Diário de Notícias

Deputados sob pressão para valorizar residência alternada Tema que ficou pendurado no final da última legislatur­a está de regresso à agenda. Petição a defender coabitação com ambos os pais é discutida na sexta-feira. PAN já entregou projeto.

- SUSETE FRANCISCO

AAssemblei­a da República discute já na próxima semana a instituiçã­o da figura da residência alternada entre os dois pais como o regime preferenci­al a adotar em caso de divórcio ou separação. Com várias iniciativa­s legislativ­as já prometidas sobre esta matéria, não é claro se os partidos vão avançar imediatame­nte com projetos de lei, acompanhan­do a discussão da petição que está agendada para a próxima sexta-feira. Mas, agora ou mais adiante, os deputados vão ser chamados a pronunciar-se sobre esta matéria, que caducou sem ir a votos no final da última legislatur­a.

O PAN já entregou na Assembleia da República um projeto de lei que consagra a residência alternada como o modelo preferenci­al a adotar pelos juízes. “O tribunal deverá privilegia­r o modelo de residência alternada, sempre que tal correspond­a ao superior interesse do filho, quando ponderadas todas as circunstân­cias relevantes atendíveis, excecionan­do-se o decretamen­to deste regime aos casos de abuso infantil, negligênci­a e violência doméstica, ajustando o tempo em que a criança vive na residência de cada progenitor em função das suas necessidad­es e interesses”, refere o projeto do PAN. Há duas diferenças substancia­is relativame­nte ao texto apresentad­o na legislatur­a anterior: desaparece­u a referência a que decisão deve ser tomada “independen­temente de acordo dos pais” e foram expressame­nte incluídas as três exceções enunciadas. O DN questionou o PAN sobre se pretende agendar o seu projeto para a próxima semana, mas não obteve resposta.

Outra proposta poderá vir do PS, que em março deste ano apresentou um projeto que institui a residência alternada como o regime a privilegia­r pelos juízes – o que significa que deve ser a primeira solução a ser considerad­a, sem prejuízo de os tribunais poderem determinar outro desfecho em função das circunstân­cias de cada caso. O PS tamciação bém não esclareceu se tenciona reapresent­ar o projeto. Na altura, a iniciativa apresentad­a pelo PS mereceu a concordânc­ia expressa do PSD. Agora, fonte da direção parlamenta­r do PSD adianta que o partido não avançará para já com uma proposta própria, mas não está fechado que venha a fazê-lo mais tarde. A mesma fonte acrescenta que, atendendo à mudança na bancada, é necessário que os deputados possam debruçar-se novamente sobre esta matéria.

O BE diz estar a “analisar o tema” e o PCP remete também para mais tarde uma posição.

Muitas cautelas num tema que é alvo de grande controvérs­ia e que motivou mesmo uma tomada de posição por parte de 27 associaçõe­s ligadas aos direitos das mulheres, que escreveram uma carta aberta a todas as bancadas parlamenta­res, defendendo que os deputados não devem impor a residência alternada como regra. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV ), a Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, a Assode Mulheres contra a Violência ou a Capazes foram algumas das entidades que se manifestar­am contra.

A polémica tem origem numa petição – precisamen­te a que vai ser discutida na sexta-feira – promovida pela Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Defesa dos Direitos dos Filhos, que deu entrada na AR a 17 de julho de 2018, com 4169 assinatura­s, número que obriga à sua discussão em plenário. Mas não mais do que isso: as petições, por si só, não são sujeitas a votação e não têm qualquer validade legislativ­a. Para que isso aconteça é necessário que algum partido apresente um projeto de lei.

PGR a favor, advogados contra Durante o trabalho em comissão parlamenta­r os deputados pediram parecer a várias entidades sobre esta matéria, com a Procurador­ia-Geral da República (à data ainda liderada por Joana Marques Vidal) a mostrar-se desfavoráv­el à solução preconizad­a na petição, classifica­da como “demasiado impositiva” por elevar “cegamente a fixação da residência alternada à categoria de regime-regra”. Mas foi precisamen­te o parecer da PGR que abriu caminho à solução que viria a ser proposta pelo PS, sugerindo a coabitação com ambos os pais como um regime privilegia­do.

No mesmo documento, a PGR apontava a “valia de uma alteração legislativ­a”, sublinhand­o a “falta de referência expressa” a esta solução na lei atual. A que acresce, dizia ainda a PGR, a “circunstân­cia de na jurisprudê­ncia dos nossos tribunais, designadam­ente dos tribunais superiores, constituir ainda regra a fixação de uma residência única, em detrimento do regime de residência alternada, ainda que paulatinam­ente pareça assistir-se a uma inversão desta tendência”.

Em sentido contrário, a Ordem dos Advogados defendeu que a residência alternada pode vir a aumentar a conflitual­idade entre os progenitor­es.

Ricardo Simões, presidente da Associação Portuguesa para a Igualdade Parental e Direitos dos Filhos, não espera que saiam decisões do debate desta semana, mas diz esperar que o assunto vá a votos em 2020. “A altura ideal teria sido o fim da última legislatur­a. Já tínhamos percorrido todos os passos, houve uma grande discussão pública, mas não houve possibilid­ade de agendament­o... ou outra razão que se possa alvitrar”, diz ao DN. Quanto às soluções legislativ­as que se desenham, Ricardo Simões diz que não é o que pretendia a associação , mas é um “pequeno passo” muito relevante. “Em matéria de direito da família sempre se avançou com pequenos passos e este é um passo muito importante no sentido da igualdade.”

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal