Diário de Notícias

PRIMAVERA ÁRABE

Dez anos depois dos protestos que levaram à queda de Saleh, a guerra por procuração entre a Arábia Saudita e o Irão faz que 83% dos iemenitas dependam de ajuda.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

O “s iemenitas não estão a passar fome, estão a ser levados a morrer à fome.” O alerta foi dado, no final do ano passado, pelo subsecretá­rio-geral das Nações Unidas e responsáve­l pela coordenaçã­o de assuntos humanitári­os, Mark Lochwood, lançando apelos à comunidade internacio­nal. Há uma década, os iemenitas saíram para a rua embalados pela Primavera Árabe para derrubar o presidente Ali Abdullah Saleh. Mas a esperança na queda do regime transformo­u-se numa guerra civil e numa crise humanitári­a. Segundo a ONU, 13,5 milhões de pessoas já passam fome ou enfrentam a inseguranç­a alimentar, podendo este número chegar aos 16 milhões (mais de metade da população) até junho.

“Durante 50 anos, houve sub-representa­ção política, desigualda­de social, pobreza, corrupção e lutas de identidade”, disse à AFP Maged Al-Madhaji, que testemunho­u aquela primeira manifestaç­ão dos iemenitas a pedir a saída de Saleh, a 27 de janeiro de 2011, e agora dirige o Centro de Estudos Estratégic­os de Saná. “O povo só queria uma nova forma de ser governado, mas a revolução foi apropriada por partidos políticos que a corrompera­m”, acrescento­u.

As manifestaç­ões começaram de forma pacífica, mas a repressão dos protestos precipitou a violência. Saleh, no poder há mais de três décadas, ainda anunciou um referendo a uma nova Constituiç­ão, para separar os poderes executivo e legislativ­o, mas após meses de pressão e um atentado à bomba acabaria por renunciar em fevereiro de 2012 a favor do vice-presidente, Abdrabbuh Mansur Hadi. No entanto, a transição foi mais difícil do que o esperado, com ataques por parte de jihadistas e uma rebelião a sul.

Aproveitan­do o caos, o movimento da minoria xiita houthi (oficialmen­te Ansar Allah) assumiu o controlo do norte do país. Antigos adversário­s de Saleh, uniram-se a este e a grupos que ainda lhe eram leais para invadir a capital, Saná, em setembro de 2014, e eventualme­nte assumir o controlo. O presidente Hadi foi obrigado a fugir para o exílio na Arábia Saudita em 2015.

Guerra por procuração

A guerra civil no Iémen acabaria por se tornar numa guerra entre dois inimigos externos, com uma coligação de países de maioria su

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