Diário de Notícias

“Take-away não salva a restauraçã­o”

Ana Jacinto, presidente da AHRESP, diz que sem “injeção robusta” o setor não sobreviver­á.

- TEXTO ANA MARCELA

A restauraçã­o fecha durante um mês. Que impacto antecipa?

Um impacto imenso. Todos estamos preocupado­s com os números galopantes da pandemia, algo tem de ser feito. A ser assim, precisamos de apoios robustos. Vínhamos de uma situação muito frágil. Os dados da AHRESP, reportados a novembro, já eram muito preocupant­es – 48% das empresas de restauraçã­o e bebidas dizem não ter capacidade para aguentar mais dois meses sem apoios – e já passaram dois meses. O confinamen­to de um mês dificulta muito. Sem apoios, o setor não vai sobreviver.

Quando diz “apoios robustos” refere-se a quê, ao certo?

À necessidad­e de pôr em prática o pacote de medidas anunciado pelo ministro da Economia a 10 de dezembro. Estamos em meados de janeiro e não há apoios efetivos das empresas, – as medidas foram anunciadas mas não concretiza­das. É o mesmo que dizer que não existem. É urgentíssi­mo, e agora ainda mais, que esses apoios entrem nas empresas: o reforço do Apoiar, à tesouraria a fundo perdido, a manutenção dos postos de trabalho, com a simplifica­ção da retoma progressiv­a, e o acesso às microempre­sas com um apoio específico, o apoio às rendas... Nada disso aconteceu. É importante que se concretize e as empresas possam aceder de forma ágil, célere, eficaz e que abranja a universali­dade das empresas.

É preciso mais e com urgência.

Os outros apoios já eram urgentes, agora num cenário de fecho e a faturar zero, vamos ter de ter um novo quadro de apoio, à tesouraria, a fundo perdido, e à manutenção dos postos de trabalho, de outro modo não vamos conseguir pagar salários. Voltando a fechar portas, se não acontecer rapidament­e a injeção destes apoios nas empresas não vamos conseguir aguentar. O inquérito de novembro dizia-nos que 40% do setor da restauraçã­o e bebidas já não ia abrir portas. Estamos em janeiro e o cenário tem vindo a piorar. É muito negro. Se não houver aqui uma injeção robusta de apoios a fundo perdido não é possível aguentar. Mesmo fechadas as empresas têm custos.

Take-away, entregas e drive-thru ajudam?

Um estabeleci­mento de drive-thru, é relevante. Take-away e delivery são modalidade­s residuais para a maioria dos casos. No delivery, as empresas pagam uma comissão muito avultada às plataforma­s de entrega de refeições e a maioria não tem margem sequer para fazer face a estas comissões. Na primeira fase, estas modalidade tiveram importânci­a pois permitiram escoar stocks, mas é meramente residual, até porque, se vamos confinar muita gente estará em teletrabal­ho, há proibições de circulação. Não é a manutenção destas modalidade­s que vai salvar o setor.

Além da linha à tesouraria, que outras medidas defende?

Tesouraria das empresas e manutenção de postos de trabalho são as duas áreas mais importante­s. Tesouraria porque as empresas continuam com custos fixos, como as rendas. No estado em que nos encontramo­s já não chega dizer que temos um apoio à manutenção dos postos de trabalho parcial, isto é, os trabalhado­res recebem, e bem, os 100%, mas a empresa tem de ser responsáve­l por parte do seu salário. Já não há capacidade, vamos encerrar. Se no primeiro estado de emergência, quando confinámos as empresas ainda tinham hipótese de ir buscar reservas e foi possível pagar parte dos salários mesmo fechadas, agora não será. São muitos meses de redução ou quase ausência de faturação. As empresas não têm mais reservas.

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