Biden tomou posse para alívio dos europeus, mas é preciso ir além do desanuviamento diplomático para traçar uma agenda comum, muito assente na evolução do eixo Washington-Berlim. É também aqui que o futuro da democracia portuguesa se jogará.
terreno perante o avanço internacional do autoritarismo e do capitalismo de Estado. Acelerar a inserção de Taiwan nos fóruns internacionais é outro objetivo, reforçado pelo convite ao seu representante diplomático em Washington para estar presente na investidura de Biden, o que aconteceu pela primeira vez na história. Destas distintas abordagens euro-americanas resulta uma conclusão: para que a influência sobre a China seja maximizada vai ser preciso fazer um caminho de aproximação entre os dois modelos: o europeu tornar-se menos cínico ou pragmático, o americano pautar-se por menos agressividade e cerco estratégico.
Objetivamente, é difícil dizer se existem sequer condições para um chão comum nestes primeiros meses de administração Biden. Talvez seja preferível não cristalizarmos nas posições de partida e focarmo-nos nos eixos onde o entendimento prático é exequível, sem estarmos reféns da realização de grandes encontros transatlânticos: massificação da vacina com cooperação industrial até ao verão, metas mais ambiciosas para a cimeira do clima em novembro, passos concretos na reforma da OMC e da Organização Mundial da Saúde, trabalhar um Acordo de Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento mais minimalista e que coloque a regulação digital no centro, assegurar a reeleição do secretário-geral da ONU ou assumir o desafio chinês no debate interno da NATO através da criação, como já aqui defendi, de um Conselho NATO-China.
A agenda transatlântica é imprescindível à coesão europeia e à superação de vários desafios da globalização. É também um contributo para ajudar a administração Biden, que, com um país ferido, precisa mais do que nunca que as alianças funcionem rapidamente e bem. As escolhas que Portugal fizer nestas várias frentes ditarão não só o seu lugar na indispensável relação com Washington, reaberta pelo Brexit e pela continentalização da política europeia, o seu espaço político na União Europeia, e a sua relevância geopolítica numa década marcada pelas tensões sino-americanas, pelas divergências europeias e pelo potencial africano.
Precisamos de discutir tudo isto com a responsabilidade que o momento histórico exige.