Palácio de Belém, 2026 Os possíveis inquilinos que se seguem
Paulo Portas não afasta candidatura presidencial no futuro. Mas na linha da frente para Belém, daqui a cinco anos, podem estar vários ex-primeiros-ministros. E o destino do Governo de António Costa pode decidir muita coisa.
As próximas presidenciais estão à distância de poucos meses, mas as carreiras políticas fazem-se com corredores de fundo e o caminho para Belém é uma maratona que pode exigir anos de preparação – Marcelo Rebelo de Sousa que o diga. Paulo Portas já veio a terreiro, em entrevista no Público, declarar o seu apoio a uma recandidatura do atual presidente em janeiro de 2021. E, pelo caminho, deixou entreaberta a porta para futuras presidenciais.
Taxativo na recusa de uma candidatura à Câmara de Lisboa (um cenário que até o presidente do PSD, Rui Rio, já abordou) nas próximas eleições autárquicas, o antigo líder do CDS não fez o mesmo quando questionado sobre se ele próprio poderá estar a participar numa campanha presidencial daqui a alguns anos. “Não sei, não sei, essa parte fica para depois...” Ex-vice-primeiro-ministro, Paulo Portas já teria entrada direta para o lote de futuros presidenciáveis. E guardou o lugar.
Mas quem são eles, os presidenciáveis que podem se alinhar para 2026? Olhando para o histórico das candidaturas presidenciais, o politólogo António Costa Pinto identifica vários casos evidentes :“Nos regi messe mi presidencialista sé natural que exista alguma tendência para que os ex-primeiros-ministros, na maior parte dos casos chefes de um partido político, tenham alguma tendência a gerir o seu percurso político de forma a terminar a carreira como Presidente da República. Foi o que aconteceu com Mário Soares e Cavaco Silva.” No caso dos políticos portugueses “há ainda um padrão ascendente”: “No presidencialismo francês já tivemos ex-presidentes da República e, sobretudo, ex-primeiros-ministros que regressaram a lugares de presidente da câmara de grandes municipalidades. No caso português isso não acontece” (Santana Lopes chegou a assumir a presidência da Câmara de Lisboa depois de ter sido primeiro-ministro, mas tem a especificidade de não ter sido eleito para o cargo).
Deste princípio decorrem nomes como Passos Coelho ou António Costa (que será ex-primeiro-ministro por altura das presi
denciais de 2026, se não se recandidatar a um terceiro mandato em São Bento). Mas também o próprio Paulo Portas: “Convém não esquecer que foi vice-primeiro-ministro.”
Ressalvando a distância para 2026, Pedro Marques Lopes aponta precisamente o ex-líder do CDS como o nome que mais claramente se está a posicionar para a corrida a Belém: “Não me restam dúvidas nenhumas de que ele não só quer como está a fazer o trajeto” nesse sentido. À direita, o comentador aponta mais um nome – Marques Mendes – e um terceiro que é mais um ponto de interrogação do que uma probabilidade. Leia-se Pedro Passos Coelho, “o D. Sebastião de uma direita que está empenhada em trazê-lo de volta, não sabe bem para quê, mas quer trazê-lo de volta à força”. E Durão Barroso? “Não, a imagem com que ficou na opinião pública não é boa, não me parece que tenha a mínima hipótese.” E Rui Rio também não, por razões diferentes: “Se tiver sucesso será primeiro-ministro, se não tiver vai sair tão mal que não tem hipóteses de aspirar a uma candidatura.”
Já à esquerda o futuro é mais difuso. “Há os clássicos: António Guterres é sempre uma hipótese quando terminar o mandato na ONU; António Costa, dependendo de como correr este mandato... mas prevejo que terá muitas dificuldades para recuperar da crise que aí vem; é uma figura de que se vai falando, mas que acho que não tem nenhuma vontade: Ferro Rodrigues.”
Pedro Marques Lopes acrescenta outro nome à lista de presidenciáveis: Rui Moreira, atual presidente da Câmara do Porto. “É uma hipótese. Daqui a alguns anos terá de ver como vai capitalizar o capital político que tem numa zona importante do país [a norte]. Se fizer um percurso que o torne numa figura mais nacional, em vez da imagem mais regional que tem agora, pode ser um bom candidato.” Rui Moreira não vem, no entanto, de um dos grandes partidos, como tem acontecido com todos os candidatos vencedores das presidenciais desde Ramalho Eanes. Pedro Marques Lopes não vê nisso um problema. “A maré está mais para figuras como Rui Moreira do que para figuras ligadas aos grandes partidos. Paulo Portas, que caminho é que tem feito? Afastou-se dos partidos. Marques Mendes? Afastou-se dos partidos.”
“Tudo pode acontecer”
“A bolsa de presidenciáveis é sempre grande”, sublinha, por seu lado, Adelino Maltez, falando numa “dúzia de nomes” que “podem ver-se ou ser vistos pelos outros” como candidatos a Belém, e que a traço largo correspondem aos chamados “senadores da República”. Mas os imponderáveis são tantos como os possíveis candidatos.
As incógnitas, até chegar às presidenciais de 2026, são mais que muitas: a evolução da pandemia e da situação económica do país abrem um cenário de total incerteza sobre o que podem ser os próximos anos; o ciclo presidencial que se abrirá em 2021 é uma incógnita: o eventual segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, que as sondagens antecipam, pode assumir contornos muitos diferentes do primeiro; o ciclo governativo está envolto em incerteza, com a dúvida sobre se o governo minoritário de António Costa chegará ao fim, como se alinhará a esquerda na presente legislatura e qual o papel do PSD nos próximos anos. Acrescem
“Não me restam dúvidas nenhumas de que Paulo Portas não só quer como está a fazer o trajeto” para se candidatar a Belém, diz Pedro Marques Lopes.
A Presidência da República é um percurso natural para antigos primeiros-ministros, sublinha António Costa Pinto. Foi o caso de Mário Soares e de Cavaco Silva.
ainda as mudanças que se desenham no espaço político da direita, com os novos partidos a ganhar fôlego.
“Tudo pode acontecer”, diz Adelino Maltez. “Não podemos garantir que António Costa vai continuar primeiro-ministro durante todo este mandato. E isso pode excluir logo dois ou três candidatos. Essa é a incógnita fundamental: quanto tempo vai durar o governo de António Costa”, diz o politólogo, sublinhando que este fator condiciona também, e fortemente, a direita - pode decidir o futuro de Rui Rio ou determinar o regresso de Pedro Passos Coelho à política ativa, não necessariamente com o objetivo em Belém, mas em São Bento.
António Costa Pinto sublinha mais um dado da equação: “Muito embora Marcelo Rebelo de Sousa possa ser um pouco a exceção à regra na medida em que tinha um altíssimo indicador de notoriedade mediática, os candidatos à Presidência – apesar de serem candidaturas individuais e não partidárias – têm de ter o apoio, formal ou informal, de grandes partidos políticos. Dificilmente se chega a presidente sem o apoio dos grandes partidos.” Até mesmo Marcelo, apesar do afastamento que fez questão de cultivar, concorreu a Belém com o apoio do PSD (e do CDS).
Uma limitação de grande relevância para candidatos oriundos da sociedade civil e não políticos profissionais. “As elites, o mundo mediático, muitas vezes apontam para figuras presidenciáveis que são, na maior parte dos casos, notáveis, ou próximos disso, da democracia, sejam mais de centro-direita ou de centro esquerda”, diz o professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Mas essas figuras “só são efetivamente presidenciáveis se tiverem o apoio dos grandes partidos”.