Diário de Notícias

De Moscovo ao Porto, da erudita ao pop

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1983

Nasceu em Moscovo, onde iniciou os estudos musicais aos 5 anos. no universo clássico, sempre tive um fascínio enorme pelo outro lado da música e pelos palcos grandes. O primeiro concerto a que assisti foi dos Take That, em Hamburgo, tinha para aí 12 anos. Mais tarde vi também os Red Hot Chilli Peppers, que me marcaram imenso. Mesmo na música que ouvia sempre fui muito variada, tanto gostava de Wu Tang Clan como de Sex Pistols, por exemplo. Mas gostar de é diferente de fazer. Quando é que essa vontade despertou?

Já fazia este tipo de música há muito tempo, mas se calhar nunca tinha tido coragem para a mostrar, porque é um grande desafio estar sozinha num palco, a comunicar com o público. Pelo menos a mim parecia-me, porque enquanto violinista não preciso de abrir a boca para estabelece­r essa comunicaçã­o. O maior desafio neste projeto foi mesmo o de conseguir comunicar, conseguir dizer aquilo que sinto, através da minha música. Comecei a criar os temas deste disco já há muito tempo, o tema Vera, por exemplo, foi composto já há muitos anos, quando participei num concurso que tinha o Ryuichi Sakamoto como jurado. Consegui chegar até à final, mas cheguei atrasada à última audição e ele ficou furioso, apesar de ter adorado a música [risos], como me disse mais tarde.

pop

Muitas das minhas influência­s vêm da música contemporâ­nea, sobretudo ao nível das texturas sonoras, do uso da voz, da estética do palco. Há toda uma bagagem trazida da orquestra que transpus também para a IAN. E depois há relação pessoal, adoro os meus companheir­os de orquestra. Apesar de sermos tantos e tão diferentes entre nós, nas nacionalid­ades, nas personalid­ades e até nas religiões, acabamos por funcionar como uma grande família, especialme­nte nos momentos menos bons. E foi por isso que fiz questão de incluir as suas vozes, em várias línguas, no meu espetáculo.

Como é que veio viver Portugal? ligados ao governo soviético, acompanhei de perto a perestroik­a e tudo o que o regime tinha de bom e de mau. A Rússia vivia naquela altura um período de grande instabilid­ade e a maior surpresa que senti, quando cheguei cá, foi perceber como funcionava um país democrátic­o. A liberdade de poder dizer o que eu queria, o facto de não haver censura, ter as portas abertas para o mundo, poder viajar livremente, tudo isso foi uma dádiva e fiquei muito feliz por ter vindo para cá. É claro que a adaptação não foi propriamen­te fácil, até porque aterrei cá no 9.º ano, a meio das cantigas de amigo e das cantigas de amor [risos], mas as pessoas são muito acolhedora­s, e eu também fiz um esforço para me integrar, o que tornou tudo muito mais fácil. Apesar de ter nascido na Rússia, hoje sinto que Portugal é o meu país.

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