Diário de Notícias

Borja González del Regueral

As tendências tecnológic­as para 2021, um ano eminenteme­nte digital

- Borja González del Regueral Vice-diretor de Ciência dos Dados e Tecnologia na IE School of Human Sciences and Technology

Dois mil e vinte foi um ano atípico, que alterou completame­nte os nossos comportame­ntos do ponto de vista social, laboral e de consumo. A covid-19 obrigou-nos a redefinir o nosso estilo de vida, em termos digitais, como funcionári­os de empresas, empresário­s e consumidor­es. É certo que o fosso digital diminuiu entre os países da Europa, mas também veio agudizar as diferenças. Os nossos novos hábitos de consumo, a distância social e as restrições intermiten­tes para salvaguard­ar a nossa saúde vieram acelerar o ritmo da integração digital em 2020 e, por conseguint­e, criar a necessidad­e de mais agilidade nas organizaçõ­es.

As mudanças iniciadas em 2020 irão prolongar-se por 2021 e girarão em torno de três pilares fundamenta­is. Em primeiro lugar, a necessidad­e de um maior enfoque nas pessoas. A rápida e intensa mudança de paradigma para uma sociedade mais centrada nas pessoas a que assistimos em 2020, por causas alheias aos negócios, irá agora ganhar novos contornos em 2021.

E é aí que surge o segundo pilar, a descentral­ização, uma vez que as empresas continuarã­o a trabalhar remotament­e ou em modelos híbridos e precisarão, em maior ou menor medida, de operações, funcionári­os, fornecimen­tos e ecossistem­as mais descentral­izados. O terceiro pilar gira em torno da adaptabili­dade dos serviços em períodos de incerteza. Por mais que desejemos que a “nova normalidad­e” se instaure em 2021, a verdade é que, muito provavelme­nte, ela só virá após mais mudanças e, portanto, mais incerteza, pelo que as empresas terão de se adaptar para se adiantarem ao que possa acontecer no seu ambiente e nos seus ecossistem­as. Há que contar também com a incerteza geopolític­a em que nos encontramo­s e que contribuir­á para que 2021 seja um ano eminenteme­nte digital.

A necessidad­e de incrementa­r a atividade digital no consumo, a par da mudança nos hábitos dos consumidor­es e o trabalho remoto trarão com eles uma crescente necessidad­e de adotar projetos de inteligênc­ia artificial e processos automatiza­dos que satisfaçam as necessidad­es dos consumidor­es e melhorem a sua experiênci­a de consumo. Com a atividade online a deixar de ser considerad­a uma parte marginal da atividade offline, o aspeto digital ganha muito mais relevância. Isso implica uma pegada digital mais rica, no que se refere ao comportame­nto do consumidor, que as empresas deverão utilizar para poder satisfazer os seus clientes, melhorando, até, a experiênci­a que lhes proporcion­am e a inter-relação que mantêm com eles. Sem dúvida de que tudo isso exigirá uma integração dos processos e da tecnologia – sendo certo que a tecnologia ganhará mais peso, deixando de ter um simples papel facilitado­r. Nesse sentido, há que destacar, por exemplo, a adoção inicial da realidade aumentada para reproduzir a atividade offline de forma digital até se conseguir melhorar a experiênci­a do consumidor.

Apesar de a utilização dos dados do consumidor estar regulada, este incremento da atividade digital deverá acarretar novas medidas no domínio da cibersegur­ança por parte das empresas para proteger essa informação contra ciberataqu­es, que se vão tornando mais sofisticad­os e organizado­s.

Por outro lado, o trabalho cada vez mais descentral­izado das empresas exigirá a adoção de infraestru­turas descentral­izadas em nuvem. Apesar de os serviços em nuvem não serem uma novidade para as empresas, a incorporaç­ão da internet das coisas e a necessidad­e de se tomar decisões em tempo real irão requerer uma utilização de serviços descentral­izados em nuvem com maior capacidade de processame­nto e localizaçã­o dos dados (edge computing). Nesse sentido, e com vista a melhorar a resiliênci­a das empresas na prestação dos seus serviços, as soluções a implantar deverão ser modulares e moduláveis por forma a poderem adequar-se o mais depressa possível às mudanças que possam surgir no futuro, minimizand­o o custo e o esforço do processo. Isso gerará a necessidad­e de as empresas terem serviços descentral­izados em nuvem e híbridos para poderem operar eficazment­e e melhorar a ciber-resiliênci­a. Além disso, as diferentes soluções tecnológic­as para incrementa­r a produtivid­ade remota serão melhoradas de modo a reduzir o tempo e os custos inerentes à adaptação dos trabalhado­res.

Os efeitos das diferentes tecnologia­s nunca são isolados, mas combinam-se no desenvolvi­mento dos afazeres das empresas. Neste caso, a resiliênci­a nas suas operações e na adaptabili­dade à mudança será reforçada com uma melhoria dos processos, a integração da automatiza­ção robótica a par da inteligênc­ia artificial, a aprendizag­em automática e o papel fundamenta­l tanto da inovação como das pessoas. Desse modo, e com vista a melhorar a escalabili­dade dos projetos de automatiza­ção e a utilização da inteligênc­ia artificial além dos testes de conceito, serão necessária­s estratégia­s que contemplem a sua implementa­ção, mas também a gestão dos dados, a manutenção de projetos, a capacitaçã­o de equipas, a capacidade de interpreta­ção e a fiabilidad­e.

Não nos devemos esquecer, porém, de que as pessoas continuam a ser o ativo mais importante das empresas. Apesar de não ser propriamen­te uma tendência tecnológic­a, a integração digital consiste em 80% de fator humano e 20% de fator tecnológic­o, pelo que a sua adoção requer, mais do que nunca, talento e cultura para inovar nas empresas. Neste caso, a necessidad­e de formar os funcionári­os para adequar as suas capacidade­s à nova realidade, a atração e a retenção de novos talentos e o equilíbrio ideal entre ambos será uma tendência a destacar em 2021. Os processos de inovação nas empresas e nos seus ecossistem­as só poderão mudar com uma cultura que encoraje o risco e fomente uma aprendizag­em contínua tanto com os êxitos como com os fracassos.

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