Duas mulheres na lista do FBI
A nova-iorquina Joanne Chesimard, foi a “primeira mulher a constar na lista”, por ter assassinado um polícia. Vive em Cuba. A jordana Ahlam Ahmad al-Tamimi é suspeita de ter participado no atentado terrorista de agosto de 2001 numa pizaria em Jerusalém que matou 15 pessoas, entre as quais duas norte-americanas, e feriu mais de cem.
Um arrependido do Estado Islâmico é o próximo contemplado com 25 milhões de dólares por ter denunciado o líder da organização terrorista. O prémio é atribuído pelo FBI, que lançou a lista dos mais procurados na sequência dos atentados do 11 de Setembro.
Terrorista morto, terrorista posto. Não é a aclamação imediata de um monarca, mas a sucessão na chefia do Estado Islâmico também se mostrou expedita e não há indicações de que terá resultado de um voto democrático. À morte de Abu Bakr al-Baghdadi, resultante da operação levada a cabo por forças dos Estados Unidos no norte da Síria, no dia 27 de outubro, a organização terrorista respondeu quatro dias depois, confirmando a morte do cabecilha e anunciando o homem que se segue: Abdullah Qardash.
Segundo Washington, Al-Baghdadi fez-se explodir antes de o grupo de operações especiais o ter capturado. Mas isso não impede que quem denunciou a sua localização – um desertor do Estado Islâmico – vá receber parte ou a totalidade do prémio de 25 milhões de dólares por ter colaborado com as forças curdas, que por sua vez contactaram os norte-americanos. O prémio é atribuído pelo Federal Bureau of Investigation (FBI), tal como o faz há 70 anos com a lista dos dez fugitivos mais procurados. O responsável pelos ataques terroristas que derrubaram as Torres Gémeas em Nova Iorque e atacaram o Pentágono em Washington, Osama bin Laden, teve o seu nome na lista dos dez mais procurados. Até que, no dia 10 de outubro de 2001, o presidente dos Estados Unidos anunciou a criação de uma lista específica para terroristas e o nome do líder da Al-Qaeda foi transferido para a nova, ao lado de outros terroristas suspeitos de terem atacado cidadãos ou propriedade norte-americana.
“Os terroristas tentam agir nas sombras. Eles tentam esconder-se. Mas nós vamos acender a luz da justiça sobre eles. Nós enumeramos os seus nomes, publicamos as suas fotografias, despojamo-los da sua privacidade. O terrorismo tem um rosto, e hoje expomo-lo para o mundo ver”, disse George W. Bush na cerimónia a que presidiu na sede do FBI, em Washington. “Os homens aqui na
Baghdadi fez-se explodir, mas o valor a pagar a quem o denunciou não diminuiu.
parede foram colocados na lista por causa de grandes atos de maldade. Planeiam, promovem e cometem assassínios. Enchem as mentes dos outros com ódio e mentiras. E, pela sua crueldade e violência, traem qualquer fé que defendam. Por fim, nenhum canto do mundo será escuro o suficiente para que se ocultem”, prenunciava Bush.
Mas não foi bem assim. Da lista original de 22 suspeitos de terrorismo, quatro foram capturados, nove foram executados de forma extrajudicial – ataques aéreos, drones e outros meios não revelados – e outros nove continuam por localizar.
“Não creio que tenha sido uma perda total de tempo, mas teve um impacto limitado”, comentou Thomas Joscelyn, editor do The Long War Journal à ABC News, explicando que os poucos homens trazidos à justiça resultaram maioritariamente de operações dos serviços secretos internacionais.
Al-Qaeda no topo
À cabeça dos mais procurados está Ayman al-Zawahiri. O médico egípcio, que ascendeu à liderança da Al-Qaeda após a execução de Bin Laden, foi acusado pela justiça norte-americana pelo seu alegado papel nos atentados à bomba contra as embaixadas dos Estados Unidos em Dar es Salaam (Tanzânia) e Nairobi (Quénia) em 7 de agosto de 1998.
O programa Rewards for Justice , do Departamento de Justiça, estabeleceu que quem forneça informações que levem diretamente ao aprisionamento ou condenação de Zawahiri tem direito a 25 milhões de dólares.
Saif al-Adel e Abdullah Ahmed Abdullah são procurados pelos mesmos crimes de Zawahiri e que resultaram na morte de mais de 200 pessoas. O primeiro, ex-coronel das Forças Armadas egípcias, assumiu a liderança da Al-Qaeda de forma interina em 2011. Segundo o ex-diretor da CIA George Tenet, Adel tentou aceder a armas nucleares ou radiológicas. Ambos estiveram no Irão durante vários anos, oficialmente em prisão domiciliária. O filho de Osama bin laden, Hamza, casou-se em 2005 com uma filha de Abdullah e em 2015 disse que teve como mentores o seu sogro e Saif al-Adel. Hamza bin Laden, que era visto como o futuro líder da Al-Qaeda, foi morto numa operação militar “na região Afeganistão/Paquistão” em data incerta, confirmou em setembro o presidente dos EUA, Donald Trump.
Em 2015, Teerão noticiou que Adel e Abdullah foram libertados em troca de um diplomata iraniano raptado no Iémen. As agências de informações acreditam que os terroristas estão ou estiveram na Síria em operações com a Frente al-Nusra, uma derivação local da Al-Qaeda. Ambos figuravam na lista original de 22 terroristas e têm um prémio de dez milhões de dólares cada – valor que foi duplicado em 2018.
Da lista original figuram também Ali Atwa e Hasan Izz-Al-Din pelo papel no sequestro aéreo do voo TWA 847, em junho de 1985, que resultou no assassínio de um cidadão norte-americano. A estes dois, o FBI juntou mais tarde o nome de Mohammed Ali Hamadei. Há ainda Ali Saed bin Ali al-Hoorie, Ibrahim Salih Mohammed al-Yacoub e Abdelkarim Hussein Mohamed Al-Nasser, procurados pelo ataque terrorista em Khobar, na Arábia Saudita, em 1996. O camião armadilhado, que matou 20 pessoas e feriu 500, visou uma zona residencial habitada por militares norte-americanos.
Das cabeças postas a prémio por George W. Bush continua sem ser localizado Abdul Rahman Yasin, pelo seu papel no primeiro ataque terrorista ao World Trade Center, em 1993, do qual resultaram seis mortos. Neste caso o FBI não ficou bem na fotografia: chegou a interrogar o suspeito de ter fabricado o engenho explosivo, tendo este posteriormente fugido para o Iraque.
Norte-americanos na lista
Yasin é um cidadão norte-americano e não é caso único na atual lista de 28 suspeitos de terrorismo. A ele junta-se uma mão-cheia de naturais ou naturalizados norte-americanos. Jehad Mostafa e Liban Haji Mohamed são procurados pela ligação à organização terrorista Al-Shabaab, da Somália; Ahmad Abousamra tentou obter treino militar junto de organizações terroristas no Paquistão e no Iémen.
Dois outros norte-americanos foram incluídos no rol dos mais procurados por outros motivos que não os do fundamentalismo islâmico. Daniel Andreas San Diego, um extremista dos direitos dos animais é suspeito de duas explosões – sem vítimas – ocorridas em 2003 em empresas de biotecnologia na Califórnia.
Em 2013, Joanne Chesimard recebeu a duvidosa distinção de “primeira mulher a constar na lista”, passados 40 anos do assassínio de um polícia, pelo qual foi condenada. A nova-iorquina, conhecida pelo nome de guerra Assata Shakur (tia do rapper Tupac Shakur), pertenceu ao Exército Negro de Libertação, um movimento extremista que resultou da cisão dos Panteras Negras. Em 1979, Chesimard fugiu da prisão e manteve-se na clandestinidade até que, em 1984, foi localizada em Cuba, onde se mantém, com asilo político. Em 2005, o próprio Fidel Castro havia defendido Assata Shakur, vítima de uma “mentira infame”.
Há uma outra mulher entre os 28. É a jordana Ahlam Ahmad al-Tamimi. É suspeita de ter participado no atentado terrorista de agosto de 2001 numa pizaria em Jerusalém que matou 15 pessoas, das quais duas norte-americanas, e feriu mais de 100.
Mais piratas do ar
O terrorismo na versão aérea recebeu mais atenção na atual lista. Muhammad Ahmed Al-Munawar (Kuwait), Jamal Saeed Abdul Rahim (Líbano) Wadoud Muhammad Hafiz Al-Turki (Iraque) e Muhammad Abdullah Khalil Hussain Ar-Rahayyal (Líbano) estão há muito indiciados pela justiça norte-americana pelo sequestro do voo 73 da Pan Am durante uma escala em Karachi, Paquistão, em setembro de 1986. Morreram 20 passageiros e elementos da tripulação, dos quais dois norte-americanos.
O suspeito mais velho, que terá 83 anos, é Husayn Muhammad al-Umari. Conhecido como o homem-bomba, este palestiniano perito em explosivos terá preparado a bomba que foi colocada sob um assento no voo 830 da Pan Am. Ativada em agosto de 1982, quando o avião estava em rota do Japão para o Havai, a bomba matou um passageiro de 16 anos e feriu outras 16 pessoas.
Quem tenha informações sobre os suspeitos fora dos Estados Unidos deve contactar a embaixada ou consulado norte-americano, diz o FBI, que garante o anonimato. Em todos os casos, o departamento de investigação adverte: deve ser considerado armado e perigoso.
passa no Parlamento britânico não mexe com os seus planos de vida. Apesar de o governo do primeiro-ministro conservador Boris Johnson já estar a causar receios em vários portugueses, que podem ver rejeitado o seu estatuto de residente e passar a viver ali como ilegais depois de terminarem o prazo de regulamentação da sua situação, com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
Nazaré, 50 anos, a portuguesa do lado de lá do balcão, e a mais antiga do estabelecimento, ouve a conversa, de cotovelos pousados na bancada, carregando uma expressão triste e olhando o tempo que faz lá fora. “Olhe para isto, sempre tão cinzento, sempre tão cinzento. Há lá sol como o da minha terra!?”
É assim desde que chegou, há 20 anos, num domingo de muita chuva, lembra. “Chovia que transbordava e o céu estava negro.” Foi a 31 de outubro, Dia das Bruxas, acrescenta. Carrega na última palavra, como se a obscuridade desse dia tivesse ditado tudo o que representaria para Nazaré ter aterrado em Londres. Não foi amor à primeira vista. Nem à segunda ou terceira. Na verdade, nunca houve
Pela mesma altura em que Vítor dá o primeiro gole no seu abatanado, a britânica Michelle, 60 anos, começa o dia à porta de Westminster, de cartazes em riste. É assim há dois anos. Para ela, o Brexit é o motivo mais forte pelo qual alguma vez teria decidido sair à rua e protestar. “A primeira vez que decidi protestar foi pelo Brexit. Comecei há dois anos e continuo por cá”. Todos os dias úteis da semana. Nestes dias de chuva, apresenta-se de quispo, com uma bata onde tem inscrito o apelo ao voto pela saída do Reino Unido da UE e dois cartazes na mão: “406 deputados votaram para sair da UE. Os deputados devem entregar um Brexit real”, alerta num deles.
“Lá fora devem achar que nós somos doidos, não é?”, referindo-se ao grupo de dez pessoas atrás de si, que apelam a que o Reino Unido saia da União Europeia. Por aqui, os turistas vão parando e tirando fotografias à pequena multidão que se junta emWestminster, como se fosse peça de um museu. E comenta-se: “É o Brexit. Que doidos”, quase respondendo à questão de Michelle. “Continuam com isto?”, surpreendem-se alguns. E outros mostram-se compreensivos: “Acho que só quem cá vive sabe o que se sente.”
Entretanto, a britânica lembra o ano de 1973, quando o seu país integrou na antiga Comunidade Económica Europeia (CEE), a antepassada da UE. “Parecia uma ótima ideia. Estava tudo bem”, diz. “Mas a UE é política, não uma verdadeira união entre países como prometeu ser.” Por isso, Michelle anseia pelos próximos meses: primeiro, eleições antecipadas, a 12 de dezembro; depois, retoma-se a discussão sobre o Brexit, depois de Bruxelas ter aceitado adiar a data da saída até 31 de janeiro de 2020. “Espero que Boris consiga chegar ao Parlamento Europeu com um acordo depois das eleições”, remata.
Não muito longe dali, na Casa Benfica, Vítor dá mais um gole, Nazaré suspira. Por estas portas, o Brexit parece não entrar.
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