Mulheres (ainda) afastadas dos lugares de decisão
Em Portugal apenas 26,6% das empresas têm uma liderança feminina. Um número abaixo da média europeia, do valor mínimo da paridade e dos 33,3% estabelecidos por lei.
Pode parecer um paradoxo dizer que a Europa está atrasada cerca de 60 anos no que concerne à igualdade de género quando há personagens como Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ou Angela Merkel, chanceler da Alemanha. Mas a verdade é que são duas exceções. Os vários estudos feitos sobre o tema provam isso mesmo: a Europa tem crescido apenas meio ponto percentual por ano, fixando-se nos 67,9 pontos (numa de tabela de 100). Suécia, Dinamarca e França são os países com melhores resultados, mas o realce vai para a Itália, Luxemburgo e Malta, dado serem os países que mais subiram no ranking (com valores avaliados a partir de 2010). Os dados que constam do Gender Diversity
Index [Índice de Diversidade de Género] de 2020, que avalia a igualdade de género em 600 empresas registadas no STOXX Europe de 17 países europeus, Portugal incluído, revelam que ainda existe uma elevada “sub-representação de mulheres em cargos de gestão de topo das empresas cotadas em bolsa na União Europeia (UE)”. Basta olhar para os números para nos apercebermos desta realidade. Sabendo que o valor mínimo de paridade é de 40%, o que dizer do facto de a média da União Europeia (a 28, ainda com Reino Unido) se situar nos 30%?
Portugal está ainda pior, 3,4 pontos percentuais abaixo da média europeia. Observando esses números, percebe-se que Portugal ainda está muito longe de sequer cumprir a lei que estabelece que as empresas públicas e as cotadas passem a cumprir 33,3% de cargos femininos nos conselhos de administração e nos órgãos de fiscalização. Sem contar que, em Portugal, as mulheres tendem a ocupar cargos não executivos.
Estes números reacenderam o debate sobre o tema da igualdade de género, considerado prioritário por Ursula von der Leyen e pelo Parlamento Europeu, que está a equacionar levar a cabo mais ações regulatórias no sentido de aumentar a presença feminina na liderança corporativa.
Mas o que dificulta a subida das mulheres a lugares de topo? Para Mariana Branquinho da Fonseca, board member da PWN [ProfessionalWomen’s Network] Lisbon, organização sem fins lucrativos integrada na PWN Global e dinamizadora, em Portugal, do Gender Equality Awards 2020, existem três fatores que justificam este “atraso”. Por um lado, as mulheres partem de “uma situação de grande desequilíbrio e, por isso, por mais medidas e leis que existam, é preciso tempo”.
Não se trata tanto de estabelecer quotas (e de as cumprir), acrescenta, mas sim, e principalmente, de conseguir levar a cabo uma mudança de mentalidades. Por outro lado, convém assegurar a criação de talento. E garantir que as mulheres
Na União Europeia, a média de mulheres em cargos de gestão de topo é de apenas 30%. Portugal está ainda pior: 3,4 pontos percentuais abaixo da média da UE.
têm a possibilidade de adquirir e desenvolver competências e experiências que lhes assegurem uma carreira e, consequentemente, de conseguir um lugar de topo.
Tudo começa com um risco. Para Mariana Branquinho, os decisores “têm de arriscar, dar oportunidade a quem ainda não exerceu, contratar com base no potencial e não apenas na experiência adquirida”. Porque o mais difícil é “conseguir a primeira posição no topo de uma organização”.