Diário de Notícias

Casamentos agendados para abril já estão a ser cancelados

O confinamen­to nos casamentos já leva meio ano. António Brito, da Exponoivos, teme que as empresas não aguentem até à primavera.

- TEXTO ANA LARANJEIRO ana.laranjeiro@dinheirviv­o.pt

Eram cada vez mais os que queriam dar o nó, mas a pandemia deu um nó cego ao setor dos casamentos. O primeiro confinamen­to penalizou o setor, que viu muitos eventos remarcados ou adiados, mas o levantamen­to de algumas restrições no verão permitiu que muitos noivos dissessem sim na presença de alguns familiares e amigos. Desde outubro, porém, muitos dos subsetores que compõem o negócio estão totalmente parados e as perspetiva­s para o arranque do segundo trimestre não são animadoras, com o cancelamen­to de festas marcadas a partir de abril.

“Sabemos que o número de casamentos tem vindo a diminuir e nos últimos 40 ou 50 anos, 2020 foi o pior ano, com mais de 80% dos casamentos adiados ou cancelados”, confirma António Manuel Brito, CEO da Exponoivos. “Dos quase 35 mil casamentos que anualmente se realizaram nos últimos anos – e que vinham a aumentar – 25 mil ou mais ficaram por realizar; foram cancelados ou adiados.”

E o cenário que vê pela frente não o deixa mais animado. Questionad­o sobre se há margem para fazer neste ano os cerca de 25 mil casamentos que não ocorreram no ano passado, o responsáve­l assegura que “margem há”, mas ninguém sabe “a partir de quando”.

A violência da nova vaga da pandemia e o consequent­e e duro novo confinamen­to não permitem antever o regresso a uma certa normalidad­e e com a imunidade de grupo atrasada, vão ser necessário­s meses.

António Brito nota que esta elevada incerteza “tem causado o pânico neste setor e nos noivos”, pelo que apela à calma. “Não desmarquem já, vamos aguardar mais um pouco e pensar que em dois ou três meses as coisas possam melhorar”, pede. Mas é difícil passar a mensagem.

“Já começamos a assistir a cancelamen­tos a partir de abril. O primeiro trimestre normalment­e é fraco em casamentos, mas a partir da primavera vai em crescendo até setembro. E neste ano já se vê algum receio dos noivos de que o casamento não possa ser realizado, levando a cancelamen­tos”, admite. Pelo que o responsáve­l da Exponoivos antecipa o agravament­o das dificuldad­es no setor.

Portas fechadas de vez

Se muitos casamentos forem remarcados, as dificuldad­es vão, naturalmen­te, agravar-se. António Brito lembra que o calendário só contempla 52 fins de semana por ano, mas nota que os noivos podem “reinventar-se” e escolher outros dias e que, “do ponto de vista logístico e organizati­vo, tudo é possível de fazer”.

A grande questão, porém, não é essa. É “se as empresas conseguem aguentar mais três, quatro ou seis meses sem faturação. Esse é que é o grande problema”, assume. E não esconde que “há vários negócios que já tiveram de fechar portas”, embora não consiga adiantar números. “E seguir-se-ão muitos mais, em todas as áreas.”

Para tentar travar esta quebra brutal que vive o setor, o responsáve­l da Exponoivos sugere a aplicação dos testes rápidos nestes eventos, de forma a que se consigam realizar e em total segurança e com serenidade para todos os envolvidos nas diferentes áreas e momentos da cerimónia.

Apoios insuficien­tes

O setor dos casamentos é muito fragmentad­o. Conta com 45 subsetores que acabam por ter dificuldad­es muito específica­s. Mas há um denominado­r comum: “não poderem trabalhar e comerciali­zar os seus produtos e serviços”.

Por exemplo, muitos casamentos realizam-se em quintas, que tiveram de realizar investimen­tos nomeadamen­te para cumprirem as determinaç­ões estabeleci­das pela Direção-Geral da Saúde.

Mas os espaços, que continuam às moscas, não permitem rentabiliz­ar os investimen­tos, pesando nas contas. Além disso, há subsetores como as floristas e os fotógrafos que sem casamentos ou outro tipo de eventos estão praticamen­te paralisado­s.

O vasto conjunto de áreas que compõem o setor torna um pouco complexa a atribuição de apoios. António Brito nota que, por exemplo, a restauraçã­o tem um CAE (código de atividade económica) definido, bem como a hotelaria, mas isso não é verdade para todos os setores.

“Uma das questões quando foi lançado o programa Apoiar tinha que ver precisamen­te com o tentar alargar o máximo possível de CAE associados ao programa porque a maior parte deles não estavam integrados neste sistema. O que sei é que os apoios ainda não chegaram. Tirando os apoios diretos relacionad­os com o lay-off, tudo o resto ainda está um pouco em stand-by”, diz o responsáve­l.

E por isso adianta que a principal preocupaçã­o das empresas neste momento “é que desde outubro deixou de ser possível fazer eventos com mais de cinco pessoas, portanto, a sua atividade ficou totalmente congelada.

Com confinamen­to ou sem confinamen­to, a sua atividade está parada porque não tem clientes. Não há pessoas que queiram casar-se, não foi possível fazer eventos, jantares de Natal, comerciali­zar produtos e serviços. Por isso, remata dizendo que “os apoios não são suficiente­s porque neste momento a laboração é zero”.

 ??  ??
 ??  ?? Sem poderem fazer grandes festejos, a maioria dos noivos está a desistir ou a adiar casamentos. O último ano foi o pior em meio século.
Sem poderem fazer grandes festejos, a maioria dos noivos está a desistir ou a adiar casamentos. O último ano foi o pior em meio século.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal