Diário de Notícias

Viajar é preciso

- Cristina Siza Vieira

Neste momento de paragem, fechados os países, fechados em casa, privados da liberdade de “embalar a trouxa e zarpar”, perguntamo­s: quando voltaremos a viajar? E quem irá viajar primeiro? Os já vacinados, com um carimbo num passaporte de vacinas? Os testados? Que restrições serão impostas? E será cada país por si ou haverá coordenaçã­o, pelo menos na União Europeia a 27?

E se estas perguntas nos assaltam, empresário­s e governos em todo o mundo fazem outras tantas. E fazem contas à vida. A que ritmo vai recuperar o turismo e quem estará na linha da frente? O que recuperará primeiro, o turismo de lazer ou o turismo de negócios? Que gerações sairão primeiro e de que forma irão fazer a busca de destinos e marcar as viagens? Irão valorizar a segurança sanitária acima das preocupaçõ­es com a sustentabi­lidade? Em que medida irá o digital marcar o futuro deste negócio? Ganharão as plataforma­s de intermedia­ção ainda maior peso?

É natural que o tema suscite debate e interesse intenso. O turismo é não só uma indústria que trabalha para a paz, e por isso deve ser acarinhada, como tem um peso enorme em quase todos os países, dos mais aos menos desenvolvi­dos. Peso pelo volume de emprego que gera (em 2019, um em cada dez no mundo; 11,2% do emprego na União Europeia); pelo relevo económico (terceira maior indústria exportador­a, a seguir aos combustíve­is e à indústria química. 9,5% do PIB total da União Europeia); pelo volume de empresas, sobretudo micro e PME; pelos efeitos indiretos que induz em tantas outras atividades e setores.

Por isso, a preparação e a gestão da retoma do turismo para os tempos que aí vêm é incrivelme­nte exigente: passa por decisões políticas, especialme­nte na Europa, primeiro destino turístico internacio­nal; antecipar as tendências da procura; gerir a concorrênc­ia (feroz, entre países e entre empresas); apoiar os diversos operadores que compõem a oferta de bens e serviços prestados no turismo; acautelar e preservar a saúde das empresas (a par da saúde dos cidadãos).

É muita coisa, portanto o melhor é irmos por partes.

Mas primeiro reconhecer que em Portugal o setor do turismo é a maior atividade económica exportador­a. Em 2019 foi responsáve­l por mais de metade das exportaçõe­s de serviços e por quase 20% das exportaçõe­s totais. Foi a origem de 19,1% da riqueza produzida, de acordo com o relatório do World Travel & Tourism Council, que apontava Portugal como o quinto país onde é mais forte a contribuiç­ão do turismo para o PIB. Nesse já saudoso ano, o turismo atingiu números expressivo­s, com especial destaque para o aumento de emprego (com um peso de 6,9% na economia nacional: 336,8 mil empregos diretos); pelo ritmo de cresciment­o das receitas turísticas e dos proveitos globais, mais acelerados do que o aumento de dormidas; diversific­ação de mercados e cresciment­o mais acelerado do mercado interno em relação ao mercado externo.

Merece, sem qualquer dúvida, a maior das atenções. E sem complexos! Ter um setor com esta força e cresciment­o deve-se às nossas qualidades intrínseca­s como país e ao muito trabalho e saber que levou a fazer de Portugal um destino turístico que ganha prémios e reconhecim­ento internacio­nal, e aproveitar a nosso favor o cresciment­o global dos movimentos turísticos internacio­nais.

Daí haver que procurar possíveis respostas às questões que enumerei atrás. Hoje fico-me pela primeira: quando voltaremos a viajar, porque a resposta é mais simples e direta: voltaremos a viajar quando nos for restituída a liberdade de circulação que a covid-19 nos retirou.

Portanto, quando a pandemia for controlada e a estabilida­de, a segurança e a confiança que tínhamos por certas voltarem. Porque a vontade está cá. Mais do que nunca, alimentada pela ânsia de tão longo fechamento. E, como desde sempre aconteceu, iremos à procura do mundo.

Prometo voltar às outras perguntas em próxima oportunida­de. Com as possíveis respostas.

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