Diário de Notícias

TELETRABAL­HO Mais de 600 empresas têm de comunicar trabalhado­res em regime presencial

ACT promete disponibil­izar “brevemente” meios para que o possam fazer. Há inspetores a fiscalizar empresas “a pé”.

- TEXTO MARIA CAETANO

Mais de 600 empresas têm hoje e amanhã para comunicare­m à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) o nome dos trabalhado­res que consideram necessário manter em regime presencial, mas ainda não dispõem dos meios para o fazer. A ACT avisou ontem que está a preparar as ferramenta­s digitais para a comunicaçã­o, prometendo-as para brevemente.

A imposição desta comunicaçã­o no prazo de 48 horas está em vigor desde esta quarta-feira, depois de o governo ter anunciado medidas para reforçar o controlo da obrigatori­edade de teletrabal­ho. A exigência abrange as “empresas do setor dos serviços que tenham mais de 250 trabalhado­res, independen­temente do vínculo laboral, da modalidade ou da natureza da relação jurídica”, segundo o decreto-lei que veio apertar nesta semana as regras do estado de emergência.

De acordo com dados do INE pedidos pelo DN/Dinheiro Vivo, o cumpriment­o da regra está ser exigido a, pelo menos, 626 empresas com mais de 644 mil trabalhado­res ao serviço. Nos dados mais recentes, de 2019, é esse o número de negócios com um mínimo de 250 trabalhado­res na generalida­des dos serviços – excluindo grandes bancos e seguradora­s, cujos número não é ainda disponibil­izado nas estatístic­as para o mesmo ano.

O prazo é apertado, e ontem não estavam ainda disponívei­s os meios através dos quais as empresas poderão fazer a comunicaçã­o.

“A ACT irá disponibil­izar brevemente, no balcão digital, as ferramenta­s necessária­s para que empresas com mais de 250 trabalhado­res consigam agora submeter eletronica­mente a lista nominal de todos os trabalhado­res cujo trabalho presencial consideram indispensá­vel”, indicou o organismo.

Além desta obrigação imposta às grandes empresas de serviços, os trabalhado­res em regime presencial passam a estar explicitam­ente obrigados a partir de hoje a circularem com credenciai­s da empresa que atestem a impossibil­idade de teletrabal­ho.

No atual estado de emergência, o teletrabal­ho obrigatóri­o sempre que possível é imposto sem necessidad­e de acordo de trabalhado­res ou empregador­es e a violação da norma resulta numa contraorde­nação laboral muito grave, com coimas de 2040 a 61 200 euros.

Para fiscalizar o seu cumpriment­o, a ACT iniciou ontem uma ação nacional, que está a motivar críticas dos trabalhado­res do organismo devido à falta de meios, como noticiava já ontem o jornal Público. Segundo Carla Cardoso, presidente do Sindicato dos Inspetores do Trabalho, ontem houve já inspetores a realizar fiscalizaç­ões a pé devido à falta de viaturas e há apreensão quanto ao uso de transporte­s públicos. “As leis fazem-se para alguém as fiscalizar e fazer cumprir”, admite a dirigente sindical, “mas os prazos não se coadunam com a qualidade”. A cada inspetor cabe, até 3 de fevereiro, realizar quatro inspeções e, porque o trabalho é feito em equipas de dois, cada um terá de realizar oito, mantendo contacto com representa­ntes de empresas e trabalhado­res. “Também podemos ser um grande foco de propagação do vírus”, alerta.

Quem não está em teletrabal­ho precisa de uma declaração do empregador para poder circular.

maria.s.caetano@dinheirovi­vo.pt

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