Costa no PE sob pressão da direita europeia PRESIDÊNCIA
O primeiro-ministro defendeu uma Europa social, mas não escapou às críticas sobre a controvérsia da nomeação de José Guerra.
Bruxelas assistiu ontem a um debate acalorado, com os eurodeputados portugueses a protagonizarem uma discussão, em torno da controversa nomeação do procurador europeu. A discussão fez lembrar a Assembleia da República, mas o palco foi o Parlamento Europeu.
Quando o tom aqueceu, já António Costa tinha feito uma passagem pelos vários assuntos prioritários no âmbito da presidência portuguesa. Da agenda verde e digital ao pilar dos direitos sociais, até à política externa, com destaque para a necessidade de uma aproximação da União Europeia à “maior democracia” da região indo-pacífico, com uma cimeira marcada para o Porto, em maio.
O combate à pandemia e a recuperação económica e social marcam inevitavelmente todas as áreas de política nas prioridades da presidência portuguesa.
Costa pediu para que, a par da coordenação da vacinação e das estratégias de combate à pandemia, a nível europeu, “em paralelo”, se avance para a “execução dos instrumentos de recuperação económica e social”. Antes é preciso que cada um dos Estados membros conclua “os processos de ratificação da Decisão de Recursos Próprios e [vote] neste Parlamento o Regulamento que foi já acordado e, finalmente, aprove os vinte e sete Planos Nacionais de Recuperação e Resiliência”.
Mas, “falando de saúde”, atirou o social-democrata, Paulo Rangel, quando se dirigiu ao palanque – de onde intervinham os poucos deputados que optaram por estar fisicamente na sessão –, “tem algum plano para coordenar as respostas dos governos em sede de medidas de restrição?”, perguntou a António Costa.
“Se no Natal tivesse optado pela coordenação e tivesse seguido os exemplos francês, alemão, italiano, os números em Portugal não seriam tão trágicos”, afirmou, rematando com a questão: “Agora, que o mal está feito, está disposto a apostar nessa coordenação?”
Em tom mais agressivo
A partir daqui o debate mudou de tom. “O que vai fazer para garantir aos europeus que o dinheiro é bem gasto? Essa é uma das funções principais da Procuradoria Europeia – combater a fraude e a corrupção de fundos europeus”, atalhou Paulo Rangel, desafiando António Costa a dizer, “olhos nos olhos, acha mesmo que deputados de todos os partidos e de todos os Estados membros alinharam numa conspiração internacional contra Portugal, o estado e o governo português? Tem mesmo coragem de o repetir aqui, diante de todos?”
A resposta surgiu de imediato, pelo deputado socialista Carlos Zorrinho, o qual evocou a “experiência na política interna de Portugal”, para afirmar que “há quem não hesite em propagar ‘inventonas’ para enfraquecer a capacidade de cumprir a missão. E foi o que fez, aliás, na sua intervenção o deputado Paulo Rangel”.
Mais adiante, o socialista Pedro Marques acusou Rangel de “nacionalizar o debate e atacar o primeiro-ministro”, razão pela qual estava a “desafinar do resto da câmara”. “Registo com pesar esta escolha do PPE e do PSD, mas adiante, que este não é o tempo para a pequena política, porque a presidência portuguesa começa com grandes desafios”, lamentou Pedro Marques.
Para o deputado do Bloco de Esquerda José Gusmão, trazer um “debate nacional” para o Parlamento Europeu “revela absoluta ausência de agenda, nacional e europeia, de uma direita que só se agarra a casos e não debate nem as prioridades do país nem as prioridades da Europa”.
“Portugal orgulha-se da caminhada que fez desde 1974, para ser um país exemplar na proteção do Estado de direito.” António Costa Primeiro-ministro de Portugal
“Estou ansiosa para a cimeira social no Porto, em maio, onde poderemos passar uma mensagem unida juntamente com os sindicatos, de empresários, parceiros sociais e instituições da UE.” Ursula von der Leyen Presidente da Comissão Europeia
“Acha mesmo que deputados de todos os partidos e de todos os Estados membros alinharam numa conspiração internacional contra Portugal?” Paulo Rangel Eurodeputado
“É lamentável que alguns, felizmente muito poucos, queiram usar o palco do Parlamento Europeu para a sua pequena guerrinha política nacional.” Pedro Silva Pereira Eurodeputado