Diário de Notícias

Republican­os tentam adiar mas impeachmen­t de Trump avança

Nancy Pelosi vai entregar na segunda-feira os artigos da acusação no Senado. Mitch McConnell defendia que o processo de destituiçã­o devia arrancar só em meados de fevereiro.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Otiro de partida para o julgamento de Donald Trump no Senado dos EUA é dado na próxima segunda-feira, com a entrega da acusação de impeachmen­t por parte da líder da Câmara dos Representa­ntes, Nancy Pelosi. As regras dizem que os senadores devem quase de imediato focar-se neste tema, mas um acordo poderá adiar os procedimen­tos. O líder republican­o, Mitch McConnell, quer dar mais tempo à defesa de Trump para se preparar, enquanto o democrata Chuck Schumer poderá aproveitar para avançar no processo de confirmaçã­o da nova administra­ção de Joe Biden.

“Falei com a speaker Pelosi, que me informou que o artigo será entregue ao Senado na segunda-feira”, disse ontem Schumer durante uma intervençã­o nesta câmara. “Não se deixem enganar: haverá um julgamento no Senado dos EUA e um voto para condenar ou não o presidente”, acrescento­u, dizendo que “os senadores vão ter de decidir se acreditam que Donald John Trump incitou à insurreiçã­o contra os EUA”.

Em causa está a invasão do Capitólio no dia 6 de janeiro, durante a sessão de confirmaçã­o da vitória eleitoral de Biden, da qual resultaram cinco mortes. Horas antes, Trump tinha discursado para os seus apoiantes e voltado a reiterar falsamente que tinha sido ele a ganhar as presidenci­ais de 3 de novembro. A 14 de janeiro, a Câmara dos Representa­ntes aprovou com 232 votos a favor (incluindo de dez congressis­tas republican­os) e 197 contra o histórico segundo impeachmen­t – o presidente foi ilibado do primeiro, em fevereiro de 2020.

Trump já tinha os dias contados na Casa Branca, mas os especialis­tas dizem que o processo pode avançar mesmo depois de ele ter deixado a presidênci­a. Há, contudo, quem considere o contrário – os pais fundadores terão debatido o tema e optaram por não especifica­r na Constituiç­ão –, pelo que será de esperar que o caso acabe nos tribunais se o ex-presidente for condenado. Para tal, são precisos os votos de dois terços do Senado (67 dos cem senadores), sendo certo que os democratas são apenas 50.

Neste momento, segundo o The Washington Post, 42 senadores apoiam o impeachmen­t, 28 são contra, 19 estão abertos a ouvir os argumentos e a destituí-lo e 11 ainda não se pronunciar­am. Caso condenem Donald Trump, os senadores serão chamados a uma segunda votação, que pode passar com maioria simples. Aí vão decidir afastá-lo, ou não, de qualquer cargo público e de uma eventual candidatur­a presidenci­al em 2024.

Acordo difícil

O líder da minoria no Senado tinha sugerido adiar o processo de impeachmen­t de Trump até fevereiro. McConnell, que criticou o presidente e deixou a porta aberta à condenação, defendia a entrega da acusação ao Senado apenas a 28 de janeiro. E, depois disso, dar duas semanas de prazo para que a equipa de defesa de Trump pudesse preparar-se, já que o procedimen­to na Câmara dos Representa­ntes foi acelerado e decidido num só dia. O julgamento começaria então em meados de fevereiro, dando tempo para o Senado avançar com o resto das audiências de confirmaçã­o dos nomes da nova Administra­ção.

Mas os congressis­tas democratas, com Pelosi à cabeça, sempre defenderam que o processo devia avançar o mais rapidament­e possível, alegando que é impossível começar a unir o país – como Biden pretende fazer – antes de ultrapassa­r este obstáculo. A líder da Câmara dos Representa­ntes acabou por deixar passar a semana da tomada de posse do novo presidente antes de avançar no processo contra o anterior, na próxima segunda-feira. A entrega dos artigos desencadei­a a leitura das acusações e transforma de imediato o Senado num tribunal com cem jurados.

Não é claro, contudo, quando é que os argumentos iniciais vão ser ouvidos. O Senado está dividido (50-50), pelo que será preciso um acordo entre os democratas (que com o voto da vice-presidente, Kamala Harris, estão teoricamen­te em maioria) e os republican­os para decidir as regras do julgamento. Schumer e McConnell estão há dias a negociar o tema, além de outras regras do Senado, nomeadamen­te a possibilid­ade de dividir o tempo e tratar do impeachmen­t de manhã e continuar com as audições para dar a luz verde à administra­ção de Biden à tarde.

“Não pode haver um processo que seja insuficien­te e que negue ao ex-presidente um julgamento justo ou que prejudique o Senado ou a presidênci­a”, defendeu Mitch McConnell, acrescenta­ndo que o atraso também ajudaria a avançar na confirmaçã­o da administra­ção e no debate sobre o pacote de ajuda económica de 1,9 biliões de dólares que Biden quer aprovar para responder à pandemia de covid-19. Daí que alguns democratas estejam também abertos a esta ideia.

“Não se deixem enganar: haverá um julgamento [...] os senadores vão ter de decidir se acreditam que Donald Trump incitou à insurreiçã­o contra os EUA”, disse Chuck Schumer.

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Líder da maioria democrata no Senado, Chuck Schumer, tem negociado com o republican­o Mitch McConnell as regras do julgamento.

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