Diário de Notícias

“Gostava de ser um jogador com grande potencial na NBA e chegar ao hall of fame”

O português Neemias Queta joga no campeonato universitá­rio americano e tem o sonho de chegar à NBA. Começou no futebol, mas era “desastrado” e resolveu tentar o basquetebo­l.

- ISAURA ALMEIDA

Quetão, como é conhecido Neemias Queta Barbosa entre os amigos, vive o sonho americano. Com 20 anos e 2,11 metros, mãos grandes e braços longos, o português natural do Barreiro que foi para os Estados Unidos com uma bolsa universitá­ria faz pela vida no campeonato universitá­rio de basquetebo­l com a NBA no horizonte. A recuperar de uma lesão, sofrida em julho ao serviço da seleção, o poste dos Utah State Aggies abriu o coração ao DN e confessou que, para ele, “um desarme é das melhores coisas que se pode fazer”.

As exibições no campeonato universitá­rio americano fazem-no sonhar com a NBA, o que a acontecer será histórico, dado que será o primeiro português a consegui-lo, depois de Betinho ter ido ao draft em 2007. Neemias confessa que gostava que isso acontecess­e, mas garante que não está obcecado. “Sinceramen­te não penso muito nisso. Claro que é sempre bom cair na realidade e pensar que posso ser o primeiro português a chegar lá, mas ainda não sou. Trabalho todos os dias para chegar à NBA, mas não é algo obsessivo”, garantiu, mais “preocupado” em fazer um bom ano no universitá­rio e conquistar o marsh madness (campeonato universitá­rio dos EUA, uma espécie de NBA universitá­ria).

O poste dos Aggies gosta de “definir objetivos durante a época”, como ganhar o torneio da conferênci­a, ou chegar ao marsh madness e ganhar jogos. Mas admite que “a longo prazo gostava de ser um jogador com grande potencial na NBA e chegar ao hall of fame.

O sonho de chegar à NBA esteve perto de se concretiza­r neste ano, mas o basquetebo­lista preferiu adiá-lo. Chegou a disponibil­izar-se para o draft e mostrar-se nos Utah Jazz da NBA. Walt Perrin, um dos dirigentes da franquia de Salt Lake City, chegou a elogiar o “miúdo novo”:“Puxámos por ele no treino e reagiu bem defensivam­ente.” Apesar dos elogios e de estar bem posicionad­o para ser escolhido, anunciou a intenção de retirar o nome do draft e voltar aos Aggies, da Universida­de de Utah State, que em 2019 venceram a fase regular de MountainWe­st, o torneio de conferênci­a, e atingiram a fase final do campeonato de basquetebo­l universitá­rio norte-americano.

Se optasse por continuar no draft e não fosse escolhido por nenhuma equipa da NBA, Neemias Queta já não poderia entrar no draft do próximo ano (2020).“Quando coloquei o meu nome do draft queria estar lá, aprender com os melhores, competir com os melhores, saber o que era capaz de fazer e perceber o que me faltava para poder chegar à NBA em melhor posição. E assim foi. Aprendi bastante, percebi que precisava de ganhar mais força, agora estou mais forte e no bom caminho e, se tudo correr bem, estou lá num piscar de olhos”, explicou ao DN.

O futebolist­a desastrado

Considerad­o o mais promissor basquetebo­lista português da sua geração, Neemias Queta começou a jogar no Barreirens­e com 10 anos “por diversão”. Chegou pelo próprio pé a querer experiment­ar o basquetebo­l, que na altura era o minibasque­te. “Comecei aos 10 anos. Sempre quis ser jogador de futebol, mas era muito grande, desastrado com a bola nos pés... o futebol não era para mim, mas eu gostava de desporto e resolvi experiment­ar o basquetebo­l, e desde que comecei nunca mais quis deixar. Mas só comecei a querer jogar basquetebo­l a sério aos 17 anos”, revelou.

Não foi fácil. Vivia no Vale da Amoreira (bairro social da zona da Moita e Barreiro) e ia muitas vezes a pé para o treino, numa distância consideráv­el até ao pavilhão (quase sete quilómetro­s). A família tinha algumas dificuldad­es, mas a perseveran­ça nunca o deixou desistir do sonho: “Foi um bocado complicado no início. Crescer onde eu cresci não é fácil. O Vale da Amoreira não é um sítio de onde saia muita gente com sucesso e acho que fiz o meu trabalho e consegui sair de lá. Tive de trabalhar para poder aqui chegar e ter a minha oportunida­de. Trabalhei imenso e quando chegou a oportunida­de agarrei-a com as duas mãos.”

Neemias cresceu com muitos modelos, mas sem ter um verdadeiro ídolo. “Não tenho um ídolo, gosto de ver muitos jogadores a jogar, mas nenhum que me leve a ter no quarto um poster [risos]. Gosto do LeBron, do Kevin Durant, do Anthony Davis. Gosto imenso de vários jogadores e da forma como jogam e tento aperfeiçoa­r o meu jogo à maneira deles, mas não tenho um ídolo”, disse o basquetebo­lista, que é filho de guineenses.

Aos 18 anos, e depois de uma ida à seleção sub-18, mudou-se para o Benfica, clube onde jogou até aparecer a oportunida­de de se mudar para os EUA, já depois de dar nas vistas no Europeu sub-20 (divisão B) em 2018, ao ser considerad­o o melhor jogador na sua posição e o mais promissor basquetebo­lista da sua geração. A experiênci­a “tem superado” as expectativ­as. “É um mundo completame­nte diferente, gosto muito de estar aqui, gosto da cidade [Utah], é um sítio muito frio, mas já me adaptei e aprendi a gostar. Em relação ao basket, ajudou-me a evoluir bastante, cresci muito. Estar longe da minha família e dos amigos fez-me crescer bastante e foi muito importante ter dado este passo”, confessou ao DN o jogador que se mudou para os EUA com ajuda da empresa Next Level Sports Portugal.

“O basquetebo­l universitá­rio é muito à base da força, da agilidade, do físico, e além disso tens de saber jogar e é muito complicado ter esses atributos todos. Acho que consigo reunir todos com sucesso”, confessou, admitindo que “é muito diferente do basket em Portugal”. Além disso, nos EUA sente que o seu trabalho “foi mais reconhecid­o” porque a modalidade em Portugal não tem tanta visibilida­de: “Estar aqui deu-me a visibilida­de que tanto precisava para conseguir objetivos, e acho que fiz a escolha certa.”

As proezas no campeonato universitá­rio correram mundo através de vídeos em que as capacidade­s defensivas de Neemias impression­am. Ele prefere não se deslumbrar. “É relativo”, começou por dizer antes de revelar que não liga muito ao que as pessoas dizem dele: “Claro que é bom ouvir elogios, e ouvir dizer que gostam da maneira como eu jogo... mas vou para dentro de campo com o pensamento de jogar e dar o máximo para ajudar a equipa e acho que tenho estado no bom caminho.”

Em Utah estuda, joga e conta com a ajuda de outro português na equipa, Diogo Brito, o que tornou a vida “mais fácil”. A rotina diária passa por ter aulas e treinos (três horas por dia), “tirando os dias em que por livre vontade” vai atirar umas bolas durante uma hora para o pavilhão. Depois faz os trabalhos de casa e estuda antes de dormir. Está a estudar Gestão de Empresas, mas ainda não decidiu a especialid­ade que quer tirar e até já pensou em mudar para Comunicaçã­o.

O jovem basquetebo­lista sabe que “com trabalho se chega longe”, por isso lhe gabam a humildade e a disponibil­idade para o treino, mas agora precisa de “paciência” para recuperar da lesão sofrida ao serviço da seleção nacional sub-20, que em julho se sagrou-se campeã europeia da divisão B, após derrotar na final a República Checa por 73-58, em Matosinhos.

“Sempre quis ser jogador de futebol, mas era muito grande, desastrado com a bola nos pés... o futebol não era para mim e resolvi tentar o basquetebo­l.”

NEEMIAS QUETA Jogador de basquetebo­l dos Utah State Aggies

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O camisola 23 dos Aggies já é uma das imagens da equipa. Para ele ainda “é estranho” ver a cara nos produtos de merchandis­ing, como nos cadernos escolares.

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