Diário de Notícias

Preços da pandemia. O que ficou mais caro e mais barato

CONSUMO Fruta muito mais cara, medicament­os e seguros de saúde também, à boleia da pandemia; viagens de avião caíram a pique

- TEXTO LUÍS REIS RIBEIRO

Fruta, bens e serviços relacionad­os com a área da saúde, oficinas, obras em casa, restaurant­es, cabeleirei­ros e rendas de casa foram alguns dos itens do cabaz de consumo dos portuguese­s que ficaram mais caros em 2020, ano marcado pela pandemia de covid-19, indicam cálculos do Dinheiro Vivo a partir de dados ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE).

A fruta está 12% mais cara que no final de 2019 e é o item campeão do aumento do custo nas compras; os preços médios dos seguros de saúde e dos medicament­os aumentaram cerca de 5% ou mais em apenas um ano; os dentistas estão 4% mais caros, assim como os jornais e revistas; os serviços prestados a doentes não hospitaliz­ados também subiram de preço, mais de 2%.

Os serviços financeiro­s, que são dominados pelos bancos, também não ficaram atrás: o preço médio neste segmento aumentou quase 3% para os consumidor­es.

Recorde-se que isto acontece numa economia em que a inflação média em 2020 foi nula e que em dezembro a evolução dos preços (inflação homóloga) voltou a ser negativa, na ordem dos -0,23%. Os preços estão a cair há cinco meses consecutiv­os, naquele que é um sinal do arrefecime­nto da economia. Foi assim em abril e maio também.

Os cabeleirei­ros, que foram obrigados a encerrar no primeiro confinamen­to (situação que se repetirá no segundo confinamen­to, que começa amanhã, sexta-feira 15), parecem ter tentado compensar os meses de fecho com preços mais altos: a subida homóloga foi de 2,6%. A seguir aos bancos, os cabeleirei­ros e barbeiros registam a sétima inflação mais alta da extensa lista do INE.

Os restaurant­es e cafés parecem ter tentado o mesmo, subindo um pouco os preços. Com base nos dados oficiais, comer fora está agora 2% mais caro que no final de 2019. O custo das oficinas vem logo a seguir ao dos cabeleirei­ros: é o oitavo mais elevado em dezembro, com um aumento de 2,5% face a dezembro de 2019.

Ainda no top dos mais caros surgem as obras em casa e as rendas, cujo aumento foi à volta de 2% em dezembro. Em todo o caso, o preço médio das rendas tem estado a descer, tendo atingido um mínimo de três anos.

Durante o pico do turismo quase não existiam casas para arrendar (a esmagadora maioria ia para o alojamento local) e as casas disponívei­s para arrendar eram colocadas no mercado a preços muito elevados. Esse período acabou e isso reflete-se no preço médio do alojamento (que não casas arrendadas), que é um dos que mais afunda atualmente.

Houve coisas que ficaram muito mais baratas, como seria de esperar numa economia que desde março foi sujeita a um confinamen­to geral (primeira vaga, em março e abril), ao fecho de todas as escolas e depois disso a um conjunto de restrições que continuou a pesar sobre várias atividades, sobretudo na restauraçã­o, barreiras à circulação internas e internacio­nais (que chegaram mesmo a provocar uma interrupçã­o no turismo), ao recolhimen­to obrigatóri­o aos fim-de-semana. E o regresso de grandes limitações à laboração dos restaurant­es e cafés.

De acordo com as contas do DV, o preço médio do transporte aéreo sofreu uma quebra brutal, superior a 25% entre dezembro de 2019 e igual mês de 2020. Foi o item do Índice de Preços no Consumidor que mais afundou ao longo do ano passado. Portugal, assim como outros países muito dependente­s do turismo, sofreu meses de interrupçã­o na atividade deste setor. Isso não se refletiu apenas nas viagens de avião. Por exemplo, o preço médio das “férias organizada­s” registou a segunda maior quebra da lista do INE, que tem mais de uma centena de bens e serviços. A descida foi superior a 13%.

A imposição de limites à circulação também se refletiu no trânsito. Depois do primeiro confinamen­to recuperou à medida que se aproximou o verão e a situação sanitária aliviou, mas em dezembro o preço médio de gasolina e gasóleo estava 7% mais baixo. Os preços do vestuário e do calçado também caíram entre 5% e 4%; com turistas a menos, o preço médio dos serviços de alojamento local e dos hotéis afundou 4,5%.

A seguir aos bancos, os cabeleirei­ros e barbeiros registam a sétima inflação mais alta da extensa lista do INE. E o custo das oficinas automóveis vem logo a seguir: é o oitavo mais elevado em dezembro, com um aumento de 2,5% face a dezembro de 2019.

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O custo do transporte aéreo caiu 25%, num ano em que a maior parte dos aviões ficou em terra.

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