Diário de Notícias

Que fará agora o PSD? Primeiro teste nas autárquica­s

- TEXTO PAULA SÁ

Omodo como o PSD irá lidar com o resultado de André Ventura nas presidenci­ais começa a agitar o partido, até porque neste ano há novo ato eleitoral: as autárquica­s. E percebeu-se que o líder do Chega conseguiu chegar a vários tipos de eleitorado­s, mesmo em distritos onde era impensável, como os do Alentejo.

Miguel Morgado diz que Rui Rio dá sinais de ainda não saber como lidar com esta nova realidade política. Lembra que desde as legislativ­as de 2019 – em que o Chega teve 1,9% dos votos – Ventura multiplico­u por oito a sua força política agora nas eleições de domingo, ao atingir os 11,90%. “É realmente um grande cresciment­o”, reconhece o antigo assessor político de Pedro Passos Coelho.

Vai ao discurso da noite eleitoral de Rio para sustentar a sua tese de que o líder do PSD ainda está a digerir o aumento de votação do candidato da extrema-direita. “Disse que era extremista e radical, mas fez o elogio ao esmagament­o da extrema-esquerda, nomeadamen­te no Alentejo, o que aconteceu à custa de Ventura.”

“Chamo a atenção que André Ventura é o segundo classifica­do no Alentejo todo”, disse Rui Rio, e insistiu na ideia de que é “um candidato da extrema-direita” a passar o PCP onde o PS tem dificuldad­e e o PSD nunca se conseguiu implantar.

“Não percebi o que foi aquele discurso, porque se diz que Ventura é radical, não há entendimen­to possível com o Chega, a quem por outro lado elogia o feito político”, afirma Miguel Morgado, que ainda deputado do PSD se bateu pela “refundação” da direita portuguesa, com a criação do movimento “Nascidos a 5 de Julho” e que, inspirado em Sá Carneiro, contava com pessoas do PSD, do CDS, do Aliança e da Iniciativa Liberal.

O desafio está, na ótica de Miguel Morgado, já nas eleições autárquica­s de outubro, pois Ventura conseguiu boa votação em quase todos os distritos, mostrando que o Chega terá um impacto na próxima ida às urnas. “O PSD terá agora de fazer contas e perceber que sem coligações com o Chega poderá perder algumas câmaras ou não ganhar outras que desejava”, frisa o antigo deputado social-democrata.

Explica o sucesso eleitoral de André Ventura, mais do que pela defesa de ideias radicais – como a guerra aos ciganos ou a castração química, entre outras – pelo facto de ser “suficiente­mente elástico” e de se ter apresentad­o como “um martelo que as pessoas podem contar contra o seu podre favorito no sistema político”. Um “martelo” que, assim, “prega vários pregos” contra o sistema e se torna transversa­l, roubando eleitorado a todos os partidos. Miguel Morgado recorda o fenómeno político do Partido Renovador Democrátic­o (PRD), partido apoiado pelo antigo Presidente da República Ramalho Eanes, que em 1985, “do nada”, conseguiu 17,92% nas eleições legislativ­as. “Depois morreu, e não se sabe até quando o Chega durará, pois está muito dependente do seu líder e fundador”, diz.

PSD refém de Ventura

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal