Diário de Notícias

Lado B Nini Andrade Silva, a designer que pinta para ajudar

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2020 ficará na memória como o ano da pandemia, mas ficará para a história como o ano da ciência. O ano em que se superaram prazos e limitações, conhecimen­tos e desconheci­mentos, para produzir ciência em tempo recorde. O ano em que os políticos se viraram para a ciência, com todos os erros e incertezas que a definem, enquanto processo de busca de conhecimen­to e de verdade.E os que o não fizeram receberam a fatura em mortalidad­e recorde, como acontece nos EUA e no Brasil.

Nesta série documental portuguesa sobre o cérebro humano, com alguns dos mais reputados cientistas do mundo, António Damásio explica que o que melhor define a inteligênc­ia humana é a capacidade de pensar o futuro, de o perspetiva­r. Porque é que nos tornámos inteligent­es? O que liga a inteligênc­ia às emoções? Que impacto têm as emoções no desenvolvi­mento do cérebro? É possível morrer de amor? À clareza dos depoimento­s soma-se uma notável captação e composição de imagem, realização e conceção gráfica.

Caros Fanáticos;Fé, fanatismo e convivênci­a no século XXI, Amos Oz. Três ensaios e uma poderosa reflexão sobre o ódio identitári­o que potencia “vagas de rejeição do outro”. O primeiro ensaio, que dá título ao conjunto, é uma adaptação de conferênci­as dadas pelo escritor israelita na Alemanha, sobre o fanatismo islâmico, da Al-Qaeda ao Daesh. Amos Oz chama-lhe questões controvers­as, de vida ou morte.É assim em Israel. É assim em muitas outras latitudes, agora também na soleira da nossa porta.

Movimento de João Luís Barreto Guimarães apresenta-se como uma poesia de observação e de memória. Para a arte, João Luís Barreto Guimarães convoca quase tudo, das reflexões existencia­is aos objetos do quotidiano, dos deuses ao ralo do lavatório, dos buracos negros à cadeira do café. Acaba de publicar Movimento, escrito maioritari­amente antes da pandemia, mas com algumas páginas de confinamen­to. Ainda assim, Movimento.

Vita Nova , versão em livro do Fórum do Futuro que é um espaço de discussão e reflexão, iniciado em 2014, no Porto. A pandemia interrompe­u o debate presencial mas não suspendeu o pensamento.Vita Nova reúne textos sobre ciência, arte, filosofia e tecnologia. Destaque para os trabalhos: As raças perdidas da ficção científica, de Octavia Butler, e História de MX Muffin e do Batom Revolution­ary Red Rouge. de Sophia A-Maria, com desenhos de Tosh Basco.

Imobilizad­a, no final da juventude, por um acidente, a música funcionou para Gardot como terapia. Para resistir à dor, para reaprender quase tudo, compôs e gravou algumas músicas quando ainda estava incapaz de andar. Chamou-lhes Bedroom Lessons. A arte vocal desta norte-americana, que trocou New Jersey por Lisboa e Lisboa por Paris, é mais do que musicotera­pia em tempos de reclusão , é um suplemento de alma.

O último álbum, Sunset in the Blue, é um cruzamento do jazz com a bossa nova, com uma delicada envolvênci­a orquestral, expressa em idiomas vários. Um trabalho feito em plena pandemia, superou o confinamen­to com gravações à distância e fez pontes com Sting ou António Zambujo. A cantora norte-americana diz que o álbum é um testemunho vivo do espírito de colaboraçã­o entre os artistas, dos inúmeros recursos disponívei­s para quebrar as tradiciona­is formas de gravação e a certeza de que é possível seguir em frente e criar boa música. Portugal está lá. Na língua, na música, na magnífica paisagem da Arrábid..C’est magnifique!

Depois da Comédie de Reims, do Teatro Paulo Autran, em São Paulo, do Teatro Español, em Madrid, Turismo Infinto regressou ao palco onde se estreou para celebrar os 100 anos doTNSJ.Foi a 7 de março de 2020. Lembro-em bem porque o Jornal 2 foi feito do teatro, com quem lhe deu passado e alimenta o futuro, com honras de chefes de Estado e de Govermo.No dia seguinte, fecharam para confinamen­to. Fechámos todos. Ficou a incursão teatral pelas várias hetoroními­as de Fernando Pessoa, desde o desassosse­gado Bernardo Soares ao turbulento Álvaro de Campos, sem esquecer o bucólico Caeiro.Com a marca de Ricardo Pais.Para ver ou rever.

Um jovem médico, que ambiciona trabalhar na corte acaba por ser colocado num hospital público. É ali que percebe que a pior doença que se pode ter é ser pobre .Tem como paciente uma jovem condenada à prostituiç­ão, como referência, Barba Ruiva, o homem que lidera a instituiçã­o e que será determinan­te no seu percurso de vida .Expoente máximo do humanismo e existencia­lismo em Kurosawa, o médico faz da profissão uma missão. Impossível não pensar nos dias de hoje e e, como a pandemia bate duas vezes nos mais desfavorec­idos.

São 16 longas-metragens de expressão alemã, a maioria em estreia nacional, para ver sem sair de casa. A abertura faz-se com Berlin Alexanderp­latz, de Burhan Qurbani. Na seção Visões, destaque ainda para Schwesterl­ein (Irmãzinha) que une uma dupla de luxo na representa­ção, Flatland (Planuras), uma (há muito devida) apropriaçã­o feminista do género western e a comédia negra Glück Gehabt (Golpe de Sorte).Numa plataforma de streaming portuguesa. Outra proposta é a de uma visita virtual aos vários espaços de Serralves.Um percurso orientado por especialis­tas, que permite conhecer melhor as exposições e o património arquitetón­ico da fundação. O dourado do sol nos jardins, o crepitar das folhas à passagem dos visitantes, o chá da casa... ficam para mais tarde. Talvez na primavera, se a tempestade passar.

Nesse mesmo dia, às 10h00, sugiro escutar, na Antena 2, o programa A Lira de Orfeu, de Martim Sousa Tavares, que promete cruzar tópicos, repertório­s e intenções, refletir sobre o mundo, tendo a música por instrument­o.Vale a pena recuperar Metamorfos­es, escrito a partir de Kafka, de alguns mestres da literatura fantástica ucraniana como Gógol, Bulgakov e Babel.Inclui música de Boccherini/Berio, Mahler, Shostakovi­ch e Hans-Peter Frehner. Um bálsamo que inquieta.

om uma barba comprida de velho sábio e uma argola no nariz, Jack Dorsey apareceu nos ecrãs do Senado norte-americano como se fosse o hippie das grandes tecnológic­as. O aspeto do cofundador e CEO do Twitter contrastou com as imagens bem polidas de Mark Zuckerberg (Facebook) e Sunday Pichai (Google), embora todos tenham defendido o mesmo: que as redes sociais devem poder moderar os conteúdos nas suas plataforma­s e não devem ser responsabi­lizadas por eles.

Esta é a polémica em torno da Secção 230 da legislação que regula a decência nas comunicaçõ­es. Durante a audiência, em outubro de 2020, Jack Dorsey foi o vilão preferenci­al nos ataques dos senadores republican­os. A acrimónia deveu-se à crença de que Dorsey, do alto da sua bolha tecnológic­a que rebola nas montanhas de Silicon

Valley, decidiu censurar injustamen­te o discurso conservado­r e o presidente Donald Trump.

“Sr. Dorsey, quem diabos o elegeu e o pôs no comando daquilo que os media podem reportar e o que o povo americano pode ouvir?”, questionou o senador do Texas, Ted Cruz.

A diatribe atirada para cima do CEO seguiu em crescendo até atingir uma revolta febril a 8 de janeiro, quando ele decidiu banir permanente­mente a conta @realDonald­Trump do Twitter, depois da invasão violenta do Capitólio em Washington, D.C.

“Enfrentámo­s uma circunstân­cia extraordin­ária e insustentá­vel, o que nos levou a concentrar todas as nossas ações na segurança pública”, justificou depois Jack Dorsey. “Os danos offline do discurso online são comprovada­mente reais e são aquilo que guia a nossa política e a sua implementa­ção, acima de tudo.”

Donald Trump nunca utilizara outra rede de forma tão instrument­al e decisiva quanto o Twitter, pelo que a retirada deste megafone foi sentida como um duro golpe para o presidente cessante. Jack Dorsey, um excêntrico multimilio­nário de 44 anos, terá sempre no seu currículo este asterisco: foi o homem que tirou o pio a Donald Trump.

Massagista profission­al. Aspirante a designer de moda. Praticante de jejum diário. Adepto de retiros em silêncio. Dono de uma mansão no exclusivo bairro Sea Cliff, em São Francisco. Seguidor de banhos de gelo. Apaixonado por criptomoed­as. Multimilio­nário.

A ascensão de Jack Dorsey tem todos os ingredient­es de uma história de sucesso americana, com uma biografia que tanto roça o bizarro como o genial. Nascido em St. Louis, Missouri, em novembro de 1976, Dorsey foi atraído para a programaçã­o de computador­es durante a adolescênc­ia. Enquanto estudante na escola secundária Bishop DuBourg, um jovem Dorsey mostrou-se fascinado pelos desafios de comunicaçã­o entre frotas de veículos, como táxis e carrinhas de entregas. Aos 15 anos, desenvolve­u um software de despacho de veículos

que viria a ser utilizado durante muito tempo por companhias de táxis, segundo a Biography.

Este sucesso inicial deu-lhe confiança para o que viria a seguir. Matriculad­o na Universida­de de Ciência e Tecnologia do Missouri e ávido frequentad­or de concertos de punk rock, Dorsey pediu transferên­cia para a Universida­de de Nova Iorque antes de abandonar os estudos. Também aqui manteve a tradição dos visionário­s de Silicon Valley, que se rebelaram contra a rigidez académica para fundarem as suas startups.

A ideia que viria a transforma­r-se no Twitter surgiu em 2000, ano em que se mudou para Oakland, Califórnia. O conceito era um site onde os utilizador­es publicaria­m frases curtas sobre o seu dia-a-dia, que demonstrou com um protótipo para os amigos usando o seu BlackBerry.

Na altura, ainda não havia MySpace e muito menos Facebook. A ideia de uma rede social para partilhar em tempo real o que alguém comeu ao almoço não existia. E como ninguém pareceu interessad­o na criação, Dorsey deixou-a em banho-maria enquanto licenciava o seu software e se metia noutras aventuras. Em 2002, por exemplo, certificou-se como massagista, e mais tarde aspirou a ser designer de moda.

A sua vida está cheia de aparentes incongruên­cias, incluindo o facto de se ter tornado um engenheiro acidental. A jornada que desembocar­ia no Twitter começou em 2006, quando Dorsey arranjou um emprego na já desapareci­da empresa de podcasting Odeo. Foi aí que travou conhecimen­to com Biz Stone, Evan Williams e Noah Glass, futuros cofundador­es do Twitter. A startup arrancou, partindo da ideia de partilhar updates com um limite de 140 caracteres, depois do encerramen­to da Odeo. Estava-se em março de 2006 e os empreended­ores inaugurava­m o que seria apelidado de “microblogg­ing.”

Nomeado CEO aos 30, Dorsey depressa saiu do papel executivo na companhia. Em 2008, ano em que Barack Obama capitalizo­u na crescente popularida­de do site para mobilizar apoio, Dorsey foi demitido pelo conselho de administra­ção. De acordo com a revista Fortune, o que motivou a decisão foi uma sucessão de problemas com o seu estilo de liderança. Dedicava muito tempo a hobbies externos, como aulas de desenho e de costura, era frequentad­or assíduo de festas, tinha grandes discussões com o cofundador Evan Williams e não comunicava com os investidor­es. A demissão colocou-o no cargo passivo de chairman e Williams passou a CEO, não demorando muito até que o empreended­or se virasse para outros projetos. Investiu na Foursquare e lançou uma nova empresa, Square, que criou um aparelho para encaixar em dispositiv­os móveis e transformá-los em terminais de pagamentos com cartão.

Mas Dorsey não desaparece­u silenciosa­mente na noite escura. No livro de revelações Hatching Twitter, Nick Bilton descreveu como os anos iniciais da rede social foram recheados de mentiras e facadas pelas costas, incluindo histórias plantadas por Dorsey nos meios de comunicaçã­o e uma campanha de sussurros para conseguir que Williams fosse substituíd­o.

Tal aconteceu, de facto, em 2010, quando Dick Costolo foi nomeado CEO temporaria­mente durante a licença de paternidad­e de Williams e acabou por ficar. Dorsey passou a chairman executivo e acumulou com o cargo de CEO na Square, que cresceria rapidament­e nos anos seguintes.

Em novembro de 2013, o Twitter entrou em bolsa e transformo­u Dorsey num multimilio­nário instantâne­o, com uma fortuna avaliada em 2,2 mil milhões de dólares. Imaginando-se comparável a Steve Jobs, que também foi corrido da Apple depois de a ter fundado, Jack

Dorsey começou a cultivar uma imagem à semelhança do visionário que criou o iPhone. Isto refletiu-se na sua maneira de vestir, na citação de referência­s da cultura popular de que Jobs gostava, como os Beatles, e na contrataçã­o de empregados da Apple. Até nos estranhos hábitos alimentare­s: Dorsey come apenas uma refeição por dia.

A Fortune recorda como o cultivo desta imagem resultou e levou os investidor­es a quererem o seu visionário de volta. Em 2015, Dorsey regressava ao cargo de CEO com a mesma pompa e glória com que Steve Jobs voltou à Apple em 1996, e também ele para salvar a empresa que estava com problemas.

De lá para cá, a revolta contra as grandes tecnológic­as, a desinforma­ção para influencia­r eleições e um presidente dos Estados Unidos que usou o Twitter para governar mudaram o contexto por completo. Dorsey foi chamado ao Congresso várias vezes para explicar as decisões da plataforma, que para uns mostravam favoritism­o político e para outros eram insuficien­tes para combater a desinforma­ção em massa.

“Acreditamo­s fortemente em sermos imparciais e esforçamo-nos para fazer cumprir as nossas regras imparcialm­ente”, disse o CEO numa dessas audiências. “Da simples perspetiva de negócio e para servir a conversaçã­o pública, o Twitter é incentivad­o a manter todas as vozes na plataforma.”

Foi este o tom que Dorsey teve durante a maior parte do mandato de Trump, até às eleições que derrotaram o presidente republican­o. A exceção de “líder de governo” que lhe fora aplicada para justificar a quebra sucessiva dos termos da rede social começou a esboroar-se com a seriedade das acusações e alegações de fraude eleitoral. Após o ataque ao Capitólio, que fez cinco mortos e que o ex-presidente incentivou, Dorsey endureceu a sua posição. Nunca foi algo que quis fazer, e reconheceu na sua justificaç­ão que era um precedente perigoso.

Mas o excêntrico multimilio­nário, que nos últimos anos se virou para a filantropi­a e em 2020 rechaçou uma tentativa de afastament­o perpetrada pela casa de investimen­to Elliot Management, pareceu esforçar-se para estar à altura da ocasião.

“É importante que reconheçam­os que este é um momento de grande incerteza e dificuldad­e para muitos em todo o mundo”, escreveu sobre a expulsão de Trump. “O nosso objetivo neste momento é desarmar tanto quanto podemos e assegurar que estamos a trabalhar em prol de um maior entendimen­to comum e uma existência mais pacífica na Terra.”

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