOE na moção de censura a Mariano Rajoy (queria eleições de imediato) e rejeitou qualquer apoio a Pedro Sánchez em abril. Agora, Albert Rivera surge nas sondagens como o eventual maior derrotado. A dias de completar 40 anos, o líder do Ciudadanos pode ver o seu partido cair de 57 deputados para entre oito e dez, um terço dos 32 que conquistar­a em 2016 e depois de em 2018 ter chegado a liderar as sondagens. Mas Rivera defende que só com mais dois pontos percentuai­s de votos conseguirá mais 20 lugares e diz que a batalha não está perdida. O principal objetivo do Ciudadanos , cujo lema de campanha foi “Um grande acordo nacional para lançar Espanha”, é afastar Sánchez e repetir a aliança que existe na Andaluzia, onde está num governo liderado pelo PP e com o apoio da extrema-direita do Vox. Mas também já mostrou abertura ao PSOE, desde que Sánchez assuma uma série de reformas e trave o presidente da Generalita­t, Quim Torra. Sánchez rejeitou o eventual apoio do Ciudadanos, criticando-o pelas alianças com o Vox, dizendo que só quer que este não atue como força de bloqueio. Iglesias Unidas Podemos insiste em ser governo

Depois das eleições de abril, Pablo Iglesias insistiu em querer fazer parte do governo de Pedro Sánchez e mesmo quando este cedeu (sempre rejeitando que o próprio líder do Podemos pudesse ser um dos nomes escolhidos), exigiu mais cargos no executivo. No final, o PSOE disse que não e a investidur­a falhou. Depois de ter caído de 71 para 42 deputados em abril, as sondagens dizem que poderá agora ter entre 36 e 40. “As razões continuam intactas” foi o mote da campanha da aliança formada pelo Podemos e pela Esquerda Unida, que insiste em fazer parte do governo e não apenas em dar o apoio parlamenta­r aos socialista­s. Um governo que teria o apoio pontual de outras forças, nomeadamen­te dos independen­tistas catalães, sendo que o seu partido defende um referendo na Catalunha com o aval do Estado espanhol. Nas eleições deste domingo, Iglesias, de 41 anos, enfrenta uma nova ameaça: o seu antigo amigo e aliado Íñigo Errejón, do Más País, que arrisca dividir mais os eleitores à esquerda. O líder do Podemos tem insistido que o voto no seu partido é o único que travará uma aliança do PSOE com o PP, acusando Sánchez de se virar à direita.

Abascal Vox em ascensão pode duplicar deputados

Se o Ciudadanos surge nas sondagens como o eventual grande derrotado da nova ida às urnas, o Vox apresenta-se como o grande vencedor. Pouco mais de seis meses depois de se ter estreado com 24 deputados no Congresso espanhol, a sondagem Gesop dá agora ao partido de Santiago Abascal entre 54 e 59 deputados. “100 medidas para Espanha viva” foi o título do programa eleitoral do Vox, que tem aproveitad­o a questão catalã para subir nas sondagens. Defendem não só suspender a autonomia como ilegalizar os partidos independen­tistas e prender o presidente da Generalita­t, Quim Torra. No primeiro debate em que participou, Abascal, de 43 anos, beneficiou de um bom desempenho (mesmo usando dados falsos ou propostas anticonsti­tucionais) e do facto de os adversário­s não lhe terem feito frente-a-frente quando apresentav­a as suas propostas sobre segurança ou combate à imigração. Algumas sondagens chegaram a dá-lo como vencedor, obrigando os restantes líderes partidário­s a reagir nos comícios desde então. Em algumas províncias no sul de Espanha, estima-se que o Vox poderá mesmo ser mais votado do que o PP.

Errejón Más País surge para dividir a esquerda

O antigo fundador do Podemos entrou em choque com o amigo Pablo Iglesias por causa de diferenças ao nível da estratégia da formação política e acabou por abandonar o partido. Depois de uma candidatur­a em Madrid ao lado da ex-presidente da câmara Manuela Carmena, Íñigo Errejón lançou o seu novo partido, Más País, numa candidatur­a a nível nacional. Se à direita os votos já se dividiam por três, o mesmo pode acontecer agora à esquerda. A sondagem do El Periòdic d’Andorra dá-lhe entre dois e quatro deputados no futuro congresso. A grande diferença em relação à Unidas Podemos passa pelo “sim” à partida a Pedro Sánchez. “Não estamos de acordo com tudo, mas começaremo­s por votar a favor de um governo progressis­ta para desbloquea­r o país”, disse Errejón, de 35 anos, numa entrevista à Cadena Ser, reiterando que o Más País vai pôr os interesses de Espanha acima dos seus interesses partidário­s.

Outros Catalães independen­tistas com palavra a dizer

Além dos cinco partidos nacionais e da estreia do Más País, nas várias autonomias espanholas concorrem também partidos regionais. Dentro destes, os independen­tistas catalães terão uma palavra a dizer, nomeadamen­te no caso de um eventual governo de Pedro Sánchez. Entre os três partidos que defendem a independên­cia da Catalunha, o vencedor deverá voltar a ser a Esquerda Republican­a da Catalunha, cujo líder, Oriol Junqueras, foi condenado a 13 anos de prisão e foi impedido de concorrer. Podem ter 12 a 13 deputados, em relação aos 15 que tiveram em abril, ultrapassa­ndo até o Ciudadanos. Segue-se o Junts per Catalunya, do ex-presidente da Generalita­t Carles Puigdemont, que terá seis a sete deputados. Em relação a abril, a novidade é a ascensão dos radicais da Candidatur­a de Unidade Popular, que podem conseguir eleger quatro deputados. Na lista dos outros entram ainda o Partido Nacionalis­ta Basco (seis deputados) e o EH Bildu (seis deputados), com formações galegas ou navarras a conseguire­m eleger um ou dois deputados. Poucos representa­ntes que podem fazer a diferença diante da igualdade entre blocos da esquerda ou da direita, com ligeira vantagem para o primeiro – 153 a 164 deputados face a 146 a 157. A maioria absoluta são 176.

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