Diário de Notícias

Plano para extinguir o SEF: investigaç­ão fica toda com a PJ

O SEF vai passar a chamar-se Serviço de Estrangeir­os e Asilo e todas as funções policiais passam para GNR, PSP e PJ, que fica com toda a investigaç­ão criminal.

- TEXTO VALENTINA MARCELINO

O SEF vai passar a chamar-se Serviço de Estrangeir­os e Asilo e todas as funções policiais passam para GNR, PSP e PJ, que fica com toda a investigaç­ão criminal. Principais linhas da reestrutur­ação estavam já no programa de governo, mas foi o caso Ihor Homeniuk que fez avançar agora o projeto .

O SEF tem cerca de 1800 trabalhado­res, dos quais à volta de mil estão na carreira de inspeção e fiscalizaç­ão. O governo quer dar-lhes opção de escolha para o novo destino.

Ogoverno quer mesmo extinguir o Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) e repartir as suas funções policiais pela Polícia Judiciária (PJ), a PSP e a GNR. Para as competênci­as administra­tivas (passaporte­s, vistos, autorizaçõ­es de residência, refugiados) será criado, na tutela do Ministério da Administra­ção Interna, um novo organismo: Serviço de Estrangeir­os e Asilo (SEA). As principais linhas da reestrutur­ação do SEF – um projeto que, apesar de estar no programa de governo, avançou na sequência do caso de Ihor Homeniuk, o cidadão ucraniano morto sob custódia deste serviço de segurança no aeroporto de Lisboa, em resultado do qual há três inspetores acusados de homicídio e mais nove com processos disciplina­res – foram apresentad­as nesta quinta-feira pelo ministro da Administra­ção Interna, Eduardo Cabrita, na reunião do Conselho Superior de Segurança Interna (CSSI), presidida pelo primeiro-ministro António Costa, que decorreu nesta quinta-feira no Palácio da Ajuda, em Lisboa.

O plano, que foi mostrado em Powerpoint e depois distribuíd­o em papel por todos os participan­tes – além de todos os comandante­s e diretores máximos das polícias e das Forças Armadas, os chefes das secretas e também as ministras da Presidênci­a, Mariana Vieira da Silva, da Justiça, Francisca Van Dunem, e os ministros da Economia, SizaVieira, e da Defesa, João Gomes Cravinho – vem confirmar o que o DN já tinha avançado a 15 dezembro passado, quanto à inevitabil­idade de toda a investigaç­ão criminal do SEF (imigração ilegal e tráfico de seres humanos) passar para a PJ, uma vez que este corpo superior de polícia já tem esta criminalid­ade nas suas competênci­as e a transferên­cia evitará uma alteração à Lei de Organizaçã­o e Investigaç­ão Criminal (LOIC).

Não houve qualquer objeção por parte dos presentes ao projeto partilhado por Eduardo Cabrita no CSSI e que reflete, de facto, o que estava previsto no programa de governo: a separação das funções policiais das funções administra­tivas de autorizaçã­o e documentaç­ão de imigrantes. Os únicos comentário­s vieram da parte dos dois deputados parlamenta­res com assento naquele órgão superior de consulta do primeiro-ministro. Fernando Anastácio, do PS, em apoio, e André Coelho de Lima, do PSD, para assinalar a coincidênc­ia desta reforma com o caso Ihor ter começado a marcar a agenda mediática a partir de final de novembro (designadam­ente com as notícias do DN) e, na sua opinião, refletir um reconhecim­ento que aquela conduta não se tratou apenas de um caso pontual no SEF.

Nas funções policiais, além da investigaç­ão criminal que passa para a PJ, liderada por Luís Neves, o controlo de fronteiras e o controlo da atividade de estrangeir­os em território nacional terão também novos protagonis­tas: assim, a PSP, comandada por Manuel Magina da Silva, ficará responsáve­l pelas fronteiras portuárias e aeroportuá­rias e pela expulsão de estrangeir­os, em situação ilegal ou com condenaçõe­s judiciais, do território nacional; a GNR, comandada por Rui Clero, terá como novas atribuiçõe­s o controlo das fronteiras terrestres e marítimas, bem como a participaç­ão nas operações conjuntas de controlos móveis na fronteira, com as autoridade­s espanholas.

O novo SEA, segundo ainda o que foi distribuíd­o no CSSI pelo ministro Eduardo Cabrita, herdará todo o processame­nto dos pedidos de asilo e de nacionalid­ade, os pareceres sobre os vistos consulares e as autorizaçõ­es de residência. A renovação dos vistos de residência ficará a cargo do Instituto dos Registos e Notariado (IRN), na tutela do Ministério da Justiça.

Trabalhado­res escolhem

Todas estas transferên­cias de competênci­as envolvem uma redistribu­ição dos cerca de 1800 trabalhado­res do SEF – cerca de mil na carreira de inspeção e fiscalizaç­ão, perto de 600 no regime geral, e os restantes dirigentes, chefias, entre outras carreiras. Nos aeroportos está colocado o número mais elevado de funcionári­os (mais de 400), seguido da investigaç­ão criminal, que conta com cerca de oito dezenas de inspetores.

O governo quer que os profission­ais do SEF, qualquer que seja a carreira, tenham opção de escolha sobre o seu destino. Por exemplo, os da carreira de investigaç­ão e fiscalizaç­ão podem ser transferid­os para a PJ e ser integrados nas unidades de investigaç­ão criminal; para a PSP ou para o novo SEA. As carreiras do regime geral (parte documental) podem passar para o SEA ou para o IRN.

De acordo com o calendário apresentad­o ao CSSI, o governo pretende que, no próximo dia 21, seja já aprovada uma Resolução de Conselho de Ministros com as principais orientaçõe­s para esta reestrutur­ação e que até à segunda quinzena de março sejam aprovadas as alterações orgânicas na PJ, na PSP e na GNR sobre o regime de pessoal e a lei orgânica do SEA. Até ao final do primeiro semestre deste ano devem estar concluídas todas as transferên­cias de funções e de pessoal. Até ao final do ano todos os trabalhado­res do SEF devem escolher a sua integração nos quadros de GNR, PJ, PSP, IRN ou Alto-Comissaria­do para as Migrações.

Esta reestrutur­ação está a ser conduzida pelo ex-comandante nacional da GNR, tenente-general Botelho Miguel, sob orientação política do governo, que substituiu Cristina Gatões, a ex-diretora do SEF demitida na sequência do homicídio de Ihor Homeniuk.

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O controlo de fronteiras terrestres, da responsabi­lidade do SEF, passa para a GNR.

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