“Tudo a gamar”
O “regime está podre” e o “anda tudo a gamar” não são slogans recentes. Eram familiares para quem frequenta as redes sociais desde que praticamente estas nasceram, chegaram aos media tradicionais a pouco e pouco e agora estão institucionalizados através de um partido, de opinadores profissionais e políticos respeitados. O Rui Tavares, num excelente artigo no Público chamado “O podre está regime”, analisa o fenómeno e cola-o à direita.
Não há como contestar que o discurso de que vivemos num mar de corrupção e que o regime está podre tem os seus campeões, atualmente, à direita (já escrevi e voltei a escrever que a dicotomia esquerda/direita já nada quer dizer, mas utilizo-a à falta de melhor). Melhor: quem mais promove esse discurso são pessoas de direita. Está, porém, por provar que uma parte significativa do eleitorado da direita e, sobretudo, do centro-direita vá por aí. Aliás, basta ver os nomes que Rui Tavares salienta (Maria de Fátima Bonifácio, João Miguel Tavares e Miguel Morgado, a que podia acrescentar, por exemplo, Rui Ramos e outros colunistas do Observador) para se perceber que estes divulgadores não são figuras politicamente relevantes da direita ou do centro-direita português.
Tem também de ser dito que este discurso, apesar de nunca com esta dimensão, também já teve os seus autores à esquerda.
Seja como for, está instalado e bem instalado na opinião pública. Não há decisão política, judicial ou qualquer outra que não seja questionada com base na seriedade com que foi tomada. Até as que estão perfeitamente legitimadas por lei, as que têm o apoio da esmagadora maioria dos representantes do povo e do próprio Presidente da República são alvo de suspeita. E, claro, uma manchete de um qualquer mínimo indício de possível corrupção serve para o nosso “anda tudo a gamar”.
Ao contrário do Rui Tavares, não acredito