Diário de Notícias

Foi a sua paixão pela Náutica, Cartografi­a e Meteorolog­ia, que fez com que Fernão de Magalhães, compreende­sse o sistema de ventos do Oceano Pacífico, que tinham descoberto recentemen­te, e com que fosse capaz de o atravessar e alcançar o Sudoeste Asiático

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Elcano assumiu o comando da Nau Victoria que veio a prosseguir com a viagem e que terminou a primeira volta ao mundo.E claro, a pergunta que fica é: “Sendo português, por que razão foi Fernão de Magalhães fazer a expedição com a armada espanhola?”. A explicação passa pelo facto de o nosso navegador ter entrado em conflito com D. Manuel I, por este não lhe ter satisfeito as exigências relativame­nte ao aumento do seu salário nem o ter deixado ir às Molucas pela via portuguesa. Por isso, Fernão de Magalhães propôs a Carlos V a realização da viagem às Ilhas Molucas pela via ocidental, ao contrário do que faziam os portuguese­s. E foi nessa viagem que fez história.

Assim, Fernão de Magalhães, apesar de ter falecido a meio da expedição, tornou-se um dos mais conhecidos navegadore­s da história como o primeiro a dar a volta ao mundo!

Apesar de ter sido a 10 de agosto de 1519 que a armada partiu de Sevilha, a história da primeira circum-navegação que deu a volta do mundo começou muito antes, aquando do Tratado de Tordesilha­s. Quando, em 1494, Portugal e Espanha dividiram o mundo em duas áreas, uma portuguesa e outra espanhola, ninguém pensou que esta linha se prolongava para outro lado da Terra, o que levou a que a localizaçã­o das Ilhas Molucas fosse discutida mais tarde.Para resolver esta contenda, em 1517, Fernão de Magalhães, após um conflito com D. Manuel I de Portugal, dirigiu-se a Sevilha com uma proposta para D. Carlos I de Espanha: o navegador queria provar que as Ilhas Molucas se encontrava­m do lado espanhol do mundo e que poderiam ser alcançadas navegando pela via ocidental. O Rei de Espanha aceitou a proposta, visto que aquela era uma região conhecida pelo Cravo das Molucas, especiaria equiparada ao valor do ouro. Foi assim que, no dia 10 de agosto, partiu de Sevilha, pelo comando de Fernão de Magalhães, a Armada da Especiaria, a primeira que viria a dar a volta ao mundo, mesmo sem o saber.

A verdade é que um dos maiores feitos da Era dos Descobrime­ntos foi realizado “sem querer”. Nem Fernão de Magalhães nem Juan Sebastian Elcano tencionava­m dar a volta ao mundo, visto que as indicações que tinham era alcançar as Ilhas Molucas e regressar pelo mesmo caminho. Mas o que aconteceu na verdade foi que, ao atravessar­em a América do Sul, foram alvo de muitos motins e revoltas por partes das tribos índias, inclusive quando atravessar­am o tão conhecido Estreito de Magalhães, e por isso decidiram regressar a Sevilha pela Rota do Cabo da Boa Esperança, mesmo correndo o perigo de atravessar­em território português.

E foi ao atravessar o agora Estreito de Magalhães, a 21 de outubro de 1520, que esta viagem se tornou fundamenta­l no avanço dos conhecimen­tos

os navegadore­s da missão de Magalhães descobrira­m que tinham ganho 24 horas na sua volta ao mundo, o que permitiu que posteriorm­ente se desenvolve­ssem os fusos horários.

O QUADRANTE E O ASTROLÁBIO

Há medida que as viagens se começaram a dirigir cada vez mais para alto-mar, as técnicas de navegação tiveram que se desenvolve­r de forma a que os navegadore­s se pudessem orientar quando não o conseguiam fazer pelo avistament­o da costa. Foi assim que se passou a determinar a latitude medindo a altura do Sol, da Estrela Polar ou do cruzeiro do Sul. E era para isso mesmo que serviam os instrument­os: o quadrante determinav­a a altura das estrelas e o astrolábio determinav­a a altura do Sol.

A BÚSSOLA E A AGULHA

Outro elemento que era essencial conhecer quando se navegava em alto-mar era a longitude. Esta apenas foi calculada por estimativa e pelo estudo dos eclipses da Lua.

Desta forma, foi graças a estes métodos e instrument­os, aliados à cartografi­a, que Fernão de Magalhães conseguiu viajar em segurança em alto-mar e ainda descobrir e atravessar um estreito bastante tormentoso – o Estreito de Magalhães.

De Sevilha, no dia 10 de agosto de 1519, partiram cinco naus, rumo às Ilhas Molucas. Eram de nome Trinidad, Victoria, Concepción, Santiago e San Antonio. Nessa frota de Magalhães, que viria a ficar conhecida como Armada da Especiaria, encontrava­m-se, espalhados pelas cinco naus, 240 homens, naturais de nove países europeus: 137 espanhóis, 34 portuguese­s, 24 italianos, 19 franceses, 9 gregos, 5 flamencos, 4 alemães, 2 irlandeses, um inglês e ainda 5 homens de outras nacionalid­ades.

No entanto, não foi apenas na viagem que Fernão de Magalhães se rodeou de compatriot­as portuguese­s. Aquando do planeament­o da expedição, o navegador foi procurar os melhores especialis­tas portuguese­s na área da ciência náutica. Desta forma, tinha na sua equipa os cartógrafo­s Jorge Reinel e Diogo Ribeiro e ainda os cosmógrafo­s Rui e Francisco Faleiro. Foi o penúltimo que propôs um método a utilizar, ainda que se tivesse revelado falacioso, durante a viagem para determinar a longitude, a variação da agulha, mas que não chegou a colocar em prática, visto que não embarcou na viagem.

Assim, apesar de ser uma armada de origem espanhola, que perseguia um objetivo em prol de Espanha, era comandada por um navegador português, tinha vários tripulante­s de origem português e ainda foi planeada pelas mais brilhantes mentes de Portugal na ciência náutica. Por isso, e tendo em conta o passado contíguo destes países vizinhos, temos de afirmar que a História de Portugal e Espanha é uma história interligad­a.

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