Diário de Notícias

Não se vendem tecidos para a moda, fazem-se fibras anti-covid-19

- CÉU NEVES

A Tintex Textiles fechou em abril por falta de encomendas. Não cruzaram os braços, inventaram tecidos de proteção da pandemia: máscaras e vestuário médico.

Máquinas gigantes, caldeirões de tinta, passadeira­s rolantes, quilómetro­s de tecidos em rolos XL, milhares de etiquetas. Prontos a abastecer a moda que, com a pandemia, é o setor que mais prejuízos tem, a seguir às viagens e ao turismo. Ocupam os 11 mil metros quadrados das instalaçõe­s cobertas da Tintex Textiles, que em março viu as encomendas caírem a pique. Em abril, foram todos para casa, em lay-off. Só que não estiveram parados, viraram-se para a produção de tecidos anti-covid-19. Obtida a certificaç­ão para o seu uso em máscaras sociais, voltaram à fábrica, duas semanas depois. Maio foi um dos melhores meses de sempre em faturação. Acabam de investir 1,9 milhões de euros numa nova área de produção, esta para o fabrico de vestuário reutilizáv­el para fins médicos. 2020 promete ser um bom ano.

“As encomendas caíram e surgiu a ideia de fazer novos tecidos que nos protegesse­m da covid, de desenvolve­r um material para os nossos clientes fazerem as máscaras que entenderem. O mais difícil é produzir um tecido respirável e que retenha as partículas, fomos a primeira empresa a certificar esta nova malha. Procurámos ter um produto confortáve­l e sustentáve­l, que é sempre a nossa preocupaçã­o. Os nossos tecidos são fabricadas em algodão, lyocell [madeira] ou fibras

rial igualmente importante. Onde “é preciso paixão, investimen­to e saber esperar”, explica Carlos Silva, membro da equipa. Ultimament­e, testa fibras equivalent­es ao couro, feitas com resíduos de cortiça, casca de pinheiro e um produto tão inovador que o jovem engenheiro prefere manter o segredo. “Ninguém está a utilizar”, justifica. Mário Silva brinca: “Temos uma equipa de sete a oito jovens que, às vezes, me dão cabo do juízo.”

Acredita que os fará sobreviver à pandemia, num setor altamente penalizado. “As empresas do têxtil estão com grandes quebras e quem mais está a sofrer é o vestuário,

“O mais difícil é produzir um tecido respirável e que retenha as partículas. Temos produto confortáve­l e sustentáve­l.” MÁRIO JORGE SILVA Engenheiro químico, diretor da Tintex

A seguir às viagens e ao turismo, a moda foi o segmento que mais caiu, 25% a 45%”, afirma César Araújo, presidente da Associação das Indústrias de Vestuário e Calçado

De prestador de serviços a fabricante

Mário Jorge Silva era diretor de uma tinturaria em Braga e os sócios desafiaram-no a montar uma tinturaria inovadora no ramo, com “abordagens novas e procurando novas fibras”. Comprou a Tintex Textiles em 1998, então uma tinturaria, porque tinha o alvará que lhe permitia entrar no negócio do tratamento de fabrico de tecidos. Deslocou-se para Vila Nova de Cerveira.

Entretanto, muito evoluiu, não só em produtos e matérias-primas utilizadas, maioritari­amente de Turquia, Grécia e Portugal, como em procedimen­tos e preocupaçã­o ambiental. “Passámos de um prestador de serviços para produtores de artigos criados por nós e que têm recebido muitos prémios, nomeadamen­te o de Inovadores Europeus”, diz Mário Jorge Silva.

O grande empurrão foi dado em 2000, quando começaram a trabalhar com o lyocell, uma fibra produzida da madeira, logo ecológica. A grande dificuldad­e era torná-la confortáve­l, o que tinha sido tentado sobretudo pelos italianos, mas sem sucesso.

A Tintex conseguiu “resultados excelentes”, tendo contactado com uma empresa em Barcelona que produzia esse fio e estava em risco de fechar. Era centenária, com muitos contactos na Europa, abrindo-lhes as portas

 ??  ?? Mário Jorge Silva comprou uma tinturaria em 1998, logo com a intenção de a transforma­r num produtor de tecidos inovadores e sustentáve­is.
Mário Jorge Silva comprou uma tinturaria em 1998, logo com a intenção de a transforma­r num produtor de tecidos inovadores e sustentáve­is.

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