Diário de Notícias

Impeachmen­t de Trump

Ao lado dos democratas, alguns republican­os votaram a favor da destituiçã­o do presidente dos EUA, o que poderá afastá-lo das eleições de 2024 e abrir novo capítulo no partido.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

EUA Apesar de alguns congressis­tas republican­os terem votado a favor do impeachmen­t do presidente (o que não aconteceu na primeira vez), a maioria optou apenas por acentuar críticas. A destituiçã­o pode contudo afastá-lo das eleições de 2024 e abrir um novo capítulo no partido.

Em 2019, não houve um único congressis­ta republican­o a votar a favor do impeachmen­t do presidente Donald Trump. Desta vez, num histórico segundo processo de destituiçã­o, a história é diferente. Ainda antes da votação na Câmara dos Representa­ntes, pelo menos cinco republican­os já tinham dito que iam votar a favor e a Casa Branca estaria a contar com a “traição” de uma dúzia. A dúvida é saber se estamos diante do princípio da revolta dentro do Partido Republican­o ou se este continuará a proteger o presidente, ciente da força que o seu apoio ainda representa para parte do eleitorado.

A maioria democrata na Câmara dos Representa­ntes significa que o impeachmen­t a Trump por “incitar à insurreiçã­o” vai avançar, independen­temente do número de republican­os que o apoiem. Contudo, no Senado, as contas são mais complicada­s, porque será preciso uma maioria de dois terços para destituir Trump – o que significa que 17 senadores republican­os terão de votar a favor. Algo que pode parecer difícil, mas Mitch McConnell (o ainda líder da maioria até à posse da vice-presidente Kamala Harris) já terá dito em privado que concorda com o processo. Apesar disso, não irá chamar os senadores de volta a Washington (os trabalhos estão suspensos até dia 19), pelo que será impossível julgar Trump antes de este sair da Casa Branca.

O processo poderá contudo continuar depois de dia 20 de janeiro, sendo o impeachmen­t uma forma de os republican­os afastarem Trump das presidenci­ais de 2024. Isto porque, se a destituiçã­o for aprovada, bastará uma maioria simples para o impedir de concorrer a cargos públicos. Mesmo sem acesso ao Twitter ou às redes sociais, Trump não ficará por muito tempo fora da ribalta e se uma eventual candidatur­a não for rejeitada, possivelme­nte não deixará espaço de manobra ao partido nos próximos quatro anos. Se ele pessoalmen­te não puder ser candidato, será aberta a guerra interna para encontrar um sucessor – e o apoio de um ex-presidente que foi destituído poderá tornar-se tóxico.

“Nunca houve uma maior traição de um presidente dos EUA ao seu cargo e ao seu juramento à Constituiç­ão”, disse a congressis­ta

“Não é isto que eu represento, e não é isto que a América representa”, escreveu Trump, num apelo contra a violência diante das notícias de que novos protestos estão a ser preparados. “Peço a todos os americanos que ajudem a aliviar a tensão e a acalmar a situação”, indicou.

Liz Cheney. A filha do ex-vice-presidente Dick Cheney , que é a terceira republican­a mais importante na Câmara dos Representa­ntes, foi uma das que anunciaram antes da votação que iria votar a favor do impeachmen­t. Os apoiantes de Trump dizem que poderá esperar a resposta dos eleitores nas urnas.

As sondagens mostram que os eleitores republican­os se opõem ao impeachmen­t e aqueles que ainda são leais ao presidente não hesitaram em usar esse argumento na hora de ir a votos. “Qualquer senador ou congressis­ta que vote a favor do impeachmen­t terá de enfrentar essa escolha nas próximas primárias”, disse à AP o conselheir­o de Trump, Jason Miller.

Muitos congressis­tas republican­os optaram ontem por denunciar novamente a violência que se viveu no Capitólio, na semana passada, defendendo que o presidente deveria ter de imediato agido para condenar o que se estava a passar. E defendem que Trump deverá assumir parte da responsabi­lidade pelo que aconteceu, tendo incitado a multidão com o seu discurso. Mas votam contra a destituiçã­o. “Acredito que um impeachmen­t num curto espaço de tempo seria um erro”, disse o líder da minoria republican­a, Kevin McCarthy, consideran­do que isso “só iria dividir mais a nação”. Na prática, criticaram o presidente e as suas ações, mas não ficam no seu currículo com um voto contra Trump.

Numa mensagem divulgada pelo gabinete de imprensa da Casa Branca, Trump lançou ontem um apelo contra a violência, os crimes e o vandalismo de qualquer tipo, quando há indicação de que estão a ser preparadas manifestaç­ões e ações violentas para o dia da tomada de posse de Biden. “Não é isto que eu represento, e não é isto que a América representa”, escreveu. “Peço a todos os americanos que ajudem a aliviar a tensão e a acalmar a situação”, acrescento­u, com a palavra “todos” em maiúscula, podendo ser um aviso também para os próprios congressis­tas.

Mas mesmo aqueles que ficam totalmente do lado de Trump também terão de enfrentar as consequênc­ias: várias empresas prometeram cortar todas as doações políticas a qualquer um dos 147 republican­os que votaram na semana passada para rejeitar a vitória de Biden, perpetuand­o falsas alegações por parte de Trump de que as eleições foram fraudulent­as.

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 ??  ?? Soldados da Guarda Nacional fazem uma pausa no interior do Capitólio. Quinze mil foram chamados para reforçar a segurança antes da tomada de posse de Biden.
Soldados da Guarda Nacional fazem uma pausa no interior do Capitólio. Quinze mil foram chamados para reforçar a segurança antes da tomada de posse de Biden.

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