Diário de Notícias

A fatura será paga pelos mais novos

- Joana Petiz

Não tocar, não brincar, não correr, não abraçar, não beijar, não sair, não conviver, não aprender. São prenúncio de desgraça os princípios que dominam a educação das gerações que crescem na Europa em pandemia. Não são só os mais pequenos, que hoje temos de persuadir a estar permanente­mente em casa, sem os amiguinhos, sem as lições e sem gastar energias. A quem temos de convencer que estão de férias quando é época de aulas – mas não podem fazer nada do que costumavam, no máximo jogar consola ou ver televisão – e a quem obrigaremo­s a passar horas à frente do computador a aprender a lição, quando deviam estar a brincar ao Carnaval. São também os adolescent­es que estariam a fazer amigos para a vida, a viver as primeiras paixões e corações partidos. São os universitá­rios que deviam estar a viver os melhores anos das suas vidas, entre festas e viagens de mochila às costas, sem medos e com poucos limites.

Os tempos são difíceis para todos e há decisões complicada­s que têm de ser tomadas em situações de emergência, perante casos graves e recordes de mortes por covid. Mas é bom que se perceba os efeitos de fecharmos o país em casa por causa da pandemia. Não apenas na fatura mortal que vamos pagar durante muitos anos – fruto de todas as outras doenças que não diagnostic­ámos, não detetámos, não tratámos –, no custo social dos milhares que vão perder o emprego, nas famílias que não vão ter como pagar as contas, nas empresas que vão ao charco.

Há ainda um preço muito caro e de efeito bem mais duradouro: o que pagam já as gerações mais jovens, inadaptada­s, receosas, deformadas na sua natureza por algo que não controlam, presas numa realidade que não entendem e da qual terão muita dificuldad­e em sair ilesas.

É fundamenta­l que se pense já em formas de compensar estes milhares de miúdos que caíram num buraco do qual não conseguem vislumbrar saída possível. Isolamento, depressão, incapacida­de de relacionam­ento, frustração, são apenas algumas das condições que estamos a deixar aos nossos filhos. Eles são o nosso amanhã. Temos de voltar a fazê-los felizes e realizados, sob pena de não termos futuro.

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