Diário de Notícias

De Harris a Abrams, passando por Warren. As mulheres na lista de Biden

O favorito à nomeação democrata para as presidenci­ais prometeu escolher para vice uma mulher para o ajudar a derrotar Trump.

- HELENA TECEDEIRO

Há um ano, com a corrida ainda com duas dezenas de candidatos, eram seis as mulheres na disputa pela nomeação democrata para as presidenci­ais de 3 de novembro. Elizabeth Warren, Kamala Harris, Kirsten Gillibrand, Amy Klobuchar, Tulsi Gabbard e Marianne Williamson. E se algumas, como Williamson, ativista, escritora e professora de psicoterap­ia espiritual, poucas hipóteses tinham, outras como a experientí­ssima senadora Warren ou Kamala Harris, outra senadora, muitas vezes comparada a Barack Obama, estavam na lista dos favoritos a defrontar Donald Trump. Os longos meses de campanha fizeram as primeiras desistir, as primárias foram afastando outras e Tulsi Gabbard foi a última a sair da campanha, já nesta semana, deixando a nomeação democrata reduzida a uma disputa entre dois homens, brancos e ambos bem perto dos 80 anos: Joe Biden e Bernie Sanders.

Talvez por isso, o ex-vice-presidente tenha garantido no último debate que pretende escolher uma mulher para vice-presidente. E se o senador Sanders recusou ser tão taxativo, também não afastou a ideia. Aqui ficam alguns dos nomes de que se falam para vice – sobretudo de Biden. Afinal é ele o grande favorito à nomeação. E parece decidido a fazer história. Até hoje só duas mulheres foram candidatas à vice-presidênci­a dos EUA: a democrata Geraldine Ferraro, em 1984, e a republican­a Sarah Palin, em 2008. Mas nem a escolhida por Walter Mondale nem a de John McCain conseguira­m chegar à Casa Branca.

Kamala Harris – a força da juventude e diversidad­e

É verdade que, durante um dos primeiros debates entre candidatos democratas, Kamala Harris lançou um duro ataque contra Joe Biden. A senadora da Califórnia perguntou ao ex-vice-presidente se ele se arrependia de, enquanto servia no Senado, ter estado contra uma medida conhecida como “busing”, usada nos anos 70 para acelerar a desagregaç­ão racial das escolas. Um discurso apaixonado desta filha de imigrantes – ele jamaicano, ela indiana – que logo fez os media falar no nascimento de uma estrela. Certo é que se Kamala começou a carreira no direito, cedo se interessou pela política e, enquanto procurador­a em São Francisco, notabilizo­u-se pela luta contra o tráfico de droga. Aos 55 anos, a mulher que muitos comparam a Barack Obama pela sua história de vida – o ex-presidente é filho de um estudante queniano e de uma americana branca do Kansas – nunca escondeu sonhar tornar-se a primeira mulher, a primeira negra e a primeira pessoa de origem indiana na Casa Branca. Essa diversidad­e, e a relativa juventude, pode agora ser um ponto a favor no momento de Biden escolher a vice. Mas, se já garantiu que “ela tem qualificaç­ões, podia escolhê-la para o que ela quisesse”, a verdade é que Kamala representa um estado, a Califórnia, que Biden vencerá sem ajuda.

Amy Klobuchar – uma ajuda essencial no Midwest

Tal como Kamala Harris, também Klobuchar, de 59 anos, anunciou o seu apoio a Biden

quando desistiu da corrida. A senadora do Minnesota chegou a ganhar uns poucos delegados à convenção de julho que vai designar o candidato do partido e pode ser uma vantagem se Biden sentir que precisa de ajuda para conquistar o Midwest. Até porque Klobuchar representa um estado que em 2016 quase pendeu para Trump, dando à democrata Hillary Clinton uma curtíssima vitória. Mas também tem pontos fracos: como as acusações de maus-tratos a membros da sua equipa ou o seu papel como procurador­a-geral do estado numa altura em que se multiplica­ram as detenções de jovens negros. Apesar das suas prestações razoáveis nos debates, no Partido Democrata não falta quem tema a sua falta de carisma. “Vai ser um Tim Kaine 2.0”, escreveu no Twitter Markos Moulitsas, do Daily Kos, referindo-se ao pouco memorável candidato a vice de Hillary.

Elizabeth Warren – a solução para unir o partido?

Um ticket Biden-Warren pode parecer uma bizarria à partida. O ex-vice-presidente e a senadora do Massachuse­tts não podiam ser mais diferentes ideologica­mente. Mas talvez seja esse o segredo do sucesso se Biden escolher Elizabeth Warren para sua vice. A senadora desistiu da corrida há duas semanas, depois de uma boa prestação e a verdade é que pode dizer-se que fez dois grandes favores a Biden: os seus ataques virulentos sobre a forma como tratou as mulheres no passado acabaram com as hipótese do milionário Michael Bloomberg e, apesar da proximidad­e de ideias com o senador do Vermont, Warren recusou manifestar-lhe o seu apoio. Liberal, progressis­ta, defensora da proteção do consumidor, da economia de oportunida­des e do acesso de todos à saúde, Warren pode apelar à ala mais à esquerda do partido, além de ter um forte apelo junto dos jovens. Mas uma das questões que faltam saber é se as divergênci­as com Biden em relação a um sistema nacional de saúde ou o seu desejo de aumentar os impostos aos mais ricos seriam incompatív­eis entre os dois. A própria idade também pode ser um entrave: Warren também já passou dos 70.

Até hoje só duas mulheres foram candidatas à vice-presidênci­a dos EUA: a democrata Geraldine Ferraro, em 1984, e a republican­a Sarah Palin, em 2008. Mas nem a escolhida por Walter Mondale nem a de John McCain chegaram à Casa Branca.

Whitmer, Abrams ou Cortez Masto – as outras candidatas

A própria Gretchen Whitmer parece não estar muito convencida. “Não vou ser eu”, garantia há dias à MSNBC, quando inquirida sobre a hipótese de Joe Biden a escolher para vice-presidente. Mas a verdade é que qualquer candidato que queira voltar a pintar o Michigan de azul (a cor dos democratas que em 2015 foi substituíd­a pelo vermelho republican­o depois de o estado ter dado a vitória a Donald Trump) deveria pensar a sério em juntar a governador­a ao seu ticket. Aos 48 anos, Whitmer ganhou relevo nacional ao dar a resposta democrata ao Estado da União de Trump. E, tal como Klobuchar, pode ajudar Biden a garantir o Midwest, mas o seu envolvimen­to numa polémica sobre financiame­nto para a construção de estradas fez baixar a sua popularida­de. A idade, essa sim, pode jogar a seu favor.

Dois anos mais nova do queWhitmer é Stacey Abrams. A sua campanha nas eleições intercalar­es de 2018 para governador­a da Georgia – que acabou por perder, não sem antes ter obrigado a várias recontagen­s dos votos – fez da antiga líder da minoria na Câmara dos Representa­ntes estadual uma estrela em ascensão dentro do Partido Democrata. Com bons dotes oratórios, capaz de mobilizar as massas, Biden poderia contar com ela para chegar não só aos jovens como para reforçar o seu poder junto do eleitorado afro-americano. Mas também não faltará quem aponte a sua falta de experiênci­a para um cargo como o de vice-presidente, o segundo mais importante nos EUA.

Outra opção em cima da mesa para Biden é Catherine Cortez Masto, de 55 anos. O seu nome pode não ser tão conhecido como o das outras candidatas a vice-presidente de que temos estado a falar, mas o seu currículo é muito parecido com o de Kamala Harris. Cortez Masto foi procurador­a-geral do Nevada antes de ser eleita senadora pelo mesmo estado em 2016, numas eleições muito renhidas. Com uma mãe de origem italiana e um pai de origem mexicana, a senadora pode dar uma ajuda para conquistar o voto dos latinos. Mas a verdade é que se Biden até perdeu as primárias no Nevada para Sanders, muito devido ao voto latino, o ex-vice-presidente não deverá ter grande dificuldad­e em garantir esse eleitorado em novembro, frente a um Trump que não se cansa de atacar os latinos, sobretudo os mexicanos.

E também pode não ser nenhuma destas...

Do The New York Times ao TheWashing­ton Post, passando pelo Politico, todos os jornais e sites fizeram listas de possíveis escolhas de Biden para vice-presidente. E aos nomes de que já falámos acrescenta­m ainda outras hipóteses, como as governador­as Gina Raymonds, de Rhode Island, ou Michelle Lujan Grisham, do Novo México, as senadoras Tammy Duckworth, do Illinois, uma veterana de guerra que perdeu ambas as pernas no Iraque, Tammy Baldwin, do Wisconsin, ou Kirsten Gillibrand, de Nova Iorque, que chegou a estar na corrida democrata. Isto se ele cumprir a promessa de escolher uma mulher...

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ticket.
KAMALA HARRIS A senadora da Califórnia atacou Biden durante a campanha democrata. Mas já disse que o apoia. Mulher, jovem, negra, de origem indiana, pode trazer uma muito desejada juventude e diversidad­e ao ticket.
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GRETCHEN WHITMER Ela garante que não vai a ser a escolhida, mas a governador­a do Michigan seria uma boa aposta se Biden quer devolver aquele estado aos democratas, depois de ter votado em Trump em 2016.
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ELIZABETH WARREN Ajudou a acabar com a campanha de Michael Bloomberg e recusou apoiar Sanders, mas se um com a senadora do Massachuse­tts podia ajudar Biden a unir o partido, as diferenças ideológica­s podem ser demasiado grandes. ticket
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AMY KLOBUCHAR A senadora do Minnesota deixou a corrida mas apoia Biden. O seu nome no ticket pode ajudar o ex-vice-presidente a conquistar o Midwest. Mas no partido há quem lhe critique a falta de carisma.
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STACEY ABRAMS Foi uma das estrelas das intercalar­es de 2018, quando contestou a derrota na corrida a governador­a da Georgia. Aos 46 anos, traria juventude e apelo junto dos jovens e negros. Mas falta-lhe experiênci­a.
 ??  ?? CATHERINE CORTEZ MASTO Descendent­e de mexicanos, a senadora do Nevada podia ajudar a atrair o voto latino. Mas resta saber se Biden precisa assim tanto de ajuda com um eleitorado que já o apoia.
CATHERINE CORTEZ MASTO Descendent­e de mexicanos, a senadora do Nevada podia ajudar a atrair o voto latino. Mas resta saber se Biden precisa assim tanto de ajuda com um eleitorado que já o apoia.

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