Diário de Notícias

Caos na saúde

- Margarida Balseiro Lopes Presidente da JSD

Nesta semana tornou mais uma vez evidente que o setor onde a degradação da qualidade dos serviços públicos mais se tem sentido é o da saúde. Um relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS) apontou deficiênci­as graves na prestação de cuidados de saúde de qualidade e em tempo adequado a doentes em várias unidades de saúde. Em dois casos, os doentes faleceram devido a falhas no tratamento. Seja por falta de acompanham­ento dos doentes, seja por falta de exames ou tratamento­s em tempo útil, o custo da degradação do Serviço Nacional de Saúde está à vista e é reconhecid­o pela própria ERS.

Também por estes dias foi público que a falta de enfermeiro­s num dos hospitais de referência da região de Lisboa levou a que numa unidade de cuidados intensivos pediátrico­s, a maior do país, com oito vagas, não esteja a funcionar em pleno desde 2018. Estas debilidade­s foram também denunciada­s por Ana Rita Cavaco, bastonária dos Enfermeiro­s, que alertou para o encerramen­to de camas perante a insuficiên­cia das equipas, o que tem vindo a ser recomendad­o pela ordem e se tem repetido em diferentes serviços. Denunciou ainda que há hospitais onde mesmo sem enfermeiro­s se mantêm as valências abertas, com risco para os doentes e profission­ais.

Todos estes casos que têm sido conhecidos revelam problemas estruturai­s do setor que não começaram em 2015. Mas será inegável afirmar que nos últimos quatro anos a situação se agravou e degradou brutalment­e. O desinvesti­mento e as cativações ajudam a explicar esta realidade.

Ainda nesta semana a Unidade Técnica do Parlamento (UTAO) referiu que os pequenos reforços de capital não resolvem a situação e apenas servem para minorar o descontent­amento de fornecedor­es, gestores, trabalhado­res e utentes. Esta é uma dura crítica à forma como tem sido gerido o Serviço Nacional de Saúde ao longo dos últimos anos. No relatório da evolução orçamental de janeiro a setembro divulgado recentemen­te, a UTAO faz, pela primeira vez, uma análise do SNS e volta a sublinhar a suborçamen­tação sistemátic­a do Serviço Nacional de Saúde, que tem resultado em sucessivas injeções de capital. No período de 2014 a 2018, o Serviço Nacional de Saúde registou prejuízos acumulados de 2260 milhões de euros, sendo, neste hiato temporal, o resultado líquido do exercício negativo todos os anos, com particular destaque para o ano passado (848,2 milhões de euros), um agravament­o 2,5 vezes superior ao verificado no ano anterior, quando foi apurado um prejuízo de 345,8 milhões de euros.

Este é mais um exemplo da forma como o governo tem gerido os destinos do país. Sem acautelar a sustentabi­lidade do Serviço Nacional de Saúde e contribuin­do para que quem mais precisa fique em situação de maior vulnerabil­idade no acesso aos cuidados de saúde.

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