A queixa de um empresário francês: “Fui enganado por Pardal Henriques e quero recuperar o dinheiro”
O advogado e ex-vice-presidente do sindicato dos motoristas, Pedro Pardal Henriques, é alvo de uma queixa no DIAP por burla. A acusação é feita por Jean-Christophe Otulakowski, investidor francês em Portugal, que falou pela primeira vez sobre o caso.
Esta não é a única queixa por burla de que Pedro Pardal Henriques é acusado, mas é a única feita formalmente.
Oempresário francês Jean-Christophe Otulakowski tem 60 anos e ninguém o conhece em Portugal. Mas é ele o autor da queixa-crime por burla que foi apresentada contra o advogado Pedro Pardal Henriques, candidato pelo partido PDR às eleições de outubro, e ex-vice-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP).
O francês, que tem investimentos em Portugal, já foi ouvido no âmbito do inquérito judicial do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e garante que Pardal Henriques lhe “ficou com 85 mil euros”. Esse valor ter-lhe-á sido entregue para comprar uma propriedade no centro do país, além de outras quantias menores para cobrirem serviços de consultadoria jurídica que, garante, não foram prestados. Pedro Pardal Henriques desmente tudo isto e acrescenta que ainda não foi notificado do processo.
“Já fez um ano desde que fui enganado e quero recuperar o meu dinheiro. Queria dar à justiça tempo de fazer o seu trabalho antes de falar com a imprensa, mas fico muito revoltado quando vejo o Dr. Pedro Pardal Henriques na televisão a falar em nome dos camionistas ou a candidatar-se às eleições [legislativas]”, disse Christophe Otulakowski ao DN, durante a sua última estada em Portugal para se reunir com a advogada que o representa no processo da queixa-crime contra o ex-vice-presidente do SNMMP.
Jean-Christophe Otulakowski está reformado e tem uma empresa na área dos plásticos decorativos com os filhos, em La Roquebrussanne, na região francesa de Provence des Alpes et Côte d’Azur, onde vive. Interessou-se por comprar uma propriedade em Portugal, onde pudesse passar parte do ano, e foi-lhe recomendado que o fizesse com a ajuda de um advogado que conhecesse bem as questões jurídicas do país e comunicasse fluentemente em francês.
Em abril do ano passado, foi convidado para participar num fórum de investidores em Portugal pela Câmara do Comércio Franco-Portuguesa, uma organização que ajuda os portugueses que querem investir em França e vice-versa. Nesta ocasião diz ter conhecido Pardal Henriques, que lhe foi apresentado como membro e administrador da delegação deste organismo em Nice, na região onde Jean-Christophe Otulakowski reside. Falava francês fluentemente e dizia-se especializado no apoio jurídico a investidores franceses com interesse na área do imobiliário em Portugal.
Segundo o empresário, combinaram encontrar-se no dia a seguir no escritório do advogado para acordar os próximos passos: a aquisição de uma propriedade no centro do país e a constituição de uma sociedade para estabelecer na Zona Franca da Madeira. Logo nesse primeiro dia, Christophe Otulakowski indica ter pago ao advogado dois mil euros em numerário por serviços de consultadoria, que garante não terem sido prestados. Seguiram-se, no dia 3 de junho de 2018, os 85 mil euros, transferidos da conta da empresa de Otulakowski para outra no Deutsche Bank em Portugal, que alegadamente pertence a Pardal Henriques. O objetivo era cobrir todas as despesas na compra do imóvel – algo que, segundo fontes contactadas pelo DN, é habitual.
“Ele não parava de inventar”
Otulakowski diz que começou a questionar a situação quando não obteve confirmação de que a transferência tinha sido recebida, não teve notícias do imóvel e o nome da empresa que pretendia constituir já pertencia a outras pessoas.
O que o levou a transferir 85 mil euros para a conta de Pedro Pardal Henriques? “Ele tinha-me sido recomendado pela Câmara do Comércio Franco-Portuguesa, portanto, estava descansado”, responde.
“Quando lhe pedi o dinheiro, ele não parava de inventar histórias: disse que a conta estava bloqueada, porque faltava um papel do fisco português, que os fundos estavam a ser verificados pelo Banco de Portugal, doutra vez uma funcionária do seu escritório disse que ele estava de férias. Depois deixou de me atender o telefone, mas quando telefonei do telemóvel da minha mulher, disse que tinha o filho doente no hospital”, indica o empresário.
Pedro Pardal Henriques nega todas as acusações e garante não ter contacto com o empresário francês “há vários anos”. “A única coisa que o senhor Christophe Otulakowski me transferiu foram os meus honorários de outros processos, de que eu não posso adiantar muito mais pelo sigilo a que estou
vinculado [enquanto advogado]”, responde ao DN. “Quem compra uma casa não transfere dinheiro para um advogado para a comprar. O mesmo em relação à constituição de um empresa. Isso não tem pés nem cabeça”, acrescenta.
O advogado assegura ainda não ter conhecimento de nenhuma queixa-crime apresentada contra si no DIAP, apesar de a Procuradoria-Geral da República já ter vindo confirmar a existência da queixa de que agora se dá conta.
No entanto, em e-mails enviados pela conta de correio eletrónico da sua empresa Pelicanus Corporate Advisors (com sede na morada da atual sociedade de advogados International Lawyers Associated, nas Avenidas Novas, em Lisboa, onde funciona também o sindicato) a Otulakowski, anexados na queixa-crime feita ao DIAP, a que o DN teve acesso, é admitido que a transferência de 85 mil euros foi recebida.
No dia 23 de julho, em resposta ao pedido de reembolso do empresário francês, o escritório do advogado enviou a seguinte mensagem: “A pedido do Dr. Pedro informou-lhe que a transferência já foi efetuada. Devemos esperar o período que você disse. Se tudo corEsta rer bem, o dinheiro estará na sua conta daqui a alguns dias.”
E no início do mês seguinte (6 de agosto), o escritório de Pedro Pardal Henriques informa: “O dinheiro que transferiram para a minha conta encontra-se bloqueado à ordem de um processo judicial. Ainda não tenho informações sobre o assunto.”
Desde então, houve várias conversas entre o escritório de Pedro Pardal Henriques e a representante de Christophe Otulakowski. Segundo a advogada do investidor francês, têm sido feitas promessas de reembolso, mas nenhuma se concretizou.
não é a única queixa por burla de que Pedro Pardal Henriques é acusado, mas é a única feita formalmente. Em abril, quando o DN avançou com a notícia desta queixa, eram denunciadas outras situações semelhantes. Uma protagonizada por uma agente imobiliária francesa que agora trabalha na zona de Cascais e Sintra, que se diz uma das vítimas da alegada má prática do advogado português. Segundo a agente, Pedro Pardal Henriques pediu-lhe e ao seu marido dez mil euros para a constituição de duas empresas relacionadas com imobiliário e ginásios, que não terão sido registadas.
O líder dos camionistas
O nome de Pedro Pardal Henriques começou a aparecer nos jornais e nas televisões quando surgiu como porta-voz e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas, que ameaçou parar o país com duas greves, em abril e em agosto deste ano. No entanto, não existe nenhuma ligação óbvia entre o advogado e os camionistas: Pedro Pardal Henriques nunca foi motorista.
Pardal Henriques está inscrito na Ordem dos Advogados desde junho de 2017, apesar de ter uma empresa de gestão e negócios desde 2016 e ser sócio de uma firma de mediação imobiliária desde 2007, que diz nunca ter funcionado. Motivos pelos quais tem um processo a decorrer contra si na Ordem dos Advogados para averiguar a possibilidade de incompatibilidade dos projetos.
Será ainda membro da mais antiga e influente obediência maçónica portuguesa, o Grande Oriente Lusitano, integrando a loja Simpatia e União. E foi também candidato às últimas eleições legislativas, pelo Partido Democrático Republicano, fundado e liderado pelo advogado António Marinho e Pinto.