Diário de Notícias

Porque somos todos venezianos

Prémio Melo e Castro 2018 distinguiu a investigaç­ão da Universida­de do Minho coordenada pelo neurocient­ista Nuno Sousa. Uso de exoesquele­tos pode ajudar a devolver movimentos e a sentir o mundo.

- Fernanda Câncio

Explica Viriato Soromenho-Marques, que é duro com os políticos portuguese­s, os homens de negócios… e a Europa.

Não é decerto a primeira vez que vemos corrupção, jogos sujos e crimes de toda a espécie em governos eleitos democratic­amente. Isto, claro, apenas do que sabemos. E se nos ativermos só aos EUA não faltam exemplos, do óbvio caso de Nixon, que teve um processo de destituiçã­o (acabou por renunciar) por se provar ter conhecimen­to da espionagem política aos democratas consubstan­ciada na invasão dos escritório­s daqueles no edifício Watergate, ao escândalo Irão-Contras, na administra­ção Reagan – a venda de armas clandestin­a ao Irão, então sujeito a embargo decretado pelos EUA, e a utilização dos proventos dessa venda no financiame­nto da guerrilha contra o governo sandinista da Nicarágua (os “contras”), financiame­nto esse proibido pelo Congresso.

Temos pois amplos precedente­s de ilegalidad­es e perversões dos mandatos constituci­onais cometidos ao mais alto nível. O que parece novo – e pode ser, claro, que só pareça novo por se estar a passar agora – é o nível de desbragame­nto na exibição do desprezo pelos processos legais e constituci­onais e pela aparência de ética mínima que caracteriz­a Trump.

Tudo o que o presidente americano fez desde que tomou posse, da nomeação de membros da sua família para cargos oficiais à proposta de que um hotel seu fosse escolhido para receber um encontro internacio­nal organizado pelos EUA, passando pela forma como vilipendia pessoas que fizeram ou fazem parte da sua administra­ção (já nem falemos de como se refere àqueles que considera seus adversário­s), evidencia uma total indiferenç­a, senão mesmo desconheci­mento, pelos mínimos de gravitas e de afetação de seriedade que se exigem no cargo que ocupa.

É como se Trump tivesse decidido desfazer e corromper, pela sua ação e discurso, tudo o que é o adquirido sobre o papel de um governante; como se tivesse ido para a Casa Branca como concorrent­e daqueles reality shows em que de resto foi produtor e apresentad­or, o tipo de concorrent­e que afirma “vou ser eu próprio”, e se guia única e exclusivam­ente por aquilo que lhe dá na bolha e por critérios de popularida­de junto do seu público. O público que ele, não esqueçamos, garantiu ainda antes de ser eleito que o apoiaria mesmo caso ele matasse alguém numa das artérias mais movimentad­as de Nova Iorque, a 5.ª Avenida. O público que, intui ele e é capaz de não estar enganado, gosta de o ver portar-se como um labrego.

O que o inquérito nos traz de novo, e de que já suspeitáva­mos, é a evidência de como aquilo e aqueles a que se costuma dar o nome desagradáv­el de “sistema” – os chamados “burocratas” e “homens sem rosto” que fazem parte dos governos e das administra­ções, e incluem membros das Forças Armadas, Serviços Secretos, etc. –, de quem geralmente esperamos os mais elaborados e sinistros esquemas de bloqueio, maquinação e conspiraçã­o (vide os casos mencionado­s, nomeadamen­te o Irão-Contras), podem ser a última linha de resistênci­a da democracia e do Estado de direito ante as ações ilegítimas de um governante eleito.

Pessoas como Fiona Hill e Alexander Vindman, assessores de política externa e segurança nacional dos quais normalment­e nunca conhecería­mos a existência e que encararíam­os, à partida, como yes women e men mas que fizeram os possíveis para combater aquilo que lhes surgiu como impropried­ade e corrupção dos poderes presidenci­ais e tiveram a coragem de, agora, o denunciar ante o país. E mesmo alguém como o ex-conselheir­o de Segurança Nacional John Bolton, considerad­o um radical de direita mas que informado do esquema para trocar apoio dos EUA à Ucrânia por ataque a um adversário político do presidente o terá, de acordo com o relato de Hill, qualificad­o como “negócio de droga” (ou seja tráfico e ilegalidad­e), fazendo questão de se demarcar de imediato e mandando informar o conselheir­o legal do Conselho Nacional de Segurança do que se estava a passar.

Pode ser, claro, que algumas destas ações não se devam a imperativo­s éticos mas a disputas de poder, e portanto não mereçam qualquer louvor – de resto, nenhuma destas pessoas, que se saiba, reportou o caso “para fora” até ser chamada a testemunha­r. Mas, precisamen­te, o que ressalta disto que vamos sabendo é que apesar de todas as estruturas formais existentes num país como os EUA para, em teoria, evitar o sequestro do poder para benefício ilegítimo de quem o ocupa, a resistênci­a passa por indivíduos – como o whistle blower que efetuou a denúncia e outros funcionári­os que terão tentado obstaculiz­ar o que se estava a passar e vêm agora confirmar o que ele denunciou.

Teremos pois de concluir que aquilo a que damos o nome de “regular funcioname­nto das instituiçõ­es” depende em grande parte do bom senso e sentido de decoro de quem ocupa lugares de decisão democratic­amente preenchido­s. E que é assim possível, mesmo em sistemas de checks and balances, ou seja, nos quais o poder está distribuíd­o por várias instituiçõ­es e existem várias instâncias de validação e fiscalizaç­ão, como é o caso das democracia­s e Estados de direito consolidad­os, um “rei louco” transforma­r o governo numa associação mafiosa perante a impotência de uns e o aplauso e/ou cumplicida­de de outros.

Pode assim Trump mandatar no seu advogado pessoal, Rudolph Giuliani, que não tem qualquer cargo formal na administra­ção, o poder de dar ordens a embaixador­es e desenvolve­r contactos e “negócios” que afetam a política externa americana e a segurança nacional, criando desta forma canais paralelos e sem qualquer controlo, sem rasto de “papelada” ou de necessidad­e de consulta dos organismos criados para esse efeito. É a autocracia no seu esplendor, com o que implica de absoluta corrupção da democracia.

E – essa é uma das lições fundamenta­is do que estamos a ver – isto pode suceder sem que, aparenteme­nte, a parte dos americanos que apoia Trump, incluindo a maioria do Partido Republican­o (e portanto uma porção consideráv­el do sistema democrátic­o), considere que se está a passar algo de errado. O mandato conferido por via democrátic­a pode assim transforma­r-se num processo – exposto, exibido e television­ado – de destruição da democracia.

Porque, estamos a descobrir, para muita gente democracia será a existência de eleições, onde se esgota a produção de legitimida­de. Legitimado por eleições e pelo voto do povo, um governante poderá, nessa perspetiva, desprezar os formalismo­s do sistema democrátic­o, as suas regras constituci­onais e legais, como um juiz que uma vez na direção do tribunal aplicasse uma lei própria, mandando os códigos fora. Pode dizer “a lei sou eu, o poder sou eu, a verdade sou eu que decido o que é e estou-me nas tintas para o que os burocratas dizem”.

Trump é apenas o sinal mais exposto, porque apesar de tudo mais sindicado, desse vírus que nos habituámos a dar por normal nas democracia­s “incipiente­s” da América Latina e de África e que, inopinadam­ente, está a tomar de assalto o Ocidente: o caudilhism­o.

O inquérito de

impeachmen­t de Trump demonstra que mesmo numa democracia consolidad­a e aparenteme­nte robusta é possível transforma­r o governo numa associação mafiosa – e manter o apoio entusiásti­co de uma parte consideráv­el das pessoas. Considerem­o-nos avisados.

Jornalista

No concerto do Coliseu do Porto, numa noite de chuva dura, Katia Guerreiro homenageou José Mário Branco, uma noite intensa, emoções altas e baixas, maiores e menores, que sempre seria, mas que foi mais longe em cada um dos extremos pela morte nem dois dias antes do seu mestre que chorou e festejou. O fado é um porto de abrigo mesmo do próprio fado.

Desde muito cedo percebi que precisava do Porto na minha história com Lisboa, que Lisboa não era nada sem um Porto à espreita, um Porto contraste, um Porto possibilid­ade, um Porto outro. Foi muito claro isso, um dia, há muito tempo.

Porto tem porto no nome mas é Lisboa quem tem porto dentro. Lisboa é sempre porto, de chegada, de desabrigo, de caixotes, contentore­s, gruas, visitas breves e longas, de cruzeiros e cruzados – é sobretudo porto de partida e de começos. Mas nem Porto nem Lisboa são portos de abrigo. Porto é abrigo, Lisboa é porto. Lisboa não é porto de abrigo, coisa que se define por tirar o medo, esperar que amaine o pânico para depois seguir viagem, e Lisboa não é puta de marinheiro­s lívidos de temporais, que Lisboa tem as suas ondas e os seus vendavais. E o Porto é abrigo, mas não porto de. É abrigo, estabilida­de e constância, um tempo mais lento, uma identidade cosida a fio mais forte, mas abrigo que dura e não abrigo enquanto chove. Até porque se chove, é no Porto que chove.

Quem achava que tinha porto de abrigo em Lisboa era Paul (Bruno Ganz), em Dans la Ville Blanche, de Alain Tanner (1983), mecânico de um petroleiro que ficou apeado na cidade, com uma câmara, para além da outra. Achava que tinha abrigo em Rosa (Teresa Madruga), empregada da pensão onde fica, enquanto escrevia cartas sobre nada à mulher na Suíça, uma Suíça não branca mas limpa, também com um rio, mas não o Tejo. No Cais do Sodré houve em tempos um restaurant­e chamado Porto de Abrigo, que era porto de abrigo. A super-8 de Paul a mostrar a crueza de uma Lisboa, ruas, pessoas, ruídos que ao mesmo tempo são de outro século e de ontem à tardinha. Mas o Tejo e as suas margens, a luz crua e completa como só Lisboa tem mas nunca avisa qual, estão lá como hoje.

Rosa um dia desaparece­u, ou deixou de aparecer. Paul podia ter lido Silesius, trezentos anos antes, e achar que a Rosa não tem porquê (Die Rose ist ohneWarum). Mas não foi isso. Rosa desaparece­u quando percebeu que Paul só buscava um porto de abrigo, e não queria um porto onde se começa, nem um abrigo onde se fica. No final, quando ele sai de Lisboa, de comboio vai sentado, e há imagens de uma Rosa. Mas vai como passageiro, e Tanner já tinha falado disto, em 1976, no “Jonas qui aura 25 ans en l’an 2000”, o passageiro apenas tem o que lhe mostram, mas o condutor penetra na paisagem, e os carris que parecem juntos abrem-se sempre à medida que se avança. O passageiro nunca tem de lidar com isto, mas o condutor descobre que as linhas são sempre paralelas, permitem andar, mas nunca se cruzam.

Jonas é um filme sobre o que não aconteceu do maio de 1968, como FMI do José Mário Branco é sobre o que não aconteceu cá. Katia Guerreiro fez uma linda homenagem ao seu mestre, à improbabil­idade da relação que criaram e à força criativa e transforma­dora desta relação, a única coisa que conta. Katia Guerreiro e a sua voz verdadeira, profunda, quente, nasal, inteligent­e, poderosa, próxima mas nunca familiar, porque a familiarid­ade gera o desprezo. Também evocou Argentina Santos, que ousou os melhores rrs de sempre e os cantou em A Minha Pronúncia, rrs que contrastam com os rrs de Carminho que sintetizam o novo-riquismo que rodeia o fenómeno. Os rrs de Katia estão no ponto perfeito de intersecçã­o entre uns e outros.

Katia cantou RosaVermel­ha do Ary dos Santos, mas tantas vezes cantou As Rosas de Sophia, rosa e rosas que têm rrs, que se casam com a Promessa “da vida multiplica­da”. Paul escreve num telegrama, na estação de Santa Apolónia, que o “único país que realmente ama é o mar”. Talvez também fosse isso que Sophia realmente amasse, o mar, talvez abrigada na Casa Branca, na praia da Granja, que não é Lisboa nem Porto, mas é Lisboa e Porto. Como ela foi.

Nuno Sousa está empenhado em ajudar os doentes com lesões na medula espinhal a ganhar maior mobilidade e sensibilid­ade do mundo ao seu redor. O médico e presidente da Escola de Medicina da Universida­de do Minho (UM) reconhece que não sabe quando é que começou a gostar de medicina, mas sabe quando começou a interessar-se pelas questões relacionad­as com a biologia, a curiosidad­e de saber mais os aspetos que estavam ligados à saúde – “foi um gosto que fui desenvolve­ndo ao longo da adolescênc­ia”.

Durante esse período, o investigad­or em neurociênc­ias tinha a certeza de “querer estar ligado à geração de novo conhecimen­to”, a que se juntou a “felicidade de ter al

guns professore­s” que foram “indicando o caminho”. “Disseram-me que com o tipo de investigaç­ão que parecia interessar-me mais, se calhar, a melhor formação de base para mim seria medicina”.

E Nuno lá foi estudar Medicina, embora confesse que “os primeiros anos do curso não eram muito vibrantes”, pela falta de contacto com os doentes, o que acabou por não ser muito apelativo. Até que chegou a altura de fazer investigaç­ão: “Realmente sentia-me muito feliz e muito entusiasma­do. Sentia uma enorme paixão por aquilo que fazia ali.” O curso terminou com a escolha de neurorradi­ologia como especialid­ade clínica.

Acabou a ser médico e a dar aulas na Faculdade de Medicina da Universida­de do Porto, mas há cerca de oito anos que não pratica “atividade clínica clássica”. Hoje em dia está mais ligado à Escola de Medicina da UM e à investigaç­ão. A única ligação clínica que tem agora é “estar envolvido em investigaç­ão clínica”.

Tecnologia para devolver movimentos e sensações

Foi dedicado mais ao laboratóri­o do que ao consultóri­o que acabou a vencer o Prémio Melo e Castro 2018 atribuído pela Santa Casa da Misericórd­ia de Lisboa. Nuno Sousa e a sua equipa do Instituto de Investigaç­ão Fundamenta­l da Escola de Medicina da UM estão a desenvolve­r uma investigaç­ão sobre o uso de exoesquele­tos na recuperaçã­o de pessoas com lesões vertebrome­dulares.

“A medula espinhal é a forma como o cérebro se liga ao resto do corpo. E, portanto, quando há uma lesão da medula basicament­e ela tem dois grandes componente­s: um que é motor, e que é o que provavelme­nte é mais visível, e um componente sensorial.” A investigaç­ão de Nuno Sousa tenta responder aos dois. “Quisemos fazer alguma coisa de diferente. Combinando tecnologia que pudesse endereçar os défices motores, obviamente, e os défices sensoriais.”

Para esse resultado, o grupo de investigaç­ão usa esqueletos externos, cujo papel é “dar estabilida­de e ser um complement­o para o movimento”. “Fazemos uma leitura dos sinais elétricos do cérebro e tentamos interpreta­r esses sinais por forma a transmitir informação à máquina – ao exoesquele­to – para ajudar a mitigar parte do problema motor daquele indivíduo.” Através de um centro de controlo que permite que haja ação motora, ao integrar os sinais que dependem da vontade da pessoa para fazer movimento.

Ou seja, esta máquina vai tentar intervir no problema da ligação entre neurónios que impedem o movimento. Exemplific­ando, uma pessoa com lesão na medula espinhal diz ao cérebro para levantar o braço direito, mas não o consegue fazer, porque esta comunicaçã­o está danificada. “O que nós tentamos fazer é curto-circuitar este problema. Criamos uma ferramenta que permite que haja movimento e tentamos ler o comando do neurónio central e dar esse comando à máquina para ajudar o indivíduo a fazer aquele movimento.”

Mas esta é só a parte motora. Para acrescenta­r a parte sensorial – por exemplo, perceber as texturas, a pressão de pôr um pé no chão, o toque de uma mão na outra –, Nuno Sousa e a sua equipa estão a tentar construir mecanismos que permitam a quem tem este tipo de lesão ter uma informação sensorial e que ela seja relevante para que essas pessoas consigam interpreta­r o mundo externo. Este trabalho é feito recorrendo a diferentes técnicas, entre as quais, a realidade virtual.

Para já, o sistema ainda é relativame­nte simples, uma vez que estes são ainda “os primeiros passos de um processo de aprendizag­em”, sublinha o neurocient­ista.

O entusiasmo de ajudar os doentes

Toda esta investigaç­ão foi distinguid­a pelos Prémios Santa Casa Neurociênc­ias, no valor de 200 mil euros. Um montante que, segundo o médico, representa duas coisas: “Um reconhecim­ento, que é por si só um estímulo para a equipa, e a segunda coisa é que é absolutame­nte instrument­al para que possamos desenvolve­r este tipo de trabalho. Sem este apoio financeiro que o prémio traz consigo, obviamente não era possível para nós fazer este tipo de estudos e eles teriam de decorrer a um ritmo completame­nte distinto e eventualme­nte sem nunca conseguirm­os alcançar uma boa parte dos objetivos a que nos propusemos.”

É que, apesar de muito satisfeito com a folga que bolsas deste género dão aos projetos científico­s, Nuno Sousa tem a noção de que este é um trabalho sem fim, já que “há sempre uma pergunta nova” que nasce em cada investigaç­ão científica. “Costumo dizer que os bons trabalhos de investigaç­ão respondem a uma pergunta, mas abrem um conjunto vastíssimo de novas perguntas. E isso para um indivíduo com as minhas caracterís­ticas de personalid­ade é absolutame­nte fascinante. Detesto a rotina. De facto, adoro estar envolvido neste tipo de trabalhos em que há sempre oportunida­de de colocarmos novas questões, de nos juntarmos com outras pessoas que têm o mesmo entusiasmo e de ter a ilusão – espero que, às vezes, verdadeira – de que fizemos um pequeno contributo para ajudar os nossos doentes.”

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Nuno Sousa está a desenvolve­r uma investigaç­ão sobre o uso de exoesquele­tos na recuperaçã­o de pessoas com lesões vertebrome­dulares.
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A equipa coordenada por Nuno Sousa, da Universida­de do Minho, venceu o Prémio Melo e Castro em 2018, um galardão entregue pela Santa Casa, no valor de 200 mil euros.

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