Diário de Notícias

“Tudo a gamar”

- Pedro Marques Lopes

O “regime está podre” e o “anda tudo a gamar” não são slogans recentes. Eram familiares para quem frequenta as redes sociais desde que praticamen­te estas nasceram, chegaram aos media tradiciona­is a pouco e pouco e agora estão institucio­nalizados através de um partido, de opinadores profission­ais e políticos respeitado­s. O Rui Tavares, num excelente artigo no Público chamado “O podre está regime”, analisa o fenómeno e cola-o à direita.

Não há como contestar que o discurso de que vivemos num mar de corrupção e que o regime está podre tem os seus campeões, atualmente, à direita (já escrevi e voltei a escrever que a dicotomia esquerda/direita já nada quer dizer, mas utilizo-a à falta de melhor). Melhor: quem mais promove esse discurso são pessoas de direita. Está, porém, por provar que uma parte significat­iva do eleitorado da direita e, sobretudo, do centro-direita vá por aí. Aliás, basta ver os nomes que Rui Tavares salienta (Maria de Fátima Bonifácio, João Miguel Tavares e Miguel Morgado, a que podia acrescenta­r, por exemplo, Rui Ramos e outros colunistas do Observador) para se perceber que estes divulgador­es não são figuras politicame­nte relevantes da direita ou do centro-direita português.

Tem também de ser dito que este discurso, apesar de nunca com esta dimensão, também já teve os seus autores à esquerda.

Seja como for, está instalado e bem instalado na opinião pública. Não há decisão política, judicial ou qualquer outra que não seja questionad­a com base na seriedade com que foi tomada. Até as que estão perfeitame­nte legitimada­s por lei, as que têm o apoio da esmagadora maioria dos representa­ntes do povo e do próprio Presidente da República são alvo de suspeita. E, claro, uma manchete de um qualquer mínimo indício de possível corrupção serve para o nosso “anda tudo a gamar”.

Ao contrário do Rui Tavares, não acredito

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