Diário de Notícias

O modelo existente que associa democracia liberal e capitalism­o necessita de um profundo ajustament­o. As reivindica­ções dos cidadãos insatisfei­tos em boa parte do planeta têm vindo a aumentar ao longo dos anos e requerem respostas.

- Professora decana da IE School of Global and Public Affairs (IE University)

desta situação sozinhos e que só a sustentabi­lidade através do equilíbrio social, económico e ambiental poderá evitar males maiores. A crise da covid é outra chamada de atenção para encarar o futuro sob uma nova perspetiva.

Aquilo a que assistimos nas últimas semanas nos EUA é uma chamada de atenção para todos e um reflexo do estado de espírito que reina em muitas partes do mundo. Em finais de 2019 e inícios de 2020, vimos muitas pessoas a sair em massa às ruas em diferentes capitais para protestar contra os seus governos, mobilizada­s por diferentes causas, por vezes, irreconcil­iáveis, mas partilhand­o o objetivo de pedir mudanças e resultados concretos para os cidadãos. A pandemia e as restrições vieram cristaliza­r tudo isso, mas de certeza que, uma vez superadas as condiciona­ntes e medidos os efeitos da covid, as ruas voltarão a ser palco de protestos.

A pergunta basilar é se tudo isso, incluindo os mais recentes acontecime­ntos em Washington, não poderá reforçar valores e princípios, adequando os instrument­os disponívei­s às exigências do século XXI, com os EUA a recuperar o seu papel na comunidade internacio­nal ou se, pelo contrário, não poderá debilitar-nos, fazendo surgir questionam­entos com consequênc­ias difíceis de prognostic­ar, que fragilizem ainda mais o sistema. E, no pano de fundo, está a confrontaç­ão geopolític­a entre a China e os EUA, que condiciona­rá a dinâmica de diálogo e negociação. É nesse espaço que a União Europeia pode e deve tomar para si o dever de articular e construir pontes nas instâncias onde as diferenças pareçam irreconcil­iáveis.

Tudo sem perder de vista que há muitos atores – dos governos aos partidos ou aos movimentos e às redes sociais – interessad­os em propagar modelos alternativ­os. Alguns defendem uma visão arreigada de autoritari­smo, que prioriza a eficácia dos resultados medidos exclusivam­ente em termos de desenvolvi­mento económico em detrimento de todas as consideraç­ões relativas aos direitos e liberdades.

A resposta final está por chegar, e a forma que assumir terá um impacte significat­ivo na redefiniçã­o do futuro a que aspiramos. Há demasiado em jogo para agirmos como meros espectador­es.

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